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Artigos-->A guerra de palavras de Hugo Chávez: puro despiste -- 26/07/2010 - 08:46 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Folha de S. Paulo - 26/7/2010



ANÁLISE



Venezuela e Colômbia: uma ruptura perigosa



JUAN GABRIEL TOKATLIAN



ESPECIAL PARA A FOLHA



Há pelo menos três anos, a natureza do relacionamento entre Colômbia e Venezuela mudou. Nesse sentido, a dinâmica que a luta armada na Colômbia exerce, em seu território e em suas fronteiras, e as profundas mudanças políticas e militares no mundo andino hoje tornam mais provável que surja um entrelaçamento entre conflito interno e internacional.



Se somarmos a isso o papel importante e contraditório dos EUA nas relações triangulares entre Bogotá, Caracas e Washington, o panorama se torna ainda mais complexo.



O dado que mais se alterou foi a transformação sofrida pelo dilema de segurança entre Colômbia e Venezuela. Se bem esse dilema não seja novidade ou tampouco excepcional, chegou a um grau de agravamento inusitado.



O fato é que hoje nem Bogotá e nem Caracas acreditam que as ações do país vizinho sejam conduzidas sob a tônica da dissuasão ("deterrence", na terminologia anglo-saxã); ou seja, não acreditam que a mensagem transmitida de um a outro signifique "não me ataque, porque o custo de fazê-lo será maior para você, já que empregaremos todo o nosso poderio em represália".



O que predomina é a percepção daqueles que procuram reverter ("roll-back", na terminologia anglo-saxã) os avanços conquistados pelo outro. Significa que Bogotá procura (com a ajuda dos EUA) forçar o recuo da revolução bolivariana de Hugo Chávez, e que Caracas procura (com a ajuda das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, ou Farc), promover a queda do regime político de Bogotá.



Agora, o relacionamento bilateral ingressou em uma fase mais perigosa. Por decisão do governo da Venezuela, foram rompidas as relações diplomáticas entre Caracas e Bogotá.



Fora da Colômbia, a impressão é a de que o presidente Álvaro Uribe, com as denúncias que fez, procurou agravar a situação a duas semanas da data da posse de um novo presidente.







INTERPRETAÇÕES



Gostaria de me alongar na análise da situação colombiana, sem levar em conta a questão de provas, de sua pertinência ou de seu alcance, e pretendo sugerir quatro maneiras de compreender o ocorrido.



A primeira delas tem por base a personalidade e o estilo do presidente Uribe. Audacioso, inflexível e frontal, ou desmedido, imprudente e provocador são os adjetivos que costumam ser usados para descrevê-lo. Tanto de uma quanto de outra forma, teria sido sua personalidade que precipitou a situação existente, para provocar uma reação de seu colega venezuelano.



Uma segunda interpretação se relaciona às convicções ideológicas de Uribe: ele desejaria concluir seus oito anos de mandato tendo a certeza de que existe um limite definitivo, interno e externo, para aquilo que a Colômbia considera aceitável em sua luta contra agentes armados.



Em ambos os casos, trata-se de decisões individuais que, por conveniência ou convicção, Uribe decidiu tomar antes de concluir seu mandato. Nos dois casos, o papel do presidente eleito, Juan Manuel Santos, deve ser considerado como secundário; ele estaria, de maneira silenciosa e pragmática, aceitando a determinação de Uribe, presidente ao qual até recentemente serviu como ministro da Defesa e proponente da adoção de uma linha dura diante da Venezuela.



Paradoxalmente, caso Santos apresente perfil mais moderado ao assumir o Executivo, teria a chance de redefinir, talvez sobre bases razoavelmente mais positivas, a relação hoje desgastada com os venezuelanos.



Uma terceira leitura conduz, em lugar disso, à interpretação de que a situação atual pode resultar de uma política de Estado. Uribe, desconsideradas suas opiniões pessoais, teria aceito o desafio de conduzir o caso à OEA (Organização dos Estados Americanos) porque o aparelho civil e militar do Estado e boa parte dos cidadãos colombianos estariam plenamente de acordo com uma redefinição substantiva da relação com a Venezuela.



Nada mais deve continuar sendo como foi no passado, e o objetivo seria reorientar completamente o vínculo entre Colômbia e Venezuela em cada um dos planos do relacionamento bilateral.



O novo presidente talvez tenha declarado há alguns dias que seu objetivo seria promover uma melhora gradual no relacionamento entre os dois países, mas isso não significa que Santos deixe de presumir que, daqui por diante, a Venezuela deve oferecer provas contundentes de mudança, para que isso venha a possibilitar uma retomada das relações.



De certo modo, Santos, como ministro, foi um dos principais arquitetos de uma estratégia ativa de denúncias e pressão contra Caracas. Durante a campanha presidencial, indicou que, caso eleito, voltaria a usar a força contra um país vizinho se surgisse situação como a de março de 2008, que levou a um ataque contra um acampamento em território equatoriano para eliminar Raúl Reyes, um dos principais líderes das Farc, realizado quando Santos era ministro.



Uma quarta explicação, que reforça a ideia de que o comportamento atual é uma política de Estado, presume que, apesar das declarações divergentes que fizeram recentemente com relação a Caracas, Uribe e Santos teriam de algum modo coordenado os passos a seguir com relação à Venezuela.



Seria uma repetição, guardadas as distâncias e diferenças, do esquema usado pelo Partido Revolucionário Institucional mexicano nas décadas em que controlou o governo e o aparelho de Estado.



O presidente em final de mandato arcava com o custo de políticas econômicas impopulares (cortes, ajustes etc.,) para propiciar ao sucessor maior margem de manobra, o que permitia reforçar ainda mais a política já estabelecida.







ARTIFÍCIO RETÓRICO



É essencial distinguir de maneira clara e realista qual é a posição assumida por Bogotá. O recurso à intermediação da Unasul, do Brasil ou da OEA são e serão apenas artifícios retóricos caso não exista um conhecimento mais claro quanto ao que está acontecendo.



Caso uma das duas primeiras opções mencionadas proceda, talvez seja o caso de encontrar soluções depois de 7 de agosto, quando Santos tomará posse. Um espaço estreito para distensão, talvez com verificação por parte do Conselho de Defesa Sul-Americano, poderia surgir caso a terceira opção seja a correta. Mas é provável que não faça sentido buscar um reatamento improvisado das relações desgastadas se o quarto caso representar a explicação verdadeira.



De todo modo, a América do Sul deve se preparar, nesse caso, para uma política de controle de danos, e não de redução de tensões.



JUAN GABRIEL TOKATLIAN é professor de relações internacionais na Universidade Di Tella, em Buenos Aires, Argentina.





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