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cronicas-->Zefinho do Cairiró -- 05/07/2002 - 03:13 (Anderson O. de Paula) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certa ocasião, em casa (em sua escrivaninha) em meio a correspondências - e-mails - que se acumulavam por conta de repentinas ausências, punha-se a ler e a reler coisas de extrema, de mediana e de ínfima importància. No meio de uma daquelas leituras percebeu encontrar a resposta definitiva à célebre e inexequível pergunta: "Onde
está Deus?"

Apesar de não crer na resposta da tal pergunta, por conta dos calos que a vida esculpiu-lhe na alma, lembrou que quando criança, em seu coração, acreditava que Deus podia perfeitamente estar nas nuvens, ou acima delas - as nuvens ali estavam para adornar a Sua Glória. Então assim ia crendo, pois não lhe custava nada acreditar que lá no alto, no espaço vazio, Deus presidia. Mas tal crença, em sua cabeça, caíra por terra quando inventaram a aviação.

Lembrou-se ainda que durante sua vida não demorou quase nada para que algum sábio qualquer, que existe em toda e qualquer vizinhança, lhe dissesse que Deus não só está sobre as nuvens, mas está em todo lugar, em todas as partes. Ele conclui em voz alta consigo mesmo que não valia à pena procurar a Deus então. Tal conclusão lhe deixou tão satisfeito que se pós a dormir, aliás pós-se a dormir bons e longos tempos.

O longo repouso não o fez sonhar, o fez apenas repousar, e, depois de descansado, viu-se, como já dito, posto em um monte de correspondências - e-mails - que tinham se acumulado por conta de repentinas ausências.

Enfim, quando lia os tais e-mails - e aqui entra o fato de ter encontrado a resposta para a célebre e inexequível pergunta - concluiu que Deus usava o pseudónimo de Zefinho de Cairiró,
que vivia em um lugar lá do Sertão (cujo local não convém aqui contar, pois do contrário todos
saberiam onde está Deus) e que escrevia, assim como ele.

Além disso não concluiu mais nada, pois temeu. O fato é que Zefinho do Cairiró escreveu-lhe o seguinte:

"Chegou-me aos meus ouvidos
que era um grande escritor
mas segundo o que eu já li
o que tu escreves não tem sabor

por isso vai rápido à mercearia
e compra sal e pimenta
e passa pela drogaria
e compra uma melhor ferramenta

pois a que tens está desencontrada
e precisa ser melhorada
como música fora de tom
e depois de tudo feito
aprende com meu jeito
ó meu criado ander-son

e su tú fores inteligente
e também muito coerente
ouves o galo a cantar
poi o teu fraco evangelho
não há de chegar ao velho
nem muletas tem para andar

porque eu fiz o sol e as estrelas
e também todos os planetas
e a terra pus a girar
e criei todos os animais
e muitas aves e pardais
e também a ti que me queres eliminar

por isso mesmo repara bem
e não digas mal de ninguém
e muito menos de teu Criador
e procura aprender comigo
pois sou o maior amigo
e o que escrevo tem sabor

e nunca andei na escola
e nunca pedi esmola
e sempre tive de comer
pois não vivo na preguiça
nem me alimento de hortaliça
porque em mim está o saber

e agora para terminar
não me procures desafiar
como tens feito até agora
e pensa bem no teu viver
porque a mim não me farás morrer
mas tu num instante te vais embora

e sabes onde vais cair
se não quiseres te redimir
do teu mau proceder
é no tormento infernal
que te condena o tribunal
e depois é tarde para compreender".


Ele disse-me ainda que a poesia de Deus continha alguns erros de ortografia. Entretanto atribuiu tais erros, não sei se por temor ou se por complacência, à consequência da incrível confusão linguistica que invariavelmente existe na cabeça de um Deus que conhece todos os idiomas - mais idiomas, aliás, do que o mestre Omar Khaiam, grande picareta...que não tem nada, absolutamente nada a ver com esse texto


P.S.: A poesia é de Saramago, entretanto, como era de se esperar, contém adaptações

P.S2.: E que Deus nos abençoe!!
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