----- Do céu pleno de cerrada neblina a madrugada portuense bebeu morna e permanente chuva miudinha, daquela que tudo ensopa à sucapa, nesta quarta-feira surprendentemente vazia de noctívagas viaturas à caça de sexo. Nem os habituais enredos fura-vidas se vislumbravam à porta de bares e "boites", de todo em silêncio sem sombras com as mulheres a dormitarem recostadas nos sofás.
----- Este quadro, se é ou não é o prenúncio da crise económica de que toda a gente fala, é pelo menos desolador e convidou-me a reflectir sobre o que de perturbador tenho lido nos jornais, visto e ouvido na televisão e na rádio.
----- O Governo, após só três meses de exercício e ter tomado severas medidas restritivas no domínio da economia, começa a demonstrar inconsequência e falta de capacidade impositiva. O funcionalismo público começa a fervilhar em protestos a par do operariado que reclama salários e subsídios em atraso, bem como outras regalias que cada vez mais sente escaparem-se com a perda do poder de compra e tendente descida do consumo, o que afecta tudo e todos.
----- O euro, com apenas cinco meses de curso efectivo, começa a escassear assustadoramente nas algibeiras dos portugueses de linha social média-baixa e não há nota de cinco que resista aos quotidianos gastos do imprescindível corrente. A inflacção aponta já para mais de 5% e o Banco de Portugal vem à notícia em cinzento e apoquentado pessimismo.
----- Na América, o inepto presidente do mundo anuncia que vai fazer mais uma guerra para nos proporcionar mais um excelente entretenimento visual aos serões.
----- Levanto o rosto ao céu e a chuva miudinha molha-me os olhos como se estivesse a chorar. Não vejo uma única estrela.
----- Sentinela... Alerta!
------------------ Torre da Guia -----------------