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Artigos-->ABRAM ALAS, -- 03/07/2000 - 21:56 (Marco Aurélio Bocaccio Piscitelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ABRAM ALAS,



Foi necessário que a violência atingisse níveis epidêmicos no Brasil para que fosse notada. Foi também necessário um período pré-eleitoral, pleno de pesquisas indicativas das aflições dos eleitores, para que o clamor popular pudesse ser ouvido e alguma coisa viesse a ser tentada. Então, veio o Plano Nacional de Segurança Pública, anunciado com a pompa majestosa dos grandes pacotes econômicos.



No estadiamento da violência urbana, um câncer em fase terminal, quase tudo foi proposto, como é a praxe do ritual do desespero – até instalação de postes de luz para os assaltantes e criminosos não terem de tatear no escuro, pudor, aliás, que eles já não vinham manifestando nas últimas investidas. A julgar pelo conjunto de medidas, é como se o Governo atual estivesse por assumir o poder, hoje fosse janeiro de 1995.



Se os 124 itens do Plano forem realmente implementados, toda a máquina pública ficará impedida de se desincumbir de suas atividades específicas para dar conta da ciclópica área de abrangência das ações exigidas.



O fenômeno da violência passou a ser tão universal e onipresente neste País, que tudo passou a ser catalogado como causa, concausa ou fator desencadeante do horror vivido pela população. Parece que o material inflamável deixou de ocupar os compartimentos que lhe são reservados para expandir-se por toda a atmosfera das relações sociais. A suspeita, a insegurança e a desproteção nos acompanham em tempo integral e dedicação exclusiva. Com todo o respeito que possam merecer os estudiosos acadêmicos do tema, não há mais espaço para tergiversações e teses rebuscadas. É preciso agir, até meio sem rumo, para produzir resultados que não nos subordinem aos interesses da bandidagem.



Há, sim, que combater a desigualdade social e econômica, gerar emprego, promover acesso à educação, desarmar a população, coordenar as funcões das polícias, mas...convenhamos, tudo isso nem começou depois de 500 anos de Descobrimento. A meu ver, o Plano e as iniciativas até aqui adotadas não contemplam o que de mais óbvio, simples e imediato tem de ser pensado: o saneamento do espaço público, a desobstrução de ruas, passeios, parques e praças. Não é mais possível tolerar o loteamento e a apropriação do espaço de circulação das cidades por bandos informais, que impõem o seu modo de funcionamento. Não é mais suportável ser leniente com a existência e proliferação de personagens que, supostamente, ocupam as vias públicas para não roubar ou delinqüir. É curioso constatar como a sociedade brasileira marcha para o impasse das falsas soluções ao aceitar o país do futuro e dos contrastes eternos. Os brasileiros pagam para não se incomodarem e se incomodam. Essa vista grossa das autoridades, compreensiva e generosa com a miséria, vem sendo a responsável pela construção de um túnel secreto e invisível de articulação da contravenção, do crime e das transgressões mais selvagens.



Para mim, a deterioração do espaço de trânsito público é o marco de fundação da desordem e violência urbanas. Todas as maquinações, intermediações e negociações de assaltos, crimes, seqüestros, transações ilícitas, tráfico de drogas perpassam por esse campo de ocupações ambíguas, artificialmente produzidas pelo ímpeto nem só de sobrevivência básica. Essa sobrevivência sofrida, que a todos comove, oferece oportunidades imperdíveis de inserção num universo sem lei. É aí, nas ruas, que se formam as redes, as teias de informações e o recrutamento para as operações do submundo. A rua é o point onde todas as armações são costuradas.



Por isso, não há política de segurança pública que resista à permanência dessa legião de fachada que decide a sorte de pessoas e patrimônios.



Flanelinhas, pedintes, meninos/adultos de rua, moradores de vãos de pontes, camelôs (vide “feiras do rolo”, feiras de artigos contrabandeados), vigilantes informais, profissionais do sexo, traficantes, cambistas e outros precisam ser despejados das ruas para que os pedestres voltem a caminhar, conversar e se encontrar livremente. Sem medo. Sem assédio. Sem constrangimento. Sem manual de conselhos para sua segurança. Sem desvio de caminho. Sem pressa. Olhando. Com o coração dentro do peito, os braços soltos, balançando. Por favor, plantem mais verde,



QUE EU QUERO PASSAR.

____________________________________________

Marco Aurélio Bocaccio Piscitelli

Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta da UFRGS.

E-mail: bocaccio@terra.com.br

Junho/2000



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