A vida é como o ar que se respira:
É tão efêmero enchendo os pulmões,
Que deles sai como se nada acontecesse
E muda de repente num suspiro.
Passa pelos olhos
E ninguém a vê passar.
Procura-se respirá-la,
Embora seja incontida.
Onde se está e aonde se vai,
Sempre se respira,
Enquanto se pode resistir.
Nesse ar carregado de desejos,
Pode ser asfixiante,
Como alguém perdido no vácuo,
Desesperado,
A buscar um hausto renovador
Que o reanime,
Mas ninguém a retém
Nas mãos transitórias.
Pode-se a vida apenas sentir
Como um vento passante a distância soprado,
Parecendo cessar
Quando se chega ao fim da expiração:
O movimento pára,
O ar permanece.
Mas o vento não tem real existência,
Como o ar a mover-se
Entre as folhas e as flores,
Como a vida a mover-se entre os seres.
Sentir aqui indefinidamente a vida
Em verdade não se pode,
Pois, retida,
Pode ser asfixiante.
Feira, 06 de março de 1994. |