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Contos-->CAFUNÉ -- 01/10/2002 - 09:40 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estávamos desacorçoados naquela cidade hostil. Vivíamos marginalizados e famélicos. A prefeitura local hospedava aproximadamente cinco mil almas. Dessas mais de noventa por cento eram oriundas de outras plagas. Os retirantes, expelidos lá dos seus rincões desciam ao torrão natal igual aos carvões que descem quando queimam os canaviais.

Esse fenômeno sufocava os nativos impedindo que vivessem onde viveram seus avós e pais.

Por isso resolví partir. Fui até o aeroclube local e contatando um amigo que era piloto, propus-lhe um negócio. Diante das dificuldades que ele vivia e não achando outra alternativa, aceitou prontamente. O plano era o seguinte: Ele pilotaria o teco-teco, durante duas horas seguidas na direção norte. Depois desse tempo, na primeira cidade que sobrevoasse deveria avisar-me. (Eu voaria com os olhos vendