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Artigos-->A escola não é para todos -- 07/12/2009 - 16:47 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vou esperar que a sua indignação com o título caia alguns pontos na escala Richter dos revoltados. Tomarei um copo de leite gelado, puro e sem açúcar até que você desista de enviar um e-mail ao cardeal pedindo a minha cabeça numa bandeja... Feito isso, reafirmo: a escola não é para todos. Ao menos não a escola do jeito que professores, administradores de escolas e pais entendem. Mais: a escola nunca foi para todos.

Antes de 1980, muita gente estava fora da escola e essa verdade jamais precisou ser dita, escrita, ouvida ou lida. A escola só atendia aqueles que conseguiam acompanhar o ritmo de transmissão de conhecimento, esse patrimônio indelével da humanidade. Quem não acompanhava não ficava na escola: ia trabalhar. Já naquela época, a escola era para poucos. Na era da inclusão, quase todas as crianças e adolescentes em idade escolar estão matriculados e nós passamos a ter a ilusão de que, finalmente, a escola é de todos, o país é de todos, o bolo é de todos. Tolos.

Consideremos, então, ao menos duas escolas: uma que se preocupa com a transmissão de conhecimentos necessários para a sequência da vida acadêmica (atenção, construtivistas: usei a palavra “transmissão” e não “construção”, pois é isso que continua existindo e essa a escola que a maioria ainda quer, procura e encontra) e outra que serve de palco para o exercício da vida em sociedade, na qual é a dinâmica dos contatos que ajuda a formar/deformar o aluno. O que o esforço de políticos e educadores conseguiu foi incluir mais alunos na segunda escola. De fato, é possível afirmar que, mesmo com a inevitável evasão ao longo do ano, há mais crianças aproveitando os benefícios - e malefícios - do convívio com outras crianças, com professores, com funcionários, em escolas cheias de boas intenções. Essa é uma ótima notícia.

A primeira escola, aquela que em teoria levará o jovem à aprovação no vestibular, continua excluindo, via regras de seleção baseadas em diversos critérios: econômicos, sociais, geográficos e, principalmente, aqueles decorrentes de idiossincrasias. Em outras letras: cada um é cada um. Kadaumkadaum. Professores sabem: numa sala com 40 alunos, há os que parecem que nasceram sabendo, os que precisam fazer um esforço tremendo para saber e os tantos outros que nunca souberam, não sabem, não podem saber ou não querem mesmo saber. Seja o que for: matemática, literatura, história, ensino religioso. Ainda assim, eles estão na sala de aula. E a escola segue na missão impossível de tentar incluir esses alunos no mundo acadêmico. Não é a deles, e nunca será. Essa não é uma má notícia. Tais alunos continuam vivos e necessitados de orientação. De alguma forma, eles terão um futuro, salvo tragédias. A escola não é, mesmo com tudo que o mundo globalizado exige, o único caminho para a meta de plenitude do homem. Enquanto o esforço de inclusão acadêmica continuar sendo o derradeiro esforço da instituição escola, o que se conseguirá será sempre a exclusão disfarçada. Aluno que finge que aprende e escola que finge que aprova.

A escola até poderia ser para todos. Quando cada um conseguir ser recebido nos tais ambientes pedagógicos com suas pessoalidades íntegras, e puder se desenvolver a partir daí, o que me parece ser parte do sonho construtivista, ter-se-á uma escola de fato para todos. Até lá, um lá que duvido muito que chegue, educadores precisam ser pragmáticos e aceitar: muitos, e muitos de fato, de seus alunos não farão faculdade, não escreverão com destreza, não multiplicarão oito e oito com rapidez, não chegarão nem à presidência da república. O que você pode fazer por esse aluno? Como a sua presença poderá melhorar o futuro dele? A ironia é que a escola não é para todos, mas o professor precisa ser.



*Publicitário e professor de língua portuguesa. Acha que, antes de tirar leite de pedra, é preciso descobrir se a tal pedra é macho ou fêmea.
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