Casa de Praia
Agora entendo. Naquela noite, olharam-se de maneiramuito especial. Conheciam-se ali, naquele momento. Masem poucos minutos riam descontraídas, como se fossem velhas amigas. Achei muito bom que Helena se enturmasse com meus amigos e amigas. Estávamos juntos já há dois anos e ela mal conhecia os lugares e as pessoas da minha intimidade. Era um caso proibido, o
que impedia aproximações. mas depois que os dois
desvencilharam-se dos casamentos, tudo ficou mais
fácil.
Naquela primeira reunião com os amigos do outro
emprego, até eu me sentia um pouco deslocado. Afinal, não os via há muito tempo e nossos interesses eram diferentes, hoje. Trabalhávamos em empresas concorrentes. Temia que pudesse haver um clima de desconfiança com a minha chegada. Mas Paola quebrou o gelo logo de cara. E foi com Helena que acabou chamando as atenções e provocando conversas coletivas.
Os grupinhos sempre foram uma constante naquela turma.
Mas as duas conseguiram mobilizar a maioria dos
convidados com uma brincadeira que surgiu de uma
provocação. Carlos, o meu antigo chefe, zombava de
Paola, sua gerente de marketing. Falava a duas amigas também novas no grupo que a comunicativa italiana alegava conhecer as letras de qualquer música brasileira dos últimos três anos. mas que era mentira.
A loira empombou-se: diga uma palavra e eu canto a
música.
Carlos falou televisão e ela, imediatamente, cantou a música dos Tribalistas. Helena acompanhou. O grupo fez coro. Nova palavra e nova melodia, agora de Herbert Vianna. E todos cantaram juntos, orquestrados pela italiana e por minha namorada. Ao poucos, perceberam-se profundas conhecedoras do repertório pop
musical e aproximaram-se ainda mais.
A noite foi muito agradável até para um sujeito como eu, que não gosta muito de festas. Quase na hora de sair, e já eram mais de duas horas da manhã, as duas combinavam alguma coisa em um canto da sala. Ri e falei que estava enciumado. Paola nunca foi de guardar o que pensava e respondeu de pronto: pois, então,
segure seus ciúmes que nós estamos combinando uma
descida à casa da praia.
Hoje, lembrando daquele momento, rio. Porque achei
muito engraçada a cara de Leninha, vermelha,
completamente envergonhada da aparente indiscrição da nova amiga. Quando viu que não me incomodei, relaxou.
Mesmo assim, ficou sem jeito porque outras pessoas
entraram na conversa, oferecendo-se para ir, também.
- Não, esse vai ser um passeio especial entre duas
amigas que acabaram de se descobrir!, protestou a
italiana, dando um abraço carinhoso em minha namorada, cochichando debochada: “Lena e Paola, a nova dupla da MPB!”. E riram muito.
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