Barro seco, vermelho, muros ao redor, lá estava o velho campo do Santago. Muitos craques já pisaram em sua grama, melhor dizendo, vários projetos de craque já pisaram em seu duro barro. Era a diversão da garotada, principalmente dele, o bactéria, que comparecia todas as tardes para jogar a famosa pelada.
Bactéria, até hoje não se sabe seu verdadeiro nome, era um sujeito pra lá de esquisito, de altura mediana, bem magrinho(talvez desnutrido), moreno claro, idade desconhecida, uns diziam que ele tinha 14, outros achavam que já era maior de idade, enfim, não dá para precisar. Cabelos crespos e um rosto maltratado, andava sempre maltrapilho e tinha uma orelha desproporcional ao rosto, ao corpo, a tudo.
O principal objetivo de Bactéria era ser jogador de futebol, não almeja tanto o sucesso, se desputasse o intermunicipal já estaria satisfeito. Jogava no campeonato do bairro e era considerado a principal estrela do Sifazenda futebol clube, não é pra menos, só tinha perna-de-pau.
Dentre as suas raras qualidades, estava a velocidade, a raça e o preparo físico. Chutava com as duas pernas, mas pouca pontaria possuia. A maioria da garotada considerava-o como um desastre, poucos achavam que ele teria futuro.
Ensolarada tarde de domingo, lá estava o campo do santago, lotado, muitos queriam assistir a final do campeonato de bairro entre Sifazenda e vitorinha. O Sifazenda era a surpresa do campeonato, a zebra, e o vitorinha o favorito, que possui a máquina de fazer gols, o boca-de-peixe. Todos esperavam o grande duelo entre Bactéria e Boca-de-peixe. Bactéria usava a camisa 10 e era o mais "mascarado" dentre os participantes do torneio, sempre repetia que iria detonar no "crássico" e que chegaria a marca dos 15 gols no campeonato.
No início do jogo o vitorinha botou pressão, mas o goleiro do sifazenda, Capachão, estava em tarde inspirada e não deixava passar nada. Num contra-ataque o sifazenda supreendeu e abriu o placar com o gol do companheiro de ataque de bactéria, maluquinho. Fim de primeiro tempo e todos já gritavam é campeão!campeão! Apesar disso, Bactéria não se animava, pois faltava o seu gol, ele não poderia passar em branco logo na final.
Início de segundo tempo e a pressão do vitorinha era sufocante até que Boca-de-peixe não decepcionou e empatou o jogo ao driblar dois defensores e colocar a bola no canto direito de Capachão.
Bactéria não conseguiu tocar na bola, estava bem marcado e seu nervossísmo já estava a flor da pele, quase agrediu o arbítro, e acabou levando cartão amarelo que ficou barato. Aos 44 minutos do segundo tempo bactéria recebeu a bola driblou um, dois, três, o goleiro e quase sem ângulo perdeu o gol, isso mesmo, perdeu aquele que seria o mais belo gol de sua vida.
Jogo empatado, disputa de penalidades que acabou em 5 a 4 para o vitorinha. Bactéria fez o gol de penalti, mas não adiantou, maluquinho mandou a bola na lua ao cobrar o último penalti.
Outros campeonatos seguiram-se, com Bactéria cada vez menos presente, nunca conseguiu ser campeão, mas deixou sua determinação e coragem como marcas registradas.
O projeto de craque não foi adiante, assim como seu sonho, ficando no meio do caminho, pois o craque deu lugar ao crack. |
