Eu escrevi este artigo em novembro de 2004, quando o Barcelona começava a se mostrar como o melhor time do mundo. Na seqüência ele viria a conquistar dois campeonatos espanhóis e uma Liga dos Clubes Campeões da Uefa, jogando o futebol dos sonhos dos amantes do futebol-arte. E o Ronaldinho Gaúcho, que hoje está em baixa, juntamente com o também craque Deco, seria considerado por dois anos consecutivos o melhor jogador do mundo, merecidamente. A reapresentação desta crônica é uma homenagem que presto a esses dois estupendos jogadores, num momento de vacas magras. Eu ainda acredito que eles vão dar a volta por cima. Quem já jogou futebol de ótima qualidade, nunca esquece. Olhem só o que eu pensava, e ainda penso, dos dois. E mesmo que o Ronaldinho nunca mais volte a ser o mesmo, a história do futebol não deve nunca ser esquecida. Infeliz o povo que se esquece dos seus ídolos!
Carlos Claudinei Talli
Jogadores que fazem a diferença
“No artigo da semana passada, eu fiz uma rápida alusão à grande exibição do fora de série Ronaldinho Gaúcho contra o Real Madri, lembrando que, naquela partida, ele só não fizera chover. Agora, eu achei que devesse me aprofundar mais nesse assunto.
Realmente, o nosso Ronaldinho mostra a cada jogo que, atualmente, é o craque que está jogando o melhor e mais bonito futebol do mundo. No trato com a bola, ele lembra monstros sagrados do naipe de um Ademir da Guia e de um Zinedine Zidane, sobre os quais já teci comentários em um outro artigo, e, hoje, acredito oportuno relembrar para homenagear esse gauchinho mágico, colocando-o em pé de igualdade com aqueles dois.
‘Eles conversam com a bola, e ela obedece aos seus desejos, parecendo mesmo um ser pensante, com sentimento e emoção. No futebol dos três tem hora pra tudo: hora de jogo rápido, hora de jogo cadenciado, hora de jogo sério, hora de jogadas de efeito, entretanto, tudo feito na hora certa, e sempre de uma maneira refinada. Por exemplo: uma ‘matada’ de bola no peito de qualquer um deles, não significa que ela morre. A bola apenas adormece, para, em seguida, acordar alegre como que saindo de um sonho mágico. E ela não adormece apenas quando toca o peito deles. Se bate nas costas, na canela, no joelho, na orelha ou em qualquer outra parte do corpo, simplesmente se aquieta, como uma criança quando se aproxima do seio materno. Às vezes, dá a impressão que eles a conduzem demais. Engano total. Ela que não os quer abandonar. Tal o amor que lhes devota. E se vocês imaginam que por todo esse refinamento o jogo desses monstros sagrados se torna ineficiente, se enganam mais uma vez. Poucos jogadores na história do futebol foram tão eficazes. Mesmo sendo meio-campistas, sempre marcam muitos gols. Sem eles, os times pelos quais passaram não teriam sido os mesmos. Outros jogadores podem até substituí-los, no entanto, sempre alguma coisa ficará faltando.’
Sim, o nosso Ronaldinho merece todos esses elogios e, muito mais!
No entanto, o Barcelona atual não é só o nosso gauchinho genial. E acredito mesmo, que se não fossem dois outros grandes jogadores, que muitas vezes passam despercebidos da grande mídia, a atuação do Ronaldinho talvez não mostrasse todo esse brilho. Aliás, apesar das suas estupendas qualidades, ele passou 2 anos no Paris St-Germain, e o seu futebol não brilhou tanto.
Eu estou me referindo aos meio-campistas Xavi e Deco. Que belos jogadores são esses dois. Eles se completam, nunca se omitem, se apresentam para o jogo nos momentos mais difíceis, e tornam o meio de campo catalão um setor de um volume de jogo invejável, com uma consistência capaz de dar a criação necessária para que o ataque se torne contundente, e a contenção suficiente que protege magnificamente a defesa. Inclusive, o jogo dos dois é bastante parecido, permitindo que eles se revezem nas inúmeras funções que um jogador de meio de campo competente tem que exercer.
Xavi, sem dúvida, é o melhor jogador espanhol da atualidade, e preenche o meio de campo com uma leveza e uma eficiência impressionantes.
Sobre Deco, eu vou reproduzir o que já coloquei nessa coluna ainda no tempo em que ele jogava em Portugal, e quando foi considerado o melhor jogador da Liga dos Clubes Campeões da Europa na temporada 2003/2004:
‘Falando em Deco, como está jogando esse brasileiro naturalizado português. É o maestro do time do Porto, um jogador ao mesmo tempo de excelente qualidade técnica e de uma raça que faz lembrar os melhores momentos do nosso inesquecível Dunga. Além disso, se mostra um meia-armador maduro, que sabe intercalar momentos de uma cadência necessária com outros de toques de primeira, lançamentos e enfiadas de bola que dão um ritmo veloz ao jogo. Mas, a sua principal qualidade, extremamente rara nos dias atuais, é uma liderança natural, conquistada pelo exemplo, pelo jogo solidário em prol do time. Enfim, é um craque completo’.
Agora, eu não poderia concluir este artigo sem fazer justiça a outros dois excelentes jogadores, que complementam magnificamente esse verdadeiro esquadrão. Estou falando do zagueiro Puyol e do centro-avante camaronês Samuel Eto’o que, sem qualquer sombra de dúvida, também são responsáveis pela dinâmica incrível que o Barcelona está mostrando, tanto no campeonato espanhol como na Liga dos Clubes Campeões da Europa.
E, para encerrar de vez, aqui vai a opinião de um jornal espanhol sobre Deco, na partida em que o Barça enfiou 3 x 0 no rival Real Madri:
‘Deco se erigió en el director de orquestra, en la presión y en la creación. Su clarividencia permitió al Barcelona tener mucha profundidad. Conectó bien con Eto’o y con Larsson, buscó a Belletti, se entendió con Ronaldinho y hoy fue el jugador que qualquier entrenador querría tener.’
Em tempo - opinião de Michel Platini, um dos maiores foras de série do futebol mundial em todos os tempos, emitida em 30/11/2004, sobre a Bola de Ouro 2003/2004: ‘Daria o prêmio a Deco por tudo o que ele ganhou neste ano. Além disso, este é o único critério válido para decidir quem merece’.”
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