Usina de Letras
Usina de Letras
299 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62176 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->MEMÓRIAS DE UMA FOLHA -- 24/09/2002 - 13:59 (Neli Ferreira Leal Amaral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu já fui uma folha verde. Verdinha, verdinha que só vendo.
Cheia de vida, eu vivia unida a um galho da minha mãe árvore. Um galho lá no alto, pertinho do céu.
Eu podia admirar toda a beleza do céu azul, das nuvens brancas e dos raios de sol. Confesso que nos dias de tempestade eu tinha medo dos relâmpagos que deixavam o céu assustador. Eu estremecia toda com o ribombar dos trovões.
Mas, quando a chuva caía, era uma alegria só, pois lavava a poeira acumulada em meu corpo e reavivava o meu verdor.
Os passarinhos faziam ninho num galho próximo ao meu e, eu podia apreciar o colorido de suas penas, a beleza do seu cantar e a maravilha da vida que brotava dos seus ovinhos tão pequeninos.
Eu ia vivendo... Gostava de ser folha... Eu tinha o meu valor...
Eu gostava de cooperar na purificação; ficava feliz quando o transeunte cansado se abrigava à sombra da árvore mãe; me divertia ao ver os moleques peraltas trepando nos galhos, fazendo piruetas, tentando resgatar as pipas coloridas que se emaranhavam; gostava de ver a algazarra da passarada no fim da tarde; vibrava de emoção ao ver os namorados sussurrando, trocando juras de amor e marcando suas iniciais no tronco rugoso.
Mas, eu percebia que a cada inverno que passava, caíam muitas folhas, minhas irmãs.
Eu ficava imaginando para onde iriam. Quem sabe conhecer um mundo novo, diferente...
Nos meus questionamentos de folha inquieta, eu sempre me perguntava: “Por que nasci? Para onde irei? O que será de mim?”
Chegou a hora da descoberta...
Um certo dia, a brisa suave da tarde resolveu se enfurecer, e numa lufada desligou a minha haste do ramo e, eu caí... Ou melhor, voei... Como os passarinhos... Como as pipas coloridas... Voei e rodopiei, levada pelo vento...
Neste rodopio louco e inesperado pude observar muitas coisas desconhecidas até então.
Vi muitas casas, animais, plantações, muita gente; vislumbrei um mundo enorme e assustador e senti-me sozinha.
Pude ver tão próximos um do outro, os contrastes desse mundo tão grande em que sempre vivi, mas por estar presa ao meu pequeno mundo, não podia perceber.
Vi o barraco e a mansão; o rico e o mendigo; a fartura e a miséria; os altos montes e os fundos vales. E rodopiando sobre mim mesma eu pensava: “Meu Deus, como é grande este mundo que criaste! As diferenças são tantas e eu em nada contribuí para ajudar a mudar esta realidade. Será que ainda terei tempo para fazer algo?”
Deixei-me conduzir pelo vento, mesmo porque de nada adiantaria brigar com ele. Era mais forte e poderoso do que eu e, naquele momento, eu apenas tentava entender o que acontecia comigo.
Muito além, longe da minha árvore mãe, fui depositada no solo, suavemente, junto com outras folhas semelhantes a mim; algumas se encontravam ressequidas, outras ainda entrevendo um pouco de verde.
Senti saudades do meu galho... Onde estaria ele? Estaria sentindo a minha falta? Notaria a minha ausência?
Não importa... O que passou ficou para traz e já faz parte da minha história de vida. O mais importante agora é viver o instante presente e buscar um aproveitamento melhor do que virá pela frente.
Hoje, eu tenho apenas uma certeza: fui e continuarei sendo apenas uma pequena folha.
Neste momento sou apenas uma folha seca, que junto com tantas outras se transformará em húmus para fertilizar a terra e dar vida a novas folhas que virão.
Agora sim, eu já descobri por que nasci e para que vim a este mundo... Para ser húmus.
E consciente, quero assumir até o fim este meu papel.
Quer ser húmus! E dos bons!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui