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Contos-->O Destino de Larápio -- 26/09/2002 - 11:53 (Zerbinato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nossa estória tem início em um bairro afastado, na Zona Norte de São Paulo. Jd. Peri, “próximo ao Horto Florestal, um pouco pra lá do Carandiru”, é como as pessoas se referiam a aquele pobre bairro com nome de índio, inclusive uma de suas avenidas tinha exatamente o nome deste índio, “Índio Peri”.
Pois bem, voltando ao assunto, neste bairro morava uma família, aliás, moravam muitas famílias, mas vamos nos ater a uma específica, a família do Larápio família grande, pobre e humilde.
Dona Maria, como milhares de outras Marias, era mais uma dona de casa, trabalhadora e mãe de seis filhos, aliás, sete filhos (o sétimo filho é o Larápio em questão), acabara de dar à luz ao caçula desta família e queria prestar uma homenagem ao então presidente. Como estava de resguardo, pediu ao marido João José da Silva de Jesus, que fosse ao cartório registrar o rebento.
E lá foi João de Jesus, contrariado com a idéia de Dona Maria, afinal, para João, aquele presidente não passava de um larápio. Larápio???
Pois foi isso mesmo que ele fez, talvez para fazer desaforo à esposa, ou talvez por ter encontrado uns amigos lá no bar da esquina e tomado uma branquinha pra comemorar o nascimento do filho, João José chegou ao escrivão e falou o nome do filho em alto e bom tom:
- Larápio de Jesus.
- Como?? – Indagou surpreso o escrivão.
- Larápio de Jesus. – Repetiu Seu João.
- Mas o senhor não pode dar esse nome ao menino – tentou argumentar o escrivão – imagine como seria a vida dele com esse nome!
- Posso e vou – esbravejou João da Silva – O filho é meu e boto nele o nome que eu quiser.
Com essa justificativa, meia dúzia de ameaças e um insuportável bafo de cachaça, nenhum escrivão no mundo se recusaria a registrar o pequeno. E assim ficou:
Larápio de Jesus. Filho de Maria José da Silva de Jesus e João José da Silva de Jesus.
Com esse nome, a vida de Larápio sempre foi muito difícil (como havia profetizado o tal escrivão). Toda a criançada vivia caçoando dele. Certa vez, Larápio foi à feira com Joãozinho, um dos poucos amigos que tinha e no meio do povo, estava um outro colega. Este acenou para Larápio que não o viu e foi por isso mesmo que Joãozinho falou (um pouco alto – diga-se de passagem – por causa do barulho da feira): Olha Larápio!!!
Larápio?? – Questionou o vendedor de laranja.
Larápio??? Socooooroooo!!!! – Gritou angustiada uma senhora gorda e desajeitada enquanto corria e derrubava as banquinhas de limão e de temperos.
Pega, pega! – Gritava o vendedor de melancia.
Corre, corre!! – Gritavam as pessoas que estavam fazendo a feira.
Nem precisa falar o alvoroço que foi nesse dia, não é mesmo?
Larápio, Joãozinho e o outro colega fugiram desesperadamente e foram se esconder lá na olaria. Passaram o resto do dia brincando no meio das árvores e tomando água fresquinha da biquinha.
Larápio de Jesus foi crescendo e por causa do nome, a cada dia era mais e mais excluído da sociedade. Por se chamar Larápio (e não ser larápio) negavam-lhe emprego, negavam-lhe amizade, negavam-lhe companhia e até as meninas negavam-lhe afeto, ninguém o queria por perto, ninguém queria estar próximo de um larápio e aos poucos ele foi deixando de querer as pessoas também.
De tanto viver à margem de tudo, Larápio acabou se tornando um marginal, um marginal e um larápio.
Sua vida de larápio foi se tornando um sucesso, seus assaltos eram manchetes de jornais e todos os trombadinhas sonhavam em um dia ser como Larápio, o único larápio com nome e sobrenome, aliás, sobrenome divino: Larápio de Jesus.
A cidade toda temia encontrar com Larápio pelas ruas, principalmente no centro de SP, onde havia (e ainda há) uma grande concentração de larápios e a Zona Norte era evitada por todos, os Office-boys tinham até pesadelos quando sabiam que no dia seguinte teriam que entregar algum documento nos lados do Jd. Peri, tanto no Peri Alto, como no Peri Baixo, na Casa Verde, Pedra Branca ou Lauzane Paulista.
Mas a sua fama cresceu tanto, mas tanto, que começou a incomodar as autoridades locais, regionais e até municipais, dizem as más línguas que até o governo do estado, já estava procurando o dito cujo.
Um dia, um morador daquele mesmo bairro, amigo do primo da namorada do assessor de um vereador importante, que por sua vez, era o maior puxa-saco do prefeito, querendo exercer a sua cidadania, ligou para a delegacia de polícia e comunicou:
- O Larápio está aqui, na rua tal, número tal.
- Meu senhor – disse a voz morosa e entediada do outro lado – a cidade está cheia de larápios, não dá pra gente ir atrás de todos eles de uma só vez, a menos que ele esteja assaltando alguém.
- Mas não é um larápio – insistiu o alcagüete – é o Larápio de Jesus !!!
- Larápio de Jesus??? – Espantou-se a voz – Aguarde um momento.
Um momento se passou e outra voz atendeu a chamada, dessa vez era o delegado:
- Pois não?
- È o Larápio de Jesus, ele está aqui!
Depois de uma rápida explicação, o delegado anotou a endereço e em poucos instantes, uma dezena de viaturas descia velozmente pela Rua 2 em direção ao esconderijo do Larápio de Jesus.
Quem não viu a cena não consegue imaginar o terror que foi. Quem viu, não consegue esquecer aquilo por nada nesse mundo. Sabe-se apenas que os homens da ROTA invadiram o barraco dando tiros a torto e a direito, muitos tiros também, eram revidados.
Durante a ação, alguns policiais saíram feridos e um deles morreu, no dia seguinte a manchete no jornal:
“Larápio de Jesus é executado por esquadrão da morte!”.
No seu enterro não havia quase ninguém, somente o padre da comunidade local e dois coveiros bêbados.
Em seu leito eterno, na vala comum do cemitério da Vila Nova cachoeirinha, deixada por não-se-sabe-quem, uma plaqueta de madeira, trazia uma inscrição pirografada:
“Larápio de Jesus, filho de Maria e João, você foi um grande amigo, sempre companheiro e sempre prestativo. Esperamos que agora encontre paz ao lado de seu xará e nosso pai, Jesus!”.
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