Vida mais estúpida era aquela vida reprimida
Que alguém sonhara viver num dia de chuva
Sem sair da toca pra não zangar a ferida
Masturbando-se pensando na vizinha viúva.
Vida mais estúpida era a competição do dia
Debaixo duma ponte da avenida da esperança,
Em cima o escárnio, embaixo esgoto e poesia
Dos concorrentes e do sábio juiz: uma criança.
Ninguém sabia ou com o troféu se importava
Só a vitória interessava na grotesca disputa
Onde até o padre compareceu com sua escrava
E a honra foi o prefeito com sua prostituta.
Iniciou-se o concurso com o hino nacional
Tocado pela banda marcial do jardim do gado,
Serviu-se a bebida após algum olhar banal
E o delegado de gravata foi logo alcoolizado.
Abriu a boca o primeiro concorrente taciturno:
"Sou daqui não sou de lá mas nem aqui nem lá estou,
Perdi o rumo, passei fome e só me restou muito estrume
E a única jóia que eu tinha, magra, deus a levou!"
Palmas ecoaram de todos os lados, entrou o veado:
"Já não dá mais para viver somente dando a bunda,
Incompreensão, aids e inflação dão vida ao mercado,
Penso até em mudar de ramo, talvez virar pudibunda!"
Nesse instante a prostituta do prefeito ameaçou:
"Faço greve Sr. prefeito por tempo indeterminado
Se V.Exa. não se separar da mulher com quem se casou,
Já não suporto ser a outra, é pouco meu ordenado!"
Defendeu-se o prefeito com unhas e garras:
"Chaninha, meu amor! És a única flor que amo,
Bem sabes disto, o resto são aparências bizarras,
Prometo roubar mais e dar só a ti a quem clamo!"
O juiz, um menino de seis anos, ergueu a mão,
Era hora do lanche como mandava o regulamento,
Tinham todos cinco minutos sem nenhuma exceção
Para se abastecerem comendo palavras sem acento.
Finalmente bocejou o padre com muita divindade:
"Deus, ó meu deus poderoso, onde tinha a cabeça
Quando resolvi seguir sua castrante felicidade?
Ao vê-la... não consigo impedi-lo que cresça!"
Todos fizeram o nome da cruz e o assassino falou:
"Comi minha irmã, roubei meu pai, depois matei,
Trafiquei... trucidei um cão, um gato, nada sobrou,
Depois fui preso, solto, matei... agora, regenerei!"
A competição não acabou cedo, varou noites e dias,
Foi um tal de querer ser o campeão da estupidez
E no final ninguém esperava a grande surpresa,
Eta poema besta, ganhou um trabalhador japonês...
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Alaor Tristante Júnior
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