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Contos-->Perro de lo amor -- 06/09/2002 - 18:13 (Flerman Flebers) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Yo la amaba” tentava explicar Fernando a um senhor de mais ou menos setenta anos com quem conversava em uma rua qualquer de Montevidéu.
Fernando começou a contar-lhe de um dia frio e chuvoso no Rio Grande do Sul quando ele olhou para o lado e viu uma lebre encarando um cachorro de rua. Era um fato estranho já que ele estava no centro de uma das mais populosas cidades do estado. Para alguns esta seria uma cena apenas diferente, mas para Fernando este era um sinal. Algo iria acontecer, desde que acordou naquele dia sentiu um cheiro diferente, de mudança, de desgraça.
Almoçou lentamente pensando no que havia acontecido mas preferiu não se preocupar demais. Bebeu mais um copo de cerveja e se deitou. Não havia nem conseguido fechar os olhos quando tocou o telefone. Era Ana, sua fixação, sua paixão. Sua voz acalmou o coração de Fernando que se sentia extasiado quando ouvia a suave voz de Ana. Durante todos os dias de sua vida ele era um rapaz ansiado com o futuro e todos viam isso nas marcas de sua face, mas quando ele falava com ela tudo mudava, não havia mais motivos para correr, para se preocupar, cada letra que ela pronunciava poderia durar um século que ele não se importaria.
Aquele dia foi diferente, não falaram sobre músicas, poesias, a aveludada voz alegre de Ana transformou-se em um punhal dilacerando o peito de Fernando quando ela lhe disse que havia um outro alguém. Fernando pela primeira vez despediu-se antecipadamente inventando uma desculpa qualquer e desligou o telefone. O que faria agora? Sabia que nunca havia se declarado explicitamente para ela, mas esperava o momento perfeito, cinematográfico para que se declarasse para ela e não poderia ser diferente, não poderia fazer como qualquer piazinho de 18 anos que chega em uma garota em uma festa, ele tinha que ser mais. Mas todos os planos de futuro que havia feito haviam sido destruídos, ele estava sem uma direção, uma razão.
Pensou durante o dia todo, entre vinhos e músicas que se espalhavam pela sua casa como um bom perfume em uma noite quente de verão. Quando terminou sua segunda carteira de Lucky Strike do dia resolveu que ligaria a ela e se abriria.
- Alô
- Oi Ana, sou eu
- Oi Fer! Como estás?
- Não muito bem Ana, tenho uma coisa a te falar, por favor não me interrompa, apenas ouça e responda sim ou não, está bem?
- Tudo bem, o que foi?
- Quero que me respondas, este cara com quem estás, ele te acha bonita mesmo quando tu acabaste de acordar, com olheiras e o cabelo amassado? Quando tu estás doente ele passa o dia inteiro ao seu lado, te cuidando? Ele compra flores para ti quando anda pela rua? Ele te liga de madrugada apenas para te lembrar o quanto ele gosta de ti e queria que tu estivesses por perto? Se tu me responder que sim eu juro que fico feliz por ti e nunca mais te ligo, mas se tu disser que não, eu me recuso a te perder para ele.
- Não Fernando ele não faz isso, mas ele nem precisa, eu gosto dele por outras coisas.
- Então tá Ana, continue assim, só não venha chorar pro meu lado quando tudo der errado.
Fernando bateu o telefone violentamente quebrando o aparelho e desandou em um choro profundo, desafogando o seu pobre coração soterrado em tantas mágoas de amor não resolvidas, queria morrer, deixar de existir. Qual a vantagem de se seguir em frente se sempre existirá uma placa o mandando parar?
Não respeitaria mais os sinais que ficavam à beira da estrada tentando controlar como ele dirigia sua vida, pegou sua mochila colocou algumas roupas e foi à estrada, iria, cada vez mais ao sul e não pararia até ver toda a beleza que sabia existir fora de sua cidade medíocre de pessoas que não o entendiam.
O som do seu Maverick soava como a própria liberdade e isso o fez sorrir apesar de toda a amargura que residia em seu coração. Acelerou até achar que os seus sentimentos haviam ficado para trás e não o poderiam seguir, então começou a cantarolar a canção que tocava em seu rádio.
