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Poesias-->RÉQUIEM A UM IRMÃO -- 06/11/2002 - 04:43 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos










RÉQUIEM A UM IRMÃO

a VALDIR ANTÔNIO, meu irmão *





Cultivo um vento manso, intermitente,

embarcado no norte do silêncio.

Brisa singular, sem testemunhas,

rodopia de manhã sobre a janela,

em torno da qual ensaia em ré,

um réquiem no meio da primavera.



A convocar os naipes do passado,

é mais do que manso, intenso, aplainado,

de modo que alcance vez em quando

esse bando de pássaros em fuga.

E me faça serenizar mais que perplexo

o fim do dia que hospedei sem voz.



Era um domingo, dia de eleições,

saudável, ensolarado em seu sufrágio.

Um fim de tarde desses em que o sol

teima em pintar de fogo uma jornada.

O telefone tocara duas vezes, depois

que a derradeira urna se encerrara.



A essa reunião aportam más notícias

a entristecer a agenda que ocultara

o meu desejo, euforia anunciada

dessa democracia mais madura, ainda

que me faça calar tanta amargura:

meu irmão a morrer com o fim do dia..



Falecida, abrupta, inerte melodia

em compasso quaternário ad libitum

em meio ao alvoroço de um domingo

que se recusa a ocultar o instante,

debruçando-se demais no inevitável

e me apequena um débil sentimento.



No papel de maestro desse réquiem

está alguém sem fraque, sem bastão,

a reger de cor e salteado, a mesma

antiga e inalterável partitura

não carece de palco, estante ou platéia,

pois habituada a se manter oculta.







Eu, único irmão, comum, a toda hora,

pagino rigorosamente os dias,

em que juntos, a cantar unificados

a contemporânea canção que, à capela,

ressoava em cada trecho compassado

sob regência exclusiva do existir.



Certamente, além de biológica família,

és o amigo a quem a falta é dupla,

uma vez que é maior a dor que teço

sob a realidade hirta, imerecida

no tear imaginário em que a morte,

finge e se disfarça em vão, de vida.



Dizer-te adeus ressoa-me tão vago,

já que um dia ensaiamos a partida,

nosso comboio irmanado à hora incerta,

numa mesma estação impressentida,

resta-me apenas à mão, velha batuta,

como se a executar, pausa contida.

___________________________________

* 13.06.1045 . 27.10.2002.





WALTER DA SILVA

5 de novembro de 2002.

inserido em “OS RITOS DA AURORA” ®

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