86 usuários online |
| |
|
Poesias-->Infância, estrelas e afins -- 04/12/2002 - 17:12 (Fabiano Conte) |
|
|
| |
Se tivesse sido criado entre campos,
Lagos, arbustos e rios, talvez pudesse
Até produzir belos poemas dizendo destas
Coisas próprias e anteriores.; entretanto,
Delas não possuo sequer a falta, confirmando
O tolo e óbvio empirismo de não ter-se
Saudade do que não, ao menos, se conhece.
Minha infância passou-se entre um jardim
Suspenso que permitia-me alguns insetos
Voadores (os vasos de minha avó
pendurados ao teto).;
Quatro paredes (principalmente), e
Grandes devaneios sobre pequenos conceitos
Que eram-me como coisas concretas.;
Por este motivo, a maior distância
Que consigo de mim mesmo
É a de estar-me observando de
Um lado de fora que não é nada
Senão frestas nas paredes e
Tetos de minh’alma.
Tudo o que sei da natureza diz
Respeito a uma natureza recriada.;
O riacho que corria à porta de casa era
Uma grande avenida, a qual servia-me para
Saber de animais em bando quando havia
Morte e necessidade de afastamento para
Que todos não rissem ainda mais
Perto do corpo estilhaçado:
Acredito que por isto desde cedo soube de
Uma maldade humana que não consigo definir,
E dela disparei para um outro lado como
Aqueles foguetes que via decolando na TV, os
Mesmos que eu tentava encontrar quando a luz faltava.
(Qual criança nascida em uma cidade, depois da
segunda metade do século XX, não foi ao menos
um grande piloto de nave estelar?)
Foi em uma destas faltas de luz que reparei
Pela primeira vez nas estrelas, e decidi que
Elas seriam as primeiras coisas transferidas
À cobertura de minha inconsciência
Para que as paredes, a partir disto,
Cobrissem-se de algo bom, nem que
Houvesse aflição e pesar, pela incompatibilidade
Com a realidade baça com a qual minha consciência
Mais tarde se depararia.
24/02/97
|
|