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Artigos-->A corrupção nunca vai acabar -- 10/05/2010 - 18:00 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amadurecer é saber conviver com o torto. Aprendi isso com um amigo, político respeitado em nossa cidade. Na verdade, ele não me disse exatamente isso. Não disse, aliás, nada próximo disso. A fala dele foi mais específica e se referia à corrupção na política: “Não há política sem alguma corrupção!”. Antes que você interprete a afirmação com uma risadinha maliciosa, “só podia ter sido dita por um político mesmo”, saiba que o autor é até hoje considerado uma reserva ética e moral por aqui. Já ocupou cargos no poder legislativo e também no executivo, sempre com a correção que se espera – e dificilmente de obtém - de um homem público.

Confesso que, à época, estranhei a observação que foi elucidada com uma metáfora poderosa. A política é o corpo humano. Uma criança que fique impedida pela mãe de andar descalça, de sujar as mãos e as roupas, de enfiar brinquedos na boca, acaba se tornando um serzinho sem resistência, o menino magrela que anda sempre doente, a menina anêmica que nunca pode fazer nada pois está sempre com algum troço contagioso. Criança que não se suja, para o desespero das super mães, não desenvolve anticorpos suficientes para lutar contra doenças. É estranho, mas é científico: o corpo precisa de certo número de bactérias.

A metáfora nem pede explicação, mas vou dar assim mesmo. As bactérias são os corruptos. Sem eles, a política não desempenha o seu papel que é, em tese, buscar o bem comum. Líderes políticos que pregam “corrupção zero” ou são mentirosos ou ingênuos, feito mães superprotetoras. Não há política sem corrupção, como não há corpos livres de bactérias, laranjais sem frutas podres, e quantas metáforas mais você quiser inventar.

Da mesma forma, não há organismo que aguente um número elevado de bactérias, vírus ou outros corpos estranhos. Contaminado por algo mais forte que os seus sistemas de defesa, o corpo adoece e morre. Corruptos em demasia matam o país, o estado, o município, o sindicato, a associação, a empresa ou a família. O segredo seria manter a corrupção sob controle, sob vigilância. Sem exageros, ou a organização, seja de que tamanho for, vai existir só para eliminar os corruptos e vai esquecer aquilo que já citamos: a promoção do tal bem comum.

Aceitar esse tipo de raciocínio é algo pesado. Principalmente para os jovens. A pouca idade é quase sempre sinônimo de vontade de consertar – e concertar – os erros do mundo e o mundo em si. Todos nós, em algum momento da vida, pintamos a cara, real ou simbolicamente, e lutamos para alcançar um estado de pureza em alguma área. Estávamos certos, sempre. Protestamos, bradamos, exigimos, até passamos do limite. Esse é o papel que os jovens devem mesmo desempenhar. Alguém tem que denunciar a canalhice do mundo. Lamento, inclusive, perceber que os jovens do século XXI estão se acomodando muito cedo, mas essa é outra história. O assunto aqui é: amadurecer é aprender a conviver com o torto.

Parece papo de velho entreguista. Nem velho, nem entreguista. Acontece que, com o tempo, percebe-se que perfeição é tema de conto de fadas. Tentar deixar tudo perfeito é gastar energia com trabalho inútil. Não sei quanto a você, mas eu não tenho mais tempo para perder tempo. Muito menos para perder energia. O máximo que um indivíduo pode fazer é cuidar para que a própria vida esteja o mais próximo possível de um conceito muito particular de perfeição, no qual alguma falha seja não só aceita como bem-vinda.

Esta é a questão que parece incomodar os puristas politicamente corretos: se ninguém é capaz de garantir 100% de lisura em seus próprios atos, como virar juiz da corrupção alheia? Um jovem paz-e-amor, há umas dezenas de séculos, disse isso de um jeito bem poético: “Quem nunca errou, que atire a primeira pedra” . Tudo bem que, em versão não autorizada, teve um carinha que atirou com vontade um belo pedregulho na pecadora, ao que lhe perguntaram: “Você nunca errou?” - e ele respondeu, orgulhoso: “Dessa distância eu nunca errei, não”. Na mosca.



*Publicitário e professor de língua portuguesa. É torto mais é feliz.
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