Carnes! Carnes! A carne se moia e, do outro lado da máquina, jornais, políticas, transformações. O matadouro conduzia jornalistas ao grande moedor, que trabalhava sem parar.
Do lado de fora os homens pediam "hamburger!" "kafta!" "esfiha aberta!" A máquina não podia parar, o sangue esguichava como atrativo para as multidões. E a fila de jornalistas crescia no matadouro, rumo ao moedor de carne.
Havia algum prazer estranho em ter os braços retalhados, a alma humilhada, para satisfazer a sede de sangue e de carne. As criança choravam e reclamavam do gosto. Os pobres pegavam costelas moídas para a sopa. E o cérebro era deixado em cestos, inútil, desnecessário.
A máquina não parava. O açougueiro abriu seu capital para os dólares do exterior. Passaralhos piavam, e os jornalistas marchavam para a máquina de moer carnes. Abriam canais de TV, grandes portais de internet. O capital crescia. A multidão via se desenvolverem novos meios de distribuição do sangue e da carne.
Maldito canto, o do passaralho. Tinha vontade de esganá-lo, castrá-lo, como fez Lorena Bobbit. Mas não posso sair da fila. O açougueiro pede empréstimos no banco, vê o seu capital crescer. O passaralho pia. Ah, quantas saudades do estilingue, com que eu matei pardais...
A carne está sendo distribuída para todos os outdoors. O público é de classe A/B. Os outros não consomem, não interessam para a publicidade. O país existe para a classe A/B. A máquina de moer carne não pára. O pasaralho não pára. E existe um prazer estranho em estar na fila, ter o corpo triturado, a alma dilacerada...
Quero subir, esganar o passaralho, desligar a máquina e mostrar a bunda ao açougueiro. Mas o povo quer carne, sangue. E eu sinto um prazer estranho em perder sangue. O que eu faço? O que preciso fazer? |