"Todo dia a mesma vontade
de me atirar deste prédio.;
18 andares para terminar
todo o imenso tédio.
Quem dera meus sonhos
fossem de aço e concreto.
Todo ano a mesma coisa:
Natal, carnaval, Ano Novo
e o disco do Roberto.
A mesma Páscoa, a mesma mágoa,
o mesmo dia dos namorados
que passo sempre solitário.
Por que todo ano sou obrigado
a fazer aniversário ?
Todo dia o mesmo reflexo no espelho...
Se ao menos meus olhos mudassem de cor.
Todos os dias o mesmo marasmo, o mesmo ócio,
esperando que o ódio tome o lugar do amor.
Aos domingos o mesmo Sílvio Santos
que já não é tão sorridente.
Todo dia a mesma saudade, a mesma dor,
se, pelo menos, fosse uma dor diferente.
O mesmo verde no mar,
o mesmo azul do céu,
a mesma vontade de mastigar
teu beijo doce de mel.
Se ao menos o sol surgisse de noite
e a lua aparecesse de dia.
Sempre o mesmo açoite:
Me torturando fazendo poesias...
Poesias que nunca serão lidas.
Todos os dias mesma prece
para que você regresse
pela mesma porta que partiste.
Mas quero a volta de alguém diferente
porque não quero ter novamente
a dor, a mágoa e a mesmice."
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