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Contos-->A VERDADEIRA HISTÓRIA DE JOÃO E MARIA -- 08/09/2002 - 14:01 (Alexandra Blandy) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

João, funcionário público, trabalhava como coveiro num cemitério da cidade. Estava cansado e inconformado com a vida que levava, achava seu salário muito pouco para o muito que fazia, afinal ele enterrava uma média de 30 defuntos por mês, se recebesse 10,00 por cada defunto que enterrava, ganharia bem mais do que seu salário.

João era casado, pai de sete filhos pequenos os quais precisava alimentar, mas o dinheiro faltava,
e as esperanças de uma vida melhor eram inexistentes.

Todos os dias para ele eram iguais, acordava, tomava seu café, pegava a marmita, dava um beijo na mulher e nos filhos e ia para o cemitério.
Recebia os corpos, os preparava cuidadosamente no caixão para o velório e em seguida os sepultava. Já não sentia mais emoção naquilo, para ele tinha se tornado uma rotina, pura coisa de trabalho.

Numa noite, João recebeu o corpo de uma mulher, nua e desfigurada, já sabia que o caixão teria que ser lacrado.
Lhe disseram que era uma indigente que provavelmente havia sido estuprada e morta à pancadas. João estava horrorizado... Enquanto preparava a defunta no caixão, João se lamentava naquele momento por não estar fazendo qualquer outro trabalho menos macabro, pensava nos filhos e no que Maria, sua mulher, lhe dissera no café da manhã: " João, hoje vou visitar a avó das crianças que está doente". Lembrou que dormiria sem ela naquela noite e que ficaria com os filhos.

Terminado seu expediente, foi para casa, seus filhos estavam com a vizinha e João foi buscá-los. Ao chegar em casa foi tomar seu banho, sentiu falta da mulher ali para lhe preparar a roupa e perguntar do seu dia de trabalho, se ela estivesse ali certamente ele comentaria sobre aquela pobre moça que chegou nua e desfigurada no cemitério. Jantou com os filhos e mais tarde foi deitar-se, o sono não vinha... se revirava na cama, seu espírito estava inquieto, sentia falta do calor do corpo de Maria.

O dia clareou e João acordou como se nem tivesse dormido, mas estava feliz porque Maria estaria em casa quando chegasse do trabalho a noite. Deixou os filhos na escola e foi para o cemitério.

Seu primeiro trabalho seria sepultar a tal moça cruelmente assassinada. Durante toda a noite e madrugada ninguém havia aparecido para reclamar o corpo, João sentiu um aperto no coração por aquela infeliz ser enterrada sem velório, sem parentes, sem lágrimas, sentiu-se comovido como há muito não se sentia por um defunto.

João preparou-lhe a cova e depositou o caixão. Enquanto cobria a cova jogando terra com a pá, ele rezava e não conseguiu evitar que lágrimas caíssem dos olhos.

Durante todo aquele dia João trabalhou cabisbaixo, entristecido. À tarde, já imaginava que sua mulher estava em casa, de banho tomado, usando um vestido de tecido leve que realçava suas curvas, de pé à beira do fogão cuidando do jantar. Contava as horas para que a noite chegasse e pudesse ir logo para casa ao encontro da sua mulher amada.

Com alegria João ouviu o badalar das 18 horas, bateu seu cartão e foi ao ponto de ônibus. Imaginava que quando estivesse chegando em casa, sua mulher o estaria esperando no portão, com um lindo sorriso, isso o reconfortava muito... Mas ela não estava no portão à sua espera, sentiu uma ponta de tristeza, foi entrando e já ouvia as vozes dos filhos brincando, se armou de um sorriso e abriu a porta da casa, olhou e viu seus filhos correndo pela sala, seu olhar procurava Maria, onde estava ela? Não a via... seus filhos vieram lhe falar, ele nem deu ouvidos, foi para a cozinha e ali não havia ninguém, nem mesmo o cheiro do feijão temperado, nem panelas no fogão, correu então para o quarto, estava vazio, a cama ainda desarrumada, foi ao banheiro... sim! Ela estava no banho, devia ter acabado de chegar... Mas não havia ninguém no banheiro. João entrou em pânico e somente neste momento lembrou de ouvir os filhos.

- Cadê a mamãe? Ela ainda não chegou ou saiu? - perguntou João aos filhos cheio de preocupação.
- Mamãe não chegou ainda. - disse o filho mais velho.
- Papai onde está minha mãe? Estou com fome! - reclamou o filho pequeno.

João ficou perturbado, conhecia Maria, sabia que ela jamais se atrasaria e deixaria os filhos sozinhos em casa. Algo havia acontecido e ele tinha que procurar saber. Começou a revirar as gavetas afim de encontrar o número do telefone de algum familiar da cidade para onde sua mulher fora. Quinze minutos depois encontrou o número de uma tia de Maria, ligou em seguida, a tia lhe disse que não sabia da visita da sobrinha e que não a tinha visto, João ficou ainda mais preocupado, pediu que a tia fosse até a casa da mãe de Maria e que procurasse saber a hora que Maria saiu de lá. Instantes depois, João retornou a ligação para saber o que a tia lhe diria e o que soube foi arrebatador.... Maria não tinha estado lá, sequer havia chegado no dia anterior.

João chorou... de desespero, de tristeza.... Lembrou daquela mulher que enterrara pela manhã, os cabelos dela eram iguais aos de Maria, a cor dos olhos, eram verdes como os de Maria, ela havia sido encontrada nas proximidades da rodoviária, local onde Maria deveria ter estado...

Em pânico, chorando muito, com a certeza no coração de que havia sepultado sua esposa, João perambulava pelas ruas...
Inconformado, a vida não fazia mais sentido sem Maria, sem pensar em mais nada, desesperado... se atirou na linha do trem, matando-se.

Os filhos haviam sido deixados sozinhos em casa, chorando de fome e assustados, sem o pai e sem a mãe. De repente a porta se abre e as crianças gritam eufóricas! - Mamãe! Mamãe! Você chegou! - Maria aparecera! Abraçou os filhos cheia de saudade, contando que se atrasara porque o ônibus quebrou na estrada. Perguntou ás crianças pelo pai e o filho mais velho disse que ele estava procurando por ela e que tinha saído para ligar para a casa da avó Rita , afim de saber da hora que ela havia saído de lá.

- Vó Rita? Mas eu não fui na vó Rita...- falou Maria surpresa. - Eu fui na vó Graça, a mãe do pai de vocês!

Instantes mais tarde Maria soube do triste fim de seu marido e chorou arrasada...por um homem extremamente apaixonado que deu cabo da própria vida por um mal entendido e por tirar conclusões precipitadas.

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