Usina de Letras
Usina de Letras
60 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50641)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Estrada da Vida -- 28/06/2002 - 11:50 (Raquel Zanon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diná nasceu no meio do mato. Era um dia de muito sol, um calor infernal. A fuligem preta da queimada da cana-de-açúcar formava nuvens no céu que compuseram a primeira paisagem vista pela pequena Diná. Filha de cortadores de cana, a menina miúda soube, desde o dia em que viu a fuligem preta no céu, que aquele não seria o seu destino.
Seu pai, homem bruto e analfabeto, teimou que seu nome seria Diná porque ela se parecia com um dinossauro. Mas o pai de Diná nunca tinha visto um dinossauro. Sua mãe, mulher sábia, mas maltratada pela idade, deu à luz àquela criatura em meio ao trabalho.
Foi um sufoco para todos que presenciaram a cena. De repente, a cabecinha de Diná começou a aparecer entre as pernas de sua mãe, e a menina curiosa não esperou nem a chegada dos médicos. Nasceu ali mesmo, no meio dos canaviais, para ter a certeza, em seu primeiro suspiro, de que aquela não seria a sua realidade.
E sua certeza se concretizou. Nos primeiros anos de vida, enquanto esperava os pais chegarem da lida, tentava descobrir o mundo das mais variadas formas. O quintal de sua casa era uma verdadeira escola. Diná colecionava minhocas, tatu-bolas, aranhas, lagartos e pássaros. A prima mais velha, sempre que a visitava, levava livros para aprender um pouco mais sobre aquelas criaturas.
Quando finalmente foi para a sala de aula, as portas de uma nova vida se abriram. O resto foi fácil, o mais difícil foi convencer o pai que não queria cortar cana. Mas conseguiu. E ao sair do interior de São Paulo para estudar na capital paulista, Diná não se conteve de alegria e acabou descobrindo que o mundo era muito mais do que a fauna e a flora do quintal de sua casa.
Aos 15 anos, a menina miúda era muita maior do que seus pais imaginavam. Ela era do tamanho de seus sonhos, e seus sonhos não cabiam nas suas noites. E Diná sabia também que, quando deixasse de sonhar, deixaria de existir.
Lembrava, todas as noites, das palavras que sua mãe lhe disse quando decidiu partir para a cidade grande. A mulher bonita, mas maltratada pela idade, dizia que todas as pessoas têm muitas estradas na vida, mas somente uma das estradas deve ser escolhida. E a escolha só dependeria de Diná.
Quando nasceu, a menina miúda escolheu a estrada que não seguiria. "Cana-de-açúcar, só se for para saborear", dizia desde pequena. "O que quero é viver bem longe da fuligem preta que suja o quintal da casa de meus pais". Na capital paulista, Diná não via a fuligem, mas também não via mais nada no céu, encoberto de fumaça e poluição. Mas na sua frente, via um leque de opções que lhe dariam a chance de saborear o caldo de cana sem ter de cortar a cana.
Hoje em dia, Diná só tem uma certeza: é difícil escolher a única estrada a seguir. Mas depois de escolhida, cabe a cada um plantar suas sementes, para colher seus frutos. E como sua mãe dizia, cada um colhe o que planta, e cada um planta o que quer.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui