Inútil consciência
(re-leitura de "José ", poema de C.D.A.)
E agora, mané?
Sozinho no mundo,
sem nome, sem rima,
sem nenhuma solução.
Você está entre o milhão
de seres andantes,
meros passantes
da vida sem rumo.
Perdeu a consciência,
a cidadania e a ilusão.
Nem Deus nem o governo
deram-lhe ciência e certidão.
Está preso à fome,
à miséria, à tormenta.
Você nasceu no lixo
e o lixo agora lhe sustenta.
Essa é a sua história,
a sua fiel realidade:
fora desse ambiente
você nem é mais gente.
Já não lhe contam no censo
nem tem título de eleitor.
Quem conhece a sua dor?
Quem já viu a sua cara?
Insistente, você se declara: sobrevivente!,
sem roupas, sem documento, sem prurido.
Ganha então mil apelidos:
bêbado, vagabundo, marginal do mundo.
Apesar de tudo você mantém a fé.
Em quê, mané? Em quem?
E segue na lida esperando o futuro...
Pra onde, mané? Até quando?
s.olivio
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