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Contos-->Fim de semana -- 11/09/2002 - 20:32 (Sylvia R. Pellegrino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Todos nós sorvemos a sensação de alegria e bem-estar que o campo proporciona, naquele fim de semana. A amizade também calou fundo em nossos corações.
Quando imaginamos que por trás de cada um havia um amigo ocasional, o fim de semana instantaneamente nos tornou íntimos e cúmplices.
Pensamos que seriam dias como tantos outros em nossas vidas. O que não sabíamos é que muito dentro de nós iria mudar.
Estávamos quase chegando. Era um dia lindo, quente e seco, apesar da época de inverno. Prenúncio da beleza que íamos viver. Em Curitiba deixamos o frio cortante e os casacos mais pesados. No campo, entretanto, os sinais da estação ficavam mais tênues. A alameda da entrada da fazenda surgiu à nossa frente. Árvores imensas ladeando e sombreando a terra ainda úmida pelas chuvas de dias anteriores. A grama se pintava de cores das pequenas flores silvestres. Logo adiante, os altos caules dos espíritos-santos, com suas folhas vermelhas, balançavam ao ritmo da leve brisa da manhã.
Alcançamos o portal da entrada, onde se enroscava a trepadeira de cipó-cravo. A casa surgiu imensa à nossa frente. Era a típica casa de fazenda, pintada de amarelo-ocre. Observei o cuidado com a grama em frente à casa, recentemente aparada e perfeitamente limpa, apesar de cercada de árvores.
Descemos do carro e Sérgio veio nos receber feliz por nos ver chegar.
- Fizeram boa viagem? A que horas saíram de Curitiba?
- Foi boa a viagem, sim... A que horas saímos, mesmo? - meu marido perguntou, olhando para mim.
- Perto das dez. - respondi.
- Então vieram bem. Fizeram apenas em quatro horas. Vieram bem... Mas entrem, por favor. Maria Cecília está na sala esperando.
Entramos na ampla cozinha e o cheiro do feijão temperado invadiu nossas narinas. Descobri que estava com fome.
Maria Cecília estava na sala íntima lendo um jornal. Pareceu-me que não nos esperava, mas levantou-se feliz ao nos ver.
- Que bom que vieram.
Ficou claro que ela não acreditava que fossemos.


Estávamos na sala conversando, quando eles chegaram. Vi o espanto estampado no olhar de Maria Cecília. Também eu não acreditava na ida deles.
Luiz Antonio e Jussara entraram na sala. Ele estava produzido a caráter. Botas, calças jeans, uma jaqueta de couro sobre a camisa de sarja e, para arrematar, um chapéu panamá. Rimos de tanta meticulosidade.
- O jantar está servido, Maria Cecília - falou, Sérgio do alto da escada.
O odor da carne assada inundou a sala e despertou nosso apetite. Aquela não tinha sido uma tarde agitada, talvez por isso não tivéssemos sentido a fome. Fizemos visita a cidade vizinha, Jacarezinho, pequena cidade incrustada no norte velho do estado do Paraná, de velhas tradições. Aproveitamos para descansar do agito da capital e nos deliciarmos com o final da tarde modorrenta do campo.
Após o jantar fomos assistir aos vídeos das últimas festas familiares de Maria Cecília, enquanto bebericávamos vinho tinto.
- Que tal olharmos o céu? Esta é a época das estrelas cadentes. - comentou Cláudia, uma amiga de Maria Cecília, que conhecemos naqueles dias. Cláudia, uma mulher miúda, falante e gentil, que cativou a mim e a meu marido.
- Como sabe disso, Cláudia? - Perguntei, curiosa.
- Morei em fazenda, quando criança, e a conversa dos caboclos sempre foi essa, julho é a época das estrelas cadentes. Nós precisamos fazer um pedido - dizendo isso saiu da sala. Nós a acompanhamos em seguida.
O frio, agora sim se fazia sentir e definitivamente não seria a noite dos pedidos. O céu encoberto de nuvens não permitia enxergar uma única estrela. Entramos amuados e decepcionados.
A conversa se estendeu madrugada adentro, até que o sono bateu e cada um foi se retirando para seus aposentos.
Entramos no quarto e senti um cheiro agradável de lavanda vindo da roupa de cama. Deitei feliz. O ruído das conversas foi ficando para trás, engolido pela quietude da noite campestre. O mundo lá fora se fez perceber repleto de pequenos sons noturnos. A casa às escuras me pareceu um santuário. Dormi suavemente.
Levantei cedo na manhã seguinte, sentindo o aroma do café. A pastagem resplandecia sob o sol dourado e o céu limpo.
Caminhamos, Paulo e eu, pela alameda da entrada da fazenda, num passo rápido, sentindo o cheiro característico do mato. Agora já a terra estava seca.
Por volta das onze, já vestida e tendo tomado seu desjejum, Maria Cecília nos convidou para retornamos a Jacarezinho.
- Quero levá-los a uma loja de animais.
Entramos na loja e Maria Cecília se encantou com um cãozinho pastor, negro como tição, lambendo-lhe os pés e abanando o rabo feliz. Ela o chamou de Nego, assim que botou os olhos sobre ele. Depois quis levar também um pinscher. Um cachorro minúsculo e assustado que ela chamou de Tico.
Cada um de nós levou um canário, com as gaiolas devidamente equipadas ao bom convívio do bichinho.
Ao voltarmos para a fazenda os cavalos já estavam arreados.
- Vamos andar a cavalo - falou Sérgio - quero lhes mostrar algo.
Paulo, meu marido, não estava com a mínima disposição. Após trinta anos sem montar, não queria se arriscar. Passado algum tempo eu o convenci à aventura.
Enquanto cavalgávamos a tarde foi caindo. Ao sol beliscar a terra lá estávamos nós, emocionados com o espetáculo. Aquele foi um momento de oração.
- E daí, Paulo? Valeu à pena se arriscar?
Ele não respondeu, apenas sorriu em concordância.
À noite fomos nos reunindo na sala, e o ambiente foi sendo tomado pelos cheiros de sabonetes e lavandas, misturados ao odor de molhos e quitutes que saíam da cozinha para a mesa.
- Depois do jantar eu os convido a outro espetáculo - falou Cláudia - Tenho certeza de que esta noite veremos as estrelas cadentes.
Realmente a negritude noturna foi sendo salpicada de estrelas, paulatinamente, e finalmente pudemos assistir várias estrelas cadentes, numa dança estranha aos olhos acostumados às noites citadinas. Os pedidos foram reforçados. Ouvi meu marido murmurar:
- Isto será inesquecível...
Luiz Antonio aconchegou Jussara em seus braços. A emoção se tornou palpável.
No dia seguinte, Paulo e eu levantamos cedo, por volta das cinco e meia da manhã. A casa estava envolta no silêncio. Medimos nossos gestos e vozes para não acordar ninguém. Olhei a casa e minha mente se encheu de pensamentos agradáveis e generosos.
Paulo ligou o carro e saímos lentamente. No caminho de volta para a cidade e para a nossa realidade, toda aquela magia, conforme o carro ganhava a estrada, foi sendo deixada para trás, mas a lembrança ficara indelével em nossos corações.
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