------ É óbvio que tombo em Fado. Gosto do pendor castiço que pinga como bálsamo e aprazenta a dor. Aprecio os udores amálgamos do tabaco, do vinho tinto, do cheirinho a frito, do perfume barato da mulher que teima ser cigana. Sinto-me bem entre os obscuros coloridos da luz mortiça.
------ Geme, guitarra geme... Mata-me a fome ao ouvido... Consola-me dos pensamentos defuntos que me empoeiram a alma...
--------------- Se de rir ou de chorar
--------------- Dá vontade a quem atura
--------------- Alguém que vem ensinar
--------------- Como a vida se segura;
--------------- Até parece loucura
--------------- Que o novo ao mais velho
--------------- Com o juízo à procura
--------------- Se atreva a dar-lhe conselho!
------------------ Não sei se vais
------------------ Não sei se vens...
------------------ Dás-me a ideia
------------------ Que és muito grande
------------------ E não cabes
------------------ No que é de mais
------------------ Porque já tens
------------------ A vida cheia
------------------ De quem mande
------------------ No que sabes!
--------------- Há quem cisme ter nascido
--------------- Do ventre da inteligência,
--------------- Ilustre e muito sabido
--------------- Com carradas de ciência,
--------------- Mas perante a evidência
--------------- Pensando que sabe tudo
--------------- Vê que o dono da essência
--------------- É ceguinho, surdo e mudo!
------------------- Torre da Guia ----------------