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cronicas-->Irresistível -- 15/07/2002 - 00:38 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu bem que tentei, e imagino que alguns possam testemunhar isso, porém, jamais conseguiria abrir mão desta oportunidade rara de falar sobre Copa do Mundo. Não sobre futebol, que fique bem claro - até porque uma coisa não tem nada a ver com a outra -, mas sobre esse torneio que nos mobiliza e empolga de maneiras tão distintas à medida que o tempo passa.

Lembro-me perfeitamente da Copa que me serviu como portão de entrada para esse mundo mágico. Foi a de 82, na Espanha. Antes disso me ocupava com coisas mais sérias como, por exemplo, minhas dezenas de times de futebol de botão e os campeonatos que organizava e jogava, quase sempre sozinho. É evidente que possuo gravados na memória alguns sons e imagens da Copa de 78 realizada na Argentina - campos repletos de papel picado e gritos salvadores de "Amaral, Amaral" -, só que até então, ficar uma hora e meia assistindo tv não era algo que me parecesse interessante.

Ou seja, tudo começou mesmo em 82, quando eu já tentava completar o álbum da Copa, procurando quase em desespero nos chicletes Ping Pong a figurinha do Naranjito - mascote oficial da competição. Naquele ano, até o primeiro jogo do Brasil coincidiu com o dia do meu aniversário. Na verdade, nasci em fevereiro, mas por um desses milagres que somente pai e mãe sabem fazer, a rígida linha do tempo fechou os olhos por alguns instantes e me permitiu aniversariar em junho. Justamente no dia do jogo!

E como não poderia deixar de ser, o bolo era um campo de futebol. Dez ou doze bonecos pequenos, pintados de amarelo uns, e de vermelho outros, representavam as duas seleções que se enfrentariam: Brasil e Rússia. Havia ainda uma bola de isopor que aguardava solenemente o pontapé inicial sobre o gramado de açúcar granulado verde.

Aquela copa foi uma beleza! Nossa seleção desfilava em campo. A superioridade do escrete canarinho era evidente e jogo após jogo quem quer que nos enfrentasse caia diante do futebol soberano que apresentávamos. Até os argentinos sucumbiram ao nosso jugo. Eu, contudo, exceto pela primeira partida, mantive sempre a compostura. Nada de festas ou algazarras. Desde cedo gostei de assistir aos jogos quieto. A única manifestação que arrisquei foi justamente no jogo contra a Itália, quando enfeitei a enorme varanda do quarto andar do edifício Mariglória com muitas daquelas bandeirinhas de desfile de sete de setembro, procurei adornar todo o resto do apartamento com qualquer objeto verde e amarelo, e, salve o engano, até coloquei na vitrola de minha irmã um LP com músicas da seleção: "Voa canarinho voa...". Perdemos o jogo e os canarinhos voaram mesmo. Em bando, e de volta para o Brasil.

Àquela primeira decepção somaram-se outras. Em 86 eu já era um rapazinho quando assisti, sem nenhum adereço extra, e entre uma onda e outra, a França nos eliminar nos pênaltis. Em 90 foi ainda pior. A Copa do Mundo já se tornara capaz até mesmo de atrasar a minha saída para a praia, mas, apesar de todo esse empenho e da minha já tradicional abstinência alegórica, Maradona y sus amigitos nos mandaram de volta para casa com um único, safado e ingrato golzinho. Vi tudo isso em casa mesmo. Certamente por conta da experiência de 82, cultivei o hábito de evitar festejos em época de Copa. Pelo menos até ali.

Em 94, já na faculdade, me sentindo um exímio conhecedor da arte futebolística e, portanto, desiludido quanto às chances de sucesso do esquema defensivo da nossa seleção, deixei um pouco de lado certos pragmatismos e fui assistir a alguns jogos na casa de amigos. A final, por exemplo, vi no apartamento do primo de minha noiva. Aliás, aquilo é que é alegria! Para quem, como eu, tinha nascido e crescido tri, experimentar o prazer de pôr mais uma estrelinha no peito e virar tetra, era demais. Pouco importava se o jogo tinha sido decidido nos pênaltis depois de um enfadonho empate sem gols. Por sinal, depois daquela decisão o nosso treinador Parreira provou estar certo ao afirmar genialmente que "gol é apenas um detalhe".

Quatro anos é tempo demais. Em 98 eu já estava casado e com dois filhos. Não mais a praia, mas o trabalho me ocupava o dia e, por isso, nem sempre era possível estar em casa para ver os jogos. Mais, até! Cerveja gelada, amigos e telão, pareciam ter sido criados especialmente para eventos como a Copa do Mundo. Sem muitas alternativas, fui para os bares. Contrariado, tive até que viajar em meio à competição. Mais bares. Sossego mesmo apenas na final. Assisti na casa de meu sogro. Sem festa, sem cerveja, sem enfeites; exatamente como eu sempre gostei. Perdemos de três a zero para os franceses.

Mais quatro anos e aqui estou. 2002. Pentacampeão. Agora são três os meus filhos. Agora é Vitória da Conquista a minha cidade e agora já não posso comemorar ou comentar as partidas com o meu pai.

À exceção dos jogos contra Costa Rica, que assisti na casa de um amigo, e Bélgica, que assisti em um hotel, todos os demais eu pude ver em casa. Na final contra a Alemanha, entre um gol e outro, fiquei olhando meus filhos que brincavam próximos à tv. Pareciam completamente desinteressados pelo jogo. Queriam mesmo é saber quando explodiriam os fogos. É que a mais velha queria pular, o do meio se esconder, e o menor fazer qualquer uma das duas coisas. Ainda são deliciosamente pequenos.

Até 2006 teremos mais quatro anos. Para os adivinhos e futurólogos passo a responsabilidade de prever e contar as histórias que ainda não vi. Porém, mesmo sem ter dom ou capacidade para tanto, arrisco um palpite: esteja onde estiver, vou ver a Copa. Afinal, não posso negar, ela é mesmo irresistível!
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