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Artigos-->FERIDAS QUE NÃO CICATRIZAM! -- 13/12/2009 - 19:02 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:131420482619056200
FERIDAS QUE NÃO CICATRIZAM!



Ana Zélia



Tento escrever, reviver o filme adormecido em minha mente, feridas que não cicatrizam, mesmo que eu tente.



Nem acredito que já vivi 6.6 anos neste planeta, na parte mais cobiçada do planeta, temos tudo e nada temos. Começo a desenrolar o filme observando o que não sai da mente.



Vejo tantas pessoas jovens reclamando da vida, não estudam, não trabalham, nem buscam saídas, me sinto culpada e na obrigação de falar, dizer a eles o quanto foi difícil mas não podemos cruzar os braços e reclamar, temos que agir, partir pra luta, se nos fecham uma porta, tentem as frestas por onde deve entrar o sol, a claridade da lua e vencer, sem se deixar abater.



Liberdade não é morrer, mas viver.



Tentarei ir por partes. Meu pai só tinha cursado o quarto ano primário nos idos de 1930, ou antes, não sei. Trabalhava durante o dia e á noite ele chamava os três mais velhos e conferia tarefas e ensinava o que sabia. Sempre fui muito astuta e ficava do lado só observando, devia ter meus quatro ou cinco anos.



Numa noite daquelas, meus irmãos erraram a pergunta que meu pai fizera. Sem titubear dei a resposta correta. E abismados com a atitude não esperada, meu pai perguntou como eu sabia da resposta: Exibida disse que eu sabia tudo aquilo que ele ensinava, podia até dar aulas, sabia ler, escrever, só não gostava de contas.



Meu pai me colocou na roda, abriu o livro e disse: Leia. Sem problemas.



A partir daí comecei a fazer parte do grupo e agora começa o outro drama: Como entrar na escola aprendendo o ABC na velha cartilha.



No primeiro dia de aula rasguei-a e disse à professora que ela podia me dar qualquer livro que eu já sabia ler.

Fui pra diretoria. Chamaram o responsável por mim, mas como estratégia de defesa, mostrei à diretora e aos professores que eu realmente sabia ler e escrever corretamente,poesias, desde Castro Alves, Olavo Bilac, Tomaz Antonio Gonzaga e outros, eu sabia de cor e declamava todas elas.



Foi um inferno, mas ainda fiquei uns dois anos na escola.



Sentia-me patriota, lembro-me que minha professora me dera um poema para decorar, a festa seria no dia da Bandeira, 19 de novembro.

Na escola todos os dias cantavam o Hino nacional, fitinhas no cabelo, tudo preparado. Antes de começar a professora falou que eu não iria declamar a poesia, isto faria a filha da diretora, eu seria guardiã da bandeira. Uma faixa verde-amarela e mais nada.



O pátio estava lotado, eu me corroia de ódio, aquilo não se fazia nem com um cachorro. As lágrimas corriam pela face, quando vi próxima a janela uma gilete, nem titubeie cortei a bandeira de cima a baixo.



A festa acabou, todos se foram, menos a minha família.



O que ouvi até hoje marcou minha vida. A Diretora aos gritos me chamava de traidora da Pátria, era o satanás encarnado. Seria expulsa da escola.



Chorei muito, eu não era nada daquilo, era uma criança que se sentiu ofendida.



No ano seguinte fui transferida para um grupo escolar que estava sendo inaugurado, com uma ficha de aluna da pior espécie. Tinha rasgado a Bandeira Brasileira.



Aqui começa uma nova fase, a professora amarrou uma corrente em meus pés e amarrou na cadeira.

Estudava muito para mostrar que era boa e não marginal como tentaram mostrar.



Feridas que não cicatrizam, nem desaparecem, hoje eu ligaria pro 100 e a escola fecharia de certeza. Vou deixar pra contar esta parte mais adiante.



Manaus, 13 de dezembro de 2009 (Ana Zélia)







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