Até quando? Eu não sei...
Carlos Claudinei Talli
Na semana passada, no jogo Racing Santander 1 x 4 Barcelona, aconteceu um lance emblemático que mostra com clareza o jeito catalão de jogar futebol.
Pois bem, o volante Sérgio Busquets pegou a bola já no campo adversário, perto da risca de meio de campo, pelo lado esquerdo, e se viu cercado por 3 ou 4 jogadores do time contrário. Imediatamente, recuou a bola para o seu goleiro Victor Valdez, a mais de 50 metros, numa jogada que à primeira vista parecia sem cabimento.
Ato contínuo, o goleirão do Barcelona tocou a bola para o lateral esquerdo brasileiro Maxwell e este, em dois toques a enfiou para o mesmo Sérgio Busquets, exatamente no mesmo lugar em que a jogada se iniciara segundos antes. A diferença foi que agora o excelente volante do Barça estava desmarcado e pode dar uma nova direção ao lance. E o que ele fez? Um verdadeiro lançamento de uns 40 metros, rasteiro, em diagonal na direção da entrada da grande área adversária. E o que aconteceu? Zlatan Ybrahimovic, com apenas um toque, marcou um lindo gol por cobertura... E estamos conversados!
O bonito do jogo bem jogado é que ninguém, em sã consciência, poderia imaginar o final da jogada quando ela se iniciou, com a atrasada de bola para o goleiro , a 50 metros do gol catalão. O que parecia uma ação totalmente defensiva, talvez uma total falta de qualidade técnica, após a movimentação do time adversário para ocupar outros espaços, se mostrou de uma contundência ofensiva surpreendente. Quatro a cinco toques e... Golaço do Barcelona.
Essa jogada mostra como o futebol pode ser jogado de maneira inteligente. E futebol inteligente é aquele que não segue apenas uma direção, muito pelo contrário, utiliza todas elas, para a frente, para os lados e para trás. E muitas vezes, usando duas direções ao mesmo tempo, por exemplo, para a frente e para o lado, nos perigosos e mortais lances em diagonal. O antigo centro-avante do Barcelona, Samuel Eto’o, era useiro e vezeiro em marcar gols usando essas diagonais do ataque.
Entretanto, todas as vezes em que esse tema vem à baila, uma boa parte dos especialistas de futebol é unânime em assegurar que futebol verdadeiro sempre tem que ser jogado pra frente. E o Barcelona está aí desde os tempos do Johan Cruyf a mostrar a falácia desse tipo de argumento. É um time que troca passes em todas as direções, com uma posse de bola que geralmente fica entre 60 e 70%, em todos os jogos, esperando o melhor momento para fazer a jogada mortal, aquela que acaba dentro do gol adversário. Simples, ‘meu caro Watson’!
Esse é o jeito catalão de jogar futebol. E que jeito maravilhoso é esse!
Mas eu não tenho a pretensão de dizer que essa é a única maneira de se ganhar uma partida de futebol. Outros times jogam de forma diferente e também ganham jogos e campeonatos.
Inclusive, existe um modo contrário ao do Barcelona, e que também já se mostrou vencedor. Aliás, atualmente, outro grande time do futebol mundial se especializou neste jeito anti-Barcelona de jogar. E está há ‘trocentos’ meses sem perder. Quase em todas as partidas, não troca passes no seu meio de campo, não mantém por muito tempo a posse da bola – geralmente perde nesse quesito para o adversário -, praticamente só usa uma direção de jogo, só pra frente, e tem ganho quase todas as partidas. Até mesmo contra alguns adversários do primeiro escalão.
É, caros leitores, vocês já devem ter matado a charada. Qual é esse anti-Barcelona que também está se mostrando vencedor?
Será algum time inglês? Ou italiano? Ou outro espanhol? Alguma seleção que está disputando as atuais eliminatórias para Copa do Mundo da África do Sul?
Estão curiosos?
Então, aí vai... Se vocês disseram Seleção Brasileira do Dunga... Parábens... Acertaram!
Agora, até quando? Eu não sei...
|
