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Contos-->A Cidade Sensual -- 11/09/2002 - 20:17 (Sylvia R. Pellegrino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele chegou na cidade. Buscava atividade empresarial. Era enigmático, frio, racional. Não pretendia passar muito tempo ali.
Foi à empresa, não encontrou o proprietário. Devia ter ligado - pensou. Parece que não gostam de trabalhar por aqui - imaginou.
Seguiu para o hotel. “Somente amanhã” - dissera a secretária. “O senhor não ligou” - complementou, profissional.
Sua estratégia da surpresa caíra por terra. Queria cobrar aquele título. Seu cliente o abonaria se o intento tivesse êxito.
Saiu amuado. Voltou para o hotel.
Sentiu falta de companhia. Ligou a TV. O som encheu o quarto.
A televisão continuava a passar o jornal. Já estava cansado daquele marasmo. Cidade provinciana - resmungou. Como não encontrar um empresário em pleno horário comercial?
Precisava tomar ar. Procurar o que fazer. Se é que haveria o que fazer.
Saiu para a rua. Não agüentava o hotel.
Crepúsculo. Noitinha chegando lentamente. Naquela hora que nem é noite nem é dia. No lusco-fusco que invade, mudando o cenário, como numa troca de roupa. Curitiba começa a se vestir de negro, tal qual mulher sensual, que escolhe suas jóias e brilha. No brilho das estrelas surge orgulhosa. Esconde no escuro o seio de tantos segredos e enche-se de burburinho do ir e vir de automóveis. São seus amantes, perdidos na noite.
Por sobre o tapete escuro do asfalto ele caminha, como em êxtase. Não imaginava aquela transformação. Lembrou do amigo. “Acho Curitiba a cidade mais feminina do Brasil”. Havia rido do comentário. De dia não percebera, nem lembrara daquilo, mas agora...
O ar se encheu de perfume de tantos perfumes das outras, mulheres também, a busca de um gozo. Um gozo de amor efêmero talvez, ou em busca da fantasia do amor eterno. Que importava? Importava que a noite chegara e com ela a volúpia da cidade em viver seus amores, nos cantos, nos bares.
Caminhou errante à busca de nada e de tudo.
Rodopiava a bela cidade, soprando seu hálito aqui e ali. Ora encantava com seu sorriso faceiro, ora desencantava com seu desprezo altivo. Era ela a dona. Quem decidia a quem queria amar, a quem queria entregar suas carícias, seus dengos.
Sentiu-se amado, aconchegado. Esqueceu o compromisso. Caminhou lento, inspirando o ar da noite. Sentindo o abraço da cidade.
Qual gata acariciava sua pele como se fosse ele seu dono. Sentiu a brisa e o perfume envolvê-lo, encantando-o.
Lembrou outras palavras daquele outro apaixonado. “Seus visitantes caem de amores por sua altivez. Sua descendência de europeus, carregada de conservadorismo, a destaca. Caminha nobre por seus recantos antigos, levando seus enamorados ao delírio do passado”.
Olhou seus casarões, suas tradições expostos numa luz de palidez amarela e deixou-se embalar por histórias de cavaleiros andantes, capas e espadas.
Lufada de ar. Resolveu esfriar e soprar o vento frio do escárnio como a desprezar aquele que não sabia estender-lhe tapete e oferecer lareira, vinho e paixão.
Ele sentiu o sopro frio. Entrou no restaurante. Primeiro avançou e conquistou o espaço da sala. Sentou no bar. Ambiente aquecido, música suave. Odores de perfumes, tapete, lareira. Sentiu-se aquecido novamente. Passeou seu olhar pelo ambiente. Encontrou-a.
Ela o olhava insistentemente. Ouviu, como num sussurro: “Sou eu”.
Os olhos escuros o encararam sérios, depois suavizaram como a contar-lhe um segredo.
Sentiu sobre os seus os dedos longos e acetinados. Era uma sensação estranha, de espectador e ator.
A mulher continuava a olhá-lo. Loura, esguia, os olhos escuros perscrutadores e indecifráveis. O vestido negro delineando o corpo. O longo pescoço branco rodeado pelo colar de brilhantes.
Sentiu-se engolido por uma golfada de ansiedade. Quis fugir dali. Ela sorriu e envolveu sua nuca, num gesto de posse. Ficou quieto e deixou-se beijar. O hálito quente e sensual invadiu sua boca. Sentiu seu cheiro. Cheiro conhecido, impregnado em sua memória. Lembrou sua saída do hotel. Perdeu-se nas sensações daquelas mãos e da volúpia daquele corpo, encostado ao seu.
Para o hotel? Não, para o hotel não - pensou. Levou-a para um motel. Comprou flores, bombons.
Quarto de motel. Ela subiu na cama e o olhava, com aquele olhar onde bailava um meio sorriso. O vestido escorreu-lhe pelo corpo nu. Ficou mesmerizado diante daquela beleza alva. Sua fantasia adquirira carne e osso.
Ele começou a tocá-la. Os dedos acariciavam aquele corpo de curvas perfeitas e moldadas.
A volúpia tomou conta de ambos. Amaram-se. Ouviu-a arfar sobre ele, depois sentiu-na deslizar satisfeita e ir deitar ao seu lado. Minutos depois ela levantou e escorregou pela banheira, chamando-o com o olhar. A água quente acariciou seu corpo e ele sentiu-na colar nele.
Novamente o queria e a volúpia voltou a tomar conta de ambos. Penetrou-a como louco uma, duas, três, quatro vezes, até cair extenuado. Deitaram lado a lado sem nada dizer. Ficaram assim até a madrugada. Dormiu satisfeito e feliz com aquela deusa em seus braços.
Acordou ainda na madrugada e não mais a encontrou. Saiu do motel sem entender. Buscou-a pelas esquinas e cantos da cidade.
Curitiba flutuava, às vezes diáfana por dentre suas neblinas, envolvendo-o em seus véus e abraçando-o em suas sedas escorregadias, outras brincava com sua angústia, molhando o rosto dele com leves e finas gotas de orvalho e parecia rir de sua dor.
Manhãzinha, o sol ainda não havia despontado. Ele continuava a caminhar errante, em busca da amada.
A cidade agora dormia tranqüila, como a trazer no regaço o cheiro daquele que a encantara em seu caminho sensual, noite adentro.
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