Quem sabe, amanhã,
chegue até a porta deste hospital,
um sol tímido, face de romã,
com suas botinhas de pelúcia,
a pedir um pouco de água
em sua canequinha fúccia
Quem sabe, o sol
inicie uma dança de improviso,
iluminando nossos pés
e nos devolva a chave
que abre todos os sorrisos
de mim a ti
Quem sabe, o sol
nos traga um bom motivo
para não termos mais porque fugir
Talvez, mostremos ao sol-
encabulados, descoloridos-
o nosso caminho sombrio,
lavado, chão de granito,
cujas palavras se perderam
como abelhas tontas,
debandadas, sozinhas,
dentro do oco do violino
Quem sabe, o sol,
nos revele o mistério
do calor através da fricção,
boca a boca,
peito à peito,
mão com mão
Quem sabe, até, condoído,o sol
seque as lágrimas que nos cegam,
brilhe os corpos opacos,
atiçe nosso coração tão fraco,
e faça aparecer um esconderijo
entre os olhos
entre as camas de ferro
entre os silencios
E, antes de ir embora,de mansinho,
possa o sol nos devolver, ao menos,
um lápis de cor
um caderno de desenho
e uma fogueirinha
Quem sabe, amanhã,
ou depois de amanhã,
ou no próximo mes,
quem sabe, um dia,
um dia, talvez
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