Fazia muito tempo que não nos víamos, outro dia fui até o colégio velho resolver um problema, na volta no encontramos. Beijos e abraços, e, sentados no meio-fio começamos a papear tentando reviver bons momentos de nossa infância e adolescência.
Àquela época, sempre que podíamos íamos a festas e por lá nos encarregávamos de brincar de namorados, e cá prá nós, ela era um monumento.
Papo vai, papo vem, e a saudade parecia não ter fim. Em meio às recordações, a fantasia de outrora, fomos viajando rumo ao passado em busca de nossas estórias comuns. Lembranças boas, outras nem tanto. Porém, rimos muito daquelas tardes, na caixa d água, onde o nosso lazer se resumia a carrinhos, latas, espera e namoricos. Aliás, a rua onde buscávamos água naquela época, é a mesma onde hoje funciona a escola e se deu esse maravilhoso encontro. Tempinho bom que não volta mais.
De repente nossa emoção foi interrompida. Um caminhão descia a avenida e escutamos o assitente gritar ao passar por nós:
"Bota na banguela! Bota na banguela!
Não entendi quando Sílvia pegou do chão uma pedra e atirou no caminhão esbravejando palavras de baixo calão.
"Vai botar na mãe seu babaca!
Saiu correndo atrás do caminhão tal qual uma cadela louca. Jogava pedras, xingava e bufava, num ódio descomunal. Eu fiquei ali parado, sem entender bulhufas da reação tão furiosa de minha amiga.
Quando voltou, cansada e botando as vísceras prá fora, pude entender o motivo de tanta ira.
"Que cara babaca! Não respeita as pessoas.
"O que houve? Qual a razão dessa bronca toda?
"Você não ouviu ele zombar de mim?
"Como?!
Foi aí que ela mostrou-me os dente frontasi superiores todos arrancados, só então percebi que ela estava realmente "banguela".
Valber Diniz Set/99 |