Na vida, sofrimento não vem em prestações:
Tudo se paga a vista,
Não raro,
De juros acrescido
E monetariamente corrigido.
Na vida, sofrimento não vem a varejo:
Tudo vem em atacado,
Não raro,
Em pacotes bem fechados,
Embrulhado em papel de presente.
Na vida, sofrimento não vem gotejando:
Tudo vem de enxurrada,
Não raro,
Inundando o coração cansado,
Afogando as poucas esperanças.
Na vida, sofrimento não envia telegrama:
Tudo vem de repente,
Não raro,
Chegando de malas prontas,
Cheias de surpresas.
Na vida, sofrimento não manda recado:
Tudo se diz sem meias palavras,
Não raro,
Magoando a quem o ouve,
Cheio de desaforos.
Na vida, sofrimento deveria ser em suaves prestações,
Para não ser notado no bolso da alma.;
Deveria ser bem a varejo,
Para não ser tão pesado nos braços da vida.;
Deveria ser gota a gota,
Para ser bem sorvido e aos poucos bebido.;
Deveria chegar de sobreaviso,
Para ser recebido e acomodado nos fundos.;
Deveria mandar avisar,
Para ser ouvido e depois esquecido.
Enfim, sofrimento não vem calçado à nossa porta,
Vem descalço para não fazer barulho.
Feira, 24 de novembro de 2002.
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