Pode ser ingenuidade, e até acredito que seja, mas sempre acreditei que jornalismo fosse paixão, inconformismo, inquietação. Acho que foi exatamente por isso que desejei ser jornalista.
Todos rotulavam-me, e ainda o fazem, como pertencente a uma categoria de revoltados (tolice). Mas é engraçado, chego a sentir o sangue ferver quando vejo algo muito errado, grandes intransigências.
Acreditava que o jornalista tinha a raiva correndo nas veias, um desejo seco de vingança na garganta. Pra mim, o jornalista sempre tinha de estar do lado do mais fraco, do injustiçado, daquele que é enganado, passado para trás.
Sabe, imaginava o jornalista como a única proteção contra poderosos. Uma espécie de voz da oposição, o cara que estraga toda e qualquer negociata. Escutava sempre que a imprensa era o quarto poder. Mas achava que era o contra poder, o ponto de equilíbrio da sociedade.
Clóvis Rossi escreveu no livro ‘O que é jornalismo’(coleção primeiros passos, editora brasiliense) que, ‘o jornalismo é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes’.
E é por isso que o verdadeiro jornalista devia lutar, pra conquistar as mentes e os corações do nosso público, mas para o bem, sem distorcer, investigando, denunciando, desmascarando e passando a limpo (como no programa do Bóris Casoy).
Pode ser ingenuidade, romantismo que não leva a nada, mas que profissional serei se não questionar o sistema, a sociedade e os valores imputados pela minoria que manda e desmanda?
Não lhes quero mal, mas também não vou passar o resto dos meus dias escrevendo matérias sobre celulite, como emagrecer ou como arranjar o namorado ideal? Às favas, quero a mudança, o novo, o caos.
É fácil e cômodo adular, mas isso não é jornalismo. Pelo menos não no espírito desse magnífico e apaixonante ofício. Jornalista é vira lata, sonhador, inconformado. O resto? O resto, como disse Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados.
P.S.: Esse texto foi escrito em 1998 e faz parte de minhas memórias que hão de ser legadas aos meus filhos. O caso é que acredito que ele possa servir para alguma coisa, aqui, nesse espaço
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