In Angesicht des Galgens, à sombra do cadafalso, após a punhalada nas costas que recebi do Deus Oniausente, achei conveniente,para o meu próprio bem, aceitar o dictum divino da inexplicabilidade do horror. Minha mãe viajou incógnita para o Outro Mundo e ponto final.
Ao perguntar em minhas preces o porquê, Deus o Oniausente me respondeu: "Hier ist kein Warum", ou
Aqui não existe por quê.
Eu contra-argumentei, torturada: "Da soll ein Warum sein!" Tem de haver um porquê, e pára de falar em alemão!
Mas ele repetia com um disco empenado: "Hier ist kein Warum!"
Fui até o meu quarto e rasguei os meus exemplares da chantagem do Ideal: Os Dez Mandamentos de Moisés, o Sermão da Montanha de Jesus, e as Obras Completas de Karl Marx. Os mais renomados exemplos da chantagem da transcendência, que a civilização judaico-cristã nos deixou de herança para tornar o ser humano escravo da culpa e eternamente atormentado por expectativas que não pode realizar. Basta! Não farei mais contorcionismos mentais para entender os nós exegéticos das teorias de tudo.
Olho-me no espelho e vejo uma criança escaldada, uma ninfa acabada. O relógio de carrilhão toca doze badaladas e estou com sono. Sobre a minha cama jaz um tratado de mirmecologia lido pela metade. Por que resolvi estudar as formigas? Ora, como elas, eu penso que penso, logo penso que existo.