Esperava ansioso, mais uma vez, pelos dois convidados ilustres. O Diabo foi pontual como de costume. Deus se atrasou como sempre. Não estavam muito prá conversa. Eu fiquei ali no meio deles, preocupado em que fossem bem servidos. Não queria que eles espalhassem por aí que na minha casa os empregados servem mal. Eles têm muitos amigos, Deus nem tanto. Falamos de terrorismo, Bíblia, mulher, anjos e outras obscenidades. Ouvimos Jazz a tarde toda. Deus pediu. O Diabo prefere ouvir samba, mas eu não tenho nenhum disco deste gênero. Me desculpei. Ele entendeu. Depois do chá, Deus acendeu um charuto americano, o Diabo lia uma matéria do Millor.
Mais tarde, descansaram na rede, tomaram banho na piscina, brincaram de jogar água um no outro, jogamos cricket e, quase de noite, Deus resolveu dar uma volta de cavalo para se exibir pro Diabo. O Diabo ficou com inveja porque só sabia dirigir moto. E hipismo era mais chique do que motociclismo. O Senhor das Trevas sabia bem disso.
Mostrei aos dois minha coleção de selos, Deus gostou...até pegou na lupa. O Diabo se fez de exausto. Minha esposa apresentou o Diabo para a neta de uma vizinha. Ela queria o autógrafo dele. Aliás, logo a casa se encheu de crianças do bairro querendo um autógrafo. Deus olhava tudo de longe.
Uma criança fala para outra: Olha, Deus tá ali no canto jogando paciência.
- Ah, qual é? Não é muito interessante!
- Mas também é famoso.
- É mesmo. E depois...tão dizendo que ele vai cantar numa banda de grunge.
- Vamos lá pedir o autógrafo Dele. Hêêêê...
O Diabo dizia a todos que negou, na semana passada, um convite da
G Magazine para posar nu. E todos se divertiam.
Quanto a mim, mais uma vez, cansei de toda aquela palhaçada e pedi que todos se retirassem, para eu ver o telejornal. Deus pediu para dormir no quartinho de empregada que estava vazio, pois o último horário do seu transporte já havia passado. O Diabo estava de moto.
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