Quando a noite chegou ele resolveu parar para descansar e logo encontrou um pequeno bar ao lado de um posto de gasolina para relaxar. Parou o carro, desceu e sentiu suas pernas cambalearem devido ao cansaço, pediu ao atendente para completar o tanque e dirigiu-se ao bar. A sua boca estava seca e pedia um gole de whisky, entrou no bar e pediu uma dose dupla. Conseguia quase sentir os olhares das pessoas locais o olhando como se fosse um perigo, uma ameaça, talvez pelas suas roupas sujas ou a barba mal feita, mas isso não importava para ele.
Umas vinte doses depois ele já não se lembrava sequer de onde estava, sentia-se bem, sentia-se poderoso, capaz de tudo e foi quando viu uma linda garota de pele alva e cabelos negros como a noite sentada em um canto do bar. Passou por volta de sete minutos olhando para ele e apesar de seus olhares não serem correspondidos aproximou-se e a convidou para dançar.
Mal havia terminado de fazer o convite foi empurrado por trás, fazendo-o cair, devido em sua maior parte pelo álcool. Levantou-se rapidamente e encarou o homem que o havia empurrado, agora ele tinha conseguido o que queria, um bode expiatório para toda sua raiva, sua decepção. Olhou para o lado e viu uma garrafa vazia de cerveja, agarrou-a e jogou ela no rosto de seu oponente, enquanto este ainda estava desnorteado Fernando o derrubou e agarrou-o pelos cabelos, batendo sua cabeça contra o duro chão de tábuas do bar repetidamente, até que o seu corpo parou de mexer. O seu porre passou em tempo recorde e então ele teve noção do que havia feito. Correu até seu carro, girou a chave e acelerou, parando apenas quando o indicador de gasolina o alertou que devia abastecer novamente. Parou no posto de gasolina, completou o tanque e sentou-se, começando a chorar.
Era agora um foragido, um assassino, havia tirado a vida de uma pessoa, o bem mais precioso que qualquer um tem por um motivo torpe. O amor o havia induzido a fazer aquilo. Como pode uma mulher tão linda, tão meiga o ter transformado nisso, num louco, num monstro? Logo ele, uma pessoa que toda sua vida tinha sido racional, deixando de lado as emoções para que nada interferisse em sua linha de pensamento.
Acendeu um cigarro e seguiu viagem, estava agora muito próximo da fronteira e apesar de todos os pensamentos e sentimentos que se debatiam em seu ser ele conseguiu ver tudo o que esperava. Aquele era seu lar, aquele por do sol que via naquele momento era sua vida, um pequeno momento na historia que traduzia toda um existência. Parou seu carro quando chegou em Montevidéu e foi imediatamente a um bar, sentou-se no balcão e pediu uma cerveja.
Naquele momento olhou para o lado e viu um velho sozinho e pode ver nos olhos dele que também ele havia tido muitos desgostos na vida e isto o fez estar naquele lugar, naquele momento, solitário e triste como são todos os que vêem a vida como ela é e não colo ela se mascara atrás de amores vãos e pensamentos esporádicos de beleza e felicidade que levam as pessoas a ilusões de sorrisos e abraços. Ofereceu uma cerveja ao velho que a aceitou de bom gosto e sorriu com o canto de sua boca enrugada. Quando ambos já estavam bêbados o suficiente, Fernando começou a contar sua historia. Quando terminou o velho lhe disse suas primeiras palavras: “Tu es lo perro”. “Que perro?” – perguntou Fernando- “Lo perro del comienzo de tu historia, estay corriendo atrás de cosas imposibles, diferentes e nunca sabremos o final, solamente que continuaras así”.
Fernando abaixou sua cabeça pesada devido a sua consciência e concordou com o velho, despediu-se, pagou a conta e saiu, sem destino e ainda sem razões, mas conhecendo seu destino, seguir perseguindo raros coelhos pelas ruas de todas as cidades e poder descansar apenas quando conseguir pegar um.
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