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Artigos-->A globalização da miséria -- 27/01/2002 - 12:48 (werton costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Globalização da Miséria





Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho*





“Contra o pessimismo dos fatos, o otimismo da vontade.”

(Gramsci)





“Miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferenças...”este é o ácido refrão de uma das pérolas do grupo Titãs, ícone do rock nacional, que de forma contestadora denunciava, nos anos 80, as mazelas produzidas pelo sistema capitalista.

Nos EUA, Índia, Afeganistão, Serra Leoa ou Brasil, a pobreza mostra sob diferentes focos a sua cara e, a riqueza a “coroa”, dialeticamente o outro lado da moeda litigiosa. Tanto faz se foi em Seatle, Praga ou Davos, o coro foi um só e, no “couro”, no lombo, a chibatada uma só: Globalização!

Caetano cantava que, “alguma coisa está fora da ordem, fora da ordem mundial”, ou se preferir, “enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede, são certamente gestos naturais...”

Transcendendo a poesia e, esta naturalmente perece quando em fina flor permanece a ópera fétida da burguesia (Cazuza mandou forte!), o fenômeno neo-imperialista da globalização trivializou suas próprias metáforas: a opulência de poucos, como nas partidas dobradas da contabilidade, tem que fechar simetricamente, projetando seu inverso negativo sobre a maioria excluída.

Longe de ser mais um dogma dos economistas, um mero conceito, o surto globalizador converteu-se em panacéia, a nova racionalidade das instituições internacionais, multilaterais e dos Estados Nacionais, que elegeram o “Deus mercado-global” como o guru que os conduzirá de forma irreversível ao éden da felicidade e liberdade total...para poucos é claro.

Este mundo feliz, anestesiado, eufórico com o vai-e-vem atroz pós-moderno, navegante e navegado, deslumbrado com a tecnologia que dilui fronteiras e cria outras, vive o seu paradoxal inferno astral: no novo modelo de acumulação os bons indicadores econômicos não constituem promessas de bons indicadores sociais.

Observamos atônitos que, paralelamente ao crescimento da economia mundial (com avanços estonteantes das riquezas e desenvolvimento tecnológico em poucos países), os problemas humanos se globalizam, manifestando-se em um dramático processo de desintegração social, onde a fome, o desemprego e a mortalidade infantil são vistos como o “preço justo” a pagar pelo progresso.

A lógica perversa da globalização impõe um ordem de morte real e simbólica aos excluídos, a partir da substituição do espaço político da igualdade pelo da diferenciação econômica. Para os seus protagonistas não interessa incluir a todos na demanda, ou seja, socializar e compartilhar o já absolutizado consumismo, sinônimo de felicidade e liberdade, com as camadas inferiores, pois isso significaria a ruína do status quo vigente e do meio ambiente (pela incapacidade de se universalizar tão elevado padrão de consumo).

Na globalização, os países ricos, ancorados em um modelo de desenvolvimento desigual e combinado, “homogeneizam seletivamente”, decidindo entre rodas de um G-7 e transnacionais o “quando” e o “que” será globalizado, impondo o fenômeno, como impuseram a cruz, a espada e a modernidade aos países pobres no passado.

Para alguns, esta desvairada e insólita racionalidade mercadológica que defende a busca de maior efetividade, maior lucro e menor custo sem importar-se com as conseqüências, seria uma nova versão para a guerra, só que em vez de mísseis balísticos teleguiados e “cirúrgicos” à Mister Magoo, bastariam alguns torpedos virtuais em bolsas voláteis ou rajadas de juros à queima-roupa sobre “dívidas quase eternas”.

A inovação tecnológica, a manipulação da informação e a acirrada concorrência são as armas dos combatentes mais vitaminados e anabolisados. Restam aos atrofiados e negados do Sul subdesenvolvidos, munirem-se de suas bugigangas tribais com ideogramas chineses de R$ 1,99 made in Taiwan, resignando-se com a utopia cor-de-rosa da esotérica era de solidariedade e filantropia mundiais: BOMBA + SACO DE CEREAIS = SORRISO AMARELO!

A globalização foi alçada à posição de marco simbólico-referencial indicativo da emergência de um novo século na história da humanidade, o salto quântico das civilizações individuais para a aventura de dimensões planetárias, embora conflitantes, excludentes e para alguns até apocalípticas. “É o desenho de um novo mapa para o mundo, na realidade e no imaginário (Ianni, 1996, p.11).”

A história, porém, apesar dos movimentos retrógrados e sinais contrários, continua aberta, em suas páginas brancas poderemos deixar nossa versão e aversão a tudo isto. Cabe a sociedade civil organizada, em âmbito planetário, recuperar a capacidade de rebeldia e indignação, romper com esta unanimidade burra, vencer o individualismo criminoso, desmascarar o discurso sedutor da sereia e resgatar o que foi negado no eclipsar do breve século XX, o que se convencionou chamar de o “fim da história”, o grande legado germinal que possibilitará a nossa vitória contra a opressão.



* Graduando em História e Geografia pela Universidade Estadual do Piauí, Professor de Ensino Médio da Rede Particular de Ensino e membro da União dos Escritores do Itararé.



Referências Bibliográficas:

IANNI, Octávio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.





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