Mosaico
(LHenrique Mignone)
Dos tempos ora tão distantes de minha infância,
Guardei, não só no fundo da mente, mas da alma,
A imagem, o vulto, o ritmo suave do peito arfante,
O suprir e saciar divino de minha sede, em lactância,
O ritmo do coração pulsante que me envolve e me acalma.
Dos tempos idos - oh, que saudade - dos folguedos,
Quando era rei, era mocinho, era índio, era bandido,
Guardei a imagem da sombra protetora que, em instante,
Me acolhia nos braços se, em meu mundo de brinquedo,
Me via em perigo e me mostrava o rumo se perdido.
Dos tempos tão fugazes, de sonhos, da juventude,
Guardei o primeiro olhar, primeiro sorriso, primeiro beijo,
Escondido, tímido, meio sem jeito da primeira namorada,
junto, guardado bem lá no fundo do coração, de onde amiúde,
Trago à tona de minha face, o despertar do primeiro desejo.
Guardei de cada um dos amores amado, de cada lágrima sorrida,
De cada riso chorado, de cada suspiro enlevado, em pensamentos,
Que jamais serão esquecidas, para sempre serão também amadas,
Em cada um dos detalhes que hoje te compõem, te tornam única e querida,
Como todas elas o foram, como tu és hoje, cada qual a seu momento.
E hoje te vejo como a síntese de todas as mulheres que amei,
Em cada um de teus carinhos, com saudade, a mãe devotada,
Em teus seios onde sacio minha sede, em teus braços onde me acolho,
Em teus lábios rubros e frescos como flor, os que um dia beijei,
Em tuas mãos que percorrem meu corpo, suaves, macias, desvelada.;
Em teu sorriso amigo, em cada uma de tuas curvas feitas a compasso,
Onde me perco, em cada uma de tuas retas onde me vejo encontrado,
Em tuas coxas que me cingem em pleno cerco, no brilho de teu olho
Quando me vês, neste caminhar sem rumo que faço, passo a passo,
Em tua direção, lactente, infante, juvenil, homem, amante, amado. .
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