Usina de Letras
Usina de Letras
161 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62236 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50631)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140806)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6191)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Na Beira da Estrada -- 22/09/2002 - 13:12 (lielson zeni) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estrada era pouco movimentada. Os olhos dos meninos não piscariam. O ar se pintaria com o gosto de borracha queimada. O baque surdo da pancada ainda ressoaria pelo túnel próximo. O asfalto, sempre tão cinzento, receberia um gradiente vermelho. O sol forte soaria à todos.
Uma roda desafiaria o equilíbrio, indo ebriamente para lá. Uma velha acharia graça de tão divertida peripécia da roda com o pneu estourado; se riria. Riu, e foi-se.
Os catatônicos meninos, continuariam com seus olhos infantis. Do meio da ferragem surgiria um gemido. Uma mão direita se ergueria e um débil pedido de ajuda seria pronunciado. Seu Costa, conhecido piadista local, pediria para que ele falasse mais alto, pois não entendia o que ele queria. Todos ririam abertamente. É, esse Seu Costa é fogo! O mormaço que irradiaria do asfalto, faria os pés ficarem lisos nos chinelos.
Um novo gemido se ouviria. As pessoas tomariam uma atitude: discutiriam a razão do ocorrido, assim como a responsabilidade. Moisés diria que ouviu um estrondo que pensou ser um trovão, Rute, Noemi e Mara, que moravam juntas, diriam que pelo barulho, parecia que um gigante tombara, Elias, falaria do carro em chamas e como ele parecia querer subir ao céu, Judite, seria desconsiderada, Batista, contaria sobre reluzir prateado que o aterrorizava, Zézinho, sobre o motorista ter perdido o prumo, o controle, De Jesus, que o condutor estava fora de si, não sabia o que fazia, Dona Milagres, contaria como aquela lama em que o carro se encontrava era capaz de curar, Seu Cruz, discorreria sobre a dificuldade de subir esse trecho tão carregado, Carneiro, pensaria em quem tomaria a culpa pelo erro, e Saulo, diz ter visto ao longe um cegante clarão, e corrido para cá. Discutiriam mais algum tempo, e concordariam que aquele da contramão estava errado. Após, reforçariam advertências uns aos outros e lembrariam outras tragédias, descobririam que o homem na fuselagem do que fora um carro, era o acidentado, não o acidentador. Pelo menos é o que lhes pareceria.
Uma voz rouca e angustiada balbuciou algo que não pude compreender. As pessoas conversariam se não seria perigoso aquele sangue todo no chão. “- sei lá, a AIDS, nunca se sabe, né?!” Perceberiam que o sangue corria com maior fluência, um pequeno riacho escarlate, que com aquele sol forte asumiria um tom vivo.
Passaria algum tempo para perceberem que haviam parado de ouvir sons da pessoa dentro da fuselagem amassada. Até a mão pararia de se mexer, e despencaria para o lado. Parece que morreu, diriam alguns.
As crianças de olhos estatelados, não mais pueris, seriam puxadas pelas mãos. Ainda comentariam o assunto pelo caminho, sobre coisas que Deus quer, sobre hora e algo assim.
Agora que todos já estão longe e conversam algo que eu não consigo mais ouvir, o sangue pára de escorrer e a fumaça de nublar minha visão. Tenho a impressão que a mão novemente se moveu, e que ouvi um novo gemido de ajuda.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui