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Artigos-->2611 -- 28/05/2010 - 18:13 (maria da graça ferraz) |
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"Poema feito para a chuva que caiu hoje no posto de saude"
Era uma água cheia de preguiça
a água que caía
Água de chuva gorda
fora de forma
que se enrolava como treliça
batia na cabeça na perna e doía
As crianças respiravam pela boca
Nariz entupido. Pulmão mole
como uma bóia quase vazia
Mas criança terceiro mundista
sobrevive. Tém guelra.
Tém barbatana. Adapta.
Se lançada na água, prega,
não afunda, tém meleca
no sangue e gelatina nas veias
Era uma água que escorria
áspera como arrulho
de pombo no telhado
Caía produzindo acordes
entre as árvores
como seu chicote
E havia rumor de vaga alta
em meio a tosse
Doce e terrível
é esta água diziam
enquanto com as mãos
molhadas se benziam
" Esta água não lava, esfrega"
Advertia e velha
com sua voz purgativa
E a água como se a ouvisse
fazia o que ela dizia
com sua vassourinha de piaçaba
e suas botas de borracha
e ia desentocando lacraia,
escorpião,larva de mosquito,
peixe boi, arraia
e endurecia o seinho
das moças virgens
que fingiam frio
Era assim a água que caía
E caía aflautada
como torneira estragada
sobre a pia
E todos mantinham-se
parados e tristes
abaixo da marquise
Gestos pesados
Nucas endurecidas
Pobres. Doentes.
Sem feições.
Com um fígado grande
Um baço. Alguns dentes
Um coração
Mal riscados
Algo oval sustentado
por duas pilastras
quadradas que desciam
até o chão
Encostados à parede
mariscos
Olhos encovados
Linguas saburrosas
COM inexplicável SEDE
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