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Contos-->o trem das nove -- 31/08/2002 - 10:36 (Paulo Belushi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era a hora. Há muito que ele esperava por aquele momento. Sonhara, diga-se. Fora um pesadelo curioso, com todos os elementos lúdicos que formam os nossos sonhos. Delirara acordado, saindo do ar às vezes por minutos. Assim foi por dois anos. Até que, um dia, ela resolveu voltar.
O telegrama era bem claro: “CHEGO NO TREM DAS NOVE PT ESPERE ME PT”. Isso depois de dois anos sem notícias, sem contato, sem nada. Teve duas horas para escolher a melhor roupa, tomar um banho, perfumar-se, chamar um táxi e correr para a estação. Queria estar lindo para ela, levá-la à sua casa, ao seu quarto, à sua cama, a todo o resto de sua vida.
Enquanto estava no táxi, relembrava dos melhores momentos junto a ela. Lembrou-se de quando começaram, do lápis que caiu sem querer no chão. De um momento a sós na lanchonete, quando roubou o primeiro de vários beijos. Das discussões sobre casamento ou não. Dos passeios abraçados nas avenidas da cidade.
Ficou, por alguns instantes, pensando em como ela estaria agora. “Ela não muda nunca” imaginou. Não mudaria agora. Estava eufórico. Pensou nela loura, morena, ruiva. Gorda, magra. Cabelo curto, comprido. Formal, informal. Na maior parte do tempo, imaginou-a nua.
Pensou, ao chegar na estação, em comprar-lhe flores. Seria por demais clássico. Cartões. Um arbusto. Lembraria um filme de que gostavam. Não, no fundo ele não gostava do filme. Poesias. Chocolates. Resolveu não comprar nada, apenas ficar diante das catracas, esperando-a com um abraço. Sairia mais barato.
O trem das nove se aproximou. Desceram todos os passageiros. Ele esperava pacientemente. Procurou-a entre os rostos desconhecidos. Não, não a viu. Pensou que ela a reconheceria, não estava muito diferente dos velhos tempos. Mas ninguém se aproximava.
Começou a pensar nas brigas, que se tornaram constantes nos últimos meses da relação. Do modo como se tratavam naquele fim de tudo. Nos impropérios, nas baixarias, nas traições vindas de ambos os lados. Lembrou-se qual não foi o seu prazer quando começou a faltar nas festinhas de família, ou quando freqüentava os bares sem a companhia dela. Ou mesmo do alívio que sentiu quando colocaram uma pedra sobre a relação, e pode dizer horrores a respeito daquela mulher.
Terminados os passageiros daquele trem, ele se virou e saiu, contente de não tê-la encontrado. Apesar de muitas noites assistindo a sessão corujão, ou mesmo jogando paciência em sua sala vazia, percebeu que aquele foi o melhor momento de sua vida. Estava só, e viveu mais que no longo período em que esteve junto dela. No íntimo, chamava-a de imbecil, e dizia para si mesmo que qualquer prostituta trepava melhor do que a mulher esperada.
Decidiu não esperar mais. Estava de saco cheio. Não queria reviver as brigas, os caprichos, as discussões daqueles dias que, ainda bem, haviam se acabado.
— Espere, disse uma voz feminina por trás dele.
Virou-se. Era ela, a mulher dos velhos tempos. Hesitou por uma fração de segundos, mas não resistiu. Abriu os braços. Ela correu, abraçando-o tão apertado como se quisesse compensar os dois anos de distância. Transformou o “adeus para sempre” do passado em um “até breve, volto no trem das nove”. Lançou para longe as baixarias de outrora.
— Sabe, nestes dois anos não encontrei ninguém como você...
— Nem eu...
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