Querido amigo escrevente,
Não queira mal a esta gente,
Por lhe chamar a atenção.
Ponha n alma a nostalgia
Dos bons tempos da alegria
De ter Ayrton à mão.
Todo o povo chora agora,
Melhor, porém, faz quem ora
Por restabelecimento.
Feriu-se esse nosso amigo,
Sem dar conta do perigo
De correr além do vento.
Para o povo destas plagas,
Acostumado co as sagas
Dos que buscam emoções,
A morte do companheiro
É sabida por inteiro:
Não nos causa estremeções.
Mas a vibração do povo
Faz despertar-nos de novo
Para a sensação do nada.
É que a terrível saudade
Nosso peito agora invade,
Coração em disparada.
Quem tem amor corre o risco
De não ver em seu aprisco
As entidades queridas,
Levadas pelo destino,
Às vezes, no desatino
Dos desencontros de vidas.
Quem consegue, na lembrança,
Sentir que o progresso avança,
Quando se fez só o bem,
Vai orar com devoção,
A pedir por proteção,
Que um bom despertar se tem.
Sentimos que, em todo o mundo,
Essa morte tocou fundo
O sentimento da gente.
Mas a dor foi controlada;
Uma passagem forçada:
O amigo prossegue em frente.
E nos ficou a lição
De ampliarmos a missão,
Pela nobreza do gesto.
Ser honesto, firme e forte,
Vai colocar claro o norte,
Sem causar nenhum protesto.
Ser responsável na vida
Há de incluir a saída,
Sob o amparo dos demais,
Muitas vezes, é loucura
Desprezar a criatura
Os temores naturais.
Julgamos ser covardia
Não indicar, na poesia,
Um erro de julgamento.
Quem possui maior vivência
Deve passar a experiência
Para o irmão ficar atento.
Todos nós, quando chegamos,
Colhemos o que plantamos,
Após séria revisão.
Por cumprir os compromissos,
Recebemos mais serviços:
Alegra-se o coração.
Se, no entanto, fraquejamos,
Se vazios os nossos ramos,
Ou de males carregados,
Nossa consciência nos pesa
E, nesse caso, a lei reza:
Os remorsos são dobrados.
Eis aí, meu caro amigo,
O que dispõe esse artigo
Da constituição do etéreo.
Quem se sujeita a essa vida
Deve trazer prevenida
A alma para o mistério.
Para a imprudência do irmão,
Estipule que o perdão
Há de ser dado por Deus;
E pela própria consciência,
Quando vencer a insistência
Da dor que causou aos seus.
E controle o triste pranto,
P ra não causar desencanto
Em quem confia no Pai.
A justiça superior
Sabe bem quem tem valor
E premiar o amor vai.
Não onere quem partiu,
Dizendo que nunca viu
Nenhum sentido na vida,
Pois Jesus, quando morreu,
Aos amigos prometeu
Dar continuidade à lida.
Nosso amigo Ayrton Senna
Bem queria fosse amena
A lembrança da passagem.
Vamos pensar nele vivo,
Trabalhando muito ativo,
Com fé, amor e coragem.
Oremos p ra que consiga
O galardão nessa briga
Contra os desesperos d alma.
Que, no Céu, receba o louro,
Champanha em taça de ouro:
Do evangelho leve a palma.
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