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Contos-->Aquela manhã de segunda -- 11/09/2002 - 20:25 (Sylvia R. Pellegrino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Levantava cedo todos os dias. O Grupo Escolar Manoel Ribas era seu destino. Depois que viera para o Paraná muito havia mudado. A começar pelo clima. O pequeno lugarejo de Harmonia tinha o clima frio, típico da região sul do Brasil.
Seguiu para a escola. Já havia alguns meses o pai havia falecido e a dor já não era tão insuportável, dentro daquele coração de menina. Olhava feliz e encantada para a cerração. Era como se estivesse sozinha numa cidade encantada. Caminhava rápido. Vez ou outra via surgir uma pessoa caminhando em direção contrária. Cumprimentava tímida. No lugarejo todos se conheciam e era necessário cumprimentar, como recomendara a mãe.
O transeunte passava e voltava a se sentir sozinha. Os pensamentos inundados de fadas e duendes. A mente infantil e imaginativa deixava fluir a criatividade. Criava histórias que seriam mais tarde transformadas em esquetes, encenadas nas festas escolares. Naquele momento estava imbuída com a responsabilidade da criação da peça para o próximo festival escolar, a se realizar no cinema local. Era a primeira vez que escrevia para os alunos daquela escola. Estava apreensiva porque não conhecia a todos e sentia uma certa antipatia à sua pessoa.
Quando chegara de Três Lagoas, pequena cidade do centro-oeste brasileiro, trouxera no currículo muita recomendação do Grupo Escolar Afonso Pena. Era a primeira aluna da sala e tinha várias aptidões, entre elas escrever pequenas peças teatrais e poesias, além de pintar com facilidade.
Os novos colegas foram informados dessas qualidades e sentiram-se diminuídos diante dos elogios feitos pela professora à nova aluna.
Ela sentiu-se tímida e amedrontada pelos olhares que se voltaram e a fixaram. As fisionomias demonstraram a não receptividade às palavras da mestra.
Encolheu-se em seu canto e voltou-se aos livros. Preferiu não enfrentar a indisposição flagrante dos colegas.
Chegou na escola ofegante, após a caminhada. Não se admitia atrasar. Sentiu que a anágua, que a mãe a fizera colocar sob a saia, a espetava. Talvez fosse goma demais. Tentou ajeitar a anágua para evitar o incômodo, mas não obteve êxito.
A professora determinou que naquela manhã de segunda seria o ensaio geral. A peça seria encenada e ela corrigiria os erros, junto à professora. As poesias seriam declamadas e todos poderiam optar qual a melhor.
Os ensaios deram início. Todos pareciam presos e não transmitiam realidade à encenação. Ouviram os comentários dela em silêncio. Um silêncio de incompatibilidade. Ela sentiu-se incomodada e nervosamente mexeu na anágua. Aquilo a estava irritando.
A professora pediu à Tânia, sua única amiga, naquela turma, que declamasse a poesia. Tânia era uma bela garota de lindos e enormes olhos castanhos, com os cabelos lustrosos, também castanhos, caindo em cascatas de cachos sobre os ombros. Era delicada e já tinha, aos onze anos, um corpo delineado pela cintura fina e o busto de menina-moça apontando. Os garotos a rodeavam como moscas ao mel.
Olhando a garota lembrou de sua figura desengonçada. Uma menina gordinha, com os cabelos crespos e curtos, olhos pequenos e amendoados, num rosto grande de bochechas rosadas, com um nariz grande demais para o tamanho da boca.
Quando Tânia se aproximou e demonstrou sua amizade, sentiu-se profundamente feliz e encantada. A garota era gentil e a tratava, diversamente dos demais, com muita delicadeza. Tornaram-se amigas.
Escutou a voz melodiosa de Tânia declamar a poesia que havia escrito. Todos batiam palmas animadamente. A poesia foi escolhida para ser apresentada no festival.
Agradeceu intimamente à amiga.
Voltaram novamente ao ensaio da peça e, outra vez, ela notou a falta de ânimo dos colegas. Fez um comentário. Tentou ir até o palco para fazer uma demonstração, mas quando começou a sua mostra, a anágua, tantas vezes mexidas, despencou de sob a saia.
A platéia diante do acontecido caiu numa risada.
Sentiu-se ridicularizada. O vermelho das bochechas espalhou-se pelo rosto todo. Sentiu-o queimar. Não conseguia dar um passo sequer. Não queria chorar para não ser mais ridicularizada, porém as lágrimas quentes desceram pelas faces.
As risadas foram cessando e todos vieram solidariamente para acalmá-la. Não acreditava em seus ouvidos. Eram palavras de carinho e amizade. Diziam que tirasse a anágua e a jogasse no lixo. Afinal, que idéia era aquela de alguém fazê-la usar anágua.
- Minha mãe... - balbuciou.
- Pois então diga a sua mãe que isso não se faz. - falou um dos garotos que jamais lhe havia dirigido a palavra até aquele dia. - Tire logo que eu jogo no lixo - completou ele.
Ela sorriu timidamente e retirou a anágua, entregando-a ao garoto.
Quando Rui jogou a anágua no lixo a garotada toda deu vivas.
O próximo ensaio, depois do incidente, foi maravilhoso. Parecia que todos haviam se transformado em verdadeiros atores.
Ela aplaudia feliz, os olhos marejados de lágrima. Pelo menos aquele ridículo fizera o milagre de a transformar numa pessoa igual aos demais, aos olhos de todos.
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