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cronicas-->Para além da Cochinchina -- 22/07/2002 - 23:43 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dezessete anos. Não parece muito, e de fato não é. Para nós brasileiros, é idade pouca até mesmo para assumir a responsabilidade pelos próprios atos. Ao jovem que a possui é dado apenas o direito de se ocupar com coisas menores - sem grandes consequências -, como votar ou escolher o ofício a que se dedicará no decorrer da vida. Mas foi assim, recém saído das brincadeiras infantis, que há cerca de 725 anos um aprendiz de aventureiro deixou para trás as águas maternas de Veneza para, em companhia do pai e do tio, singrar o traiçoeiro Mar Adriático na primeira etapa de uma viagem que duraria ainda três anos. Seu destino; a China. Seu nome; Marco Polo.

Ao longo de todo o percurso em que o noviço aventureiro conheceu povos e culturas tão distintas da sua, serviu-lhe como abrigo para interpretações e relatos o seu diário. Delírios e fantasias, disseram e ainda dizem alguns em relação às suas palavras. Histórias reais, afirmaram e ainda afirmam outros. De qualquer modo, registros. Em seus cadernos foram narradas as agruras de uma odisséia através de cordilheiras geladas, desertos, avalanches e tempestades de areia. Naquelas páginas, a visão de um jovem imaturo sobre um mundo repleto de surpresas e encantos. Mapas, rotas, cultura, fauna, flora; tudo. Nada escapava ao seu olhar arguto e curioso.

Por falta de habilidade com as palavras e por total deslumbramento, Marco Polo encontrava sempre um jeito - digamos - alternativo de descrever o que via. Para ele os crocodilos eram como "enormes serpentes com dez passos de comprimento", enquanto os cocos eram "nozes do tamanho da cabeça de um homem". Fantasioso, é verdade, mas real, é inegável!

Após a sua chegada, e tendo conquistado a simpatia e a confiança do imperador, dedicou-lhe 17 anos de serviço. Durante esse período, enquanto o pai e o tio se aventuravam e enriqueciam à custa do comércio, Marco Polo fez diversas missões através do império, tendo visitado lugares como a índia e a Cochinchina. Seu relacionamento com o imperador lhe valeu ascensão e status invejáveis dentro da corte. Mas, ainda assim, os Polos desejavam retornar para Veneza. Temendo pela saúde frágil do soberano Chinês, que àquela altura já possuía seus 70 anos, e principalmente pelas incertezas quanto ao equilíbrio do império após a sua morte, os três aventureiros deixaram o porto de Zaitun, em 1292, e voltaram para a Europa. Ao chegarem em Veneza, porém, sentiram o peso dos 25 anos que passaram em terras estrangeiras. Seus próprios criados não os reconheceram, posto que os julgavam mortos. Impedidos de entrar em sua própria casa os Polos acabaram sendo obrigados a "comprovar" a identidade valendo-se da riqueza que traziam consigo.

Por hostilidade ou sabedoria do destino, Marco Polo, alguns anos após o retorno, acabou se envolvendo na guerra entre Veneza e Gênova, sendo capturado como prisioneiro durante uma batalha naval. Privado da liberdade, da riqueza e do conforto que desfrutara até ali, não lhe restou alternativa senão contar suas aventuras ao companheiro de cárcere e autor de romances de cavalaria, Rustichello de Pisa. Deste relato nasceu a obra que foi chamada na época de o Livro do Milhão de Maravilhas do Mundo. Tendo sido encarado como um livro extremamente inventivo e fantasioso (o próprio termo Milhão foi inserido com o sentido pejorativo de pilhéria) o relato ganhou ares de mentira e lenda.

O ano estimado pelos historiadores como sendo o da morte de Marco Polo é 1324. Velho e desacreditado, mas já em liberdade, o aventureiro deixou para sua família um testamento farto em riquezas, e para o mundo um legado. Seu livro, apesar de controvertido, é considerado hoje como a grande obra da literatura européia do século XII.

Longe de querer entrar na discussão sobre a veracidade de sua narrativa, é impossível não admirar o impacto que ela causou nos corações e nas mentes dos incrédulos europeus. As maravilhas descritas por Marco Polo acabaram forjando gerações de aventureiros que, como ele, derrubaram os limites de um velho continente e desenharam com sua coragem um mundo que ainda hoje se expande e sonha com lugares distantes, infinitos, impossíveis.
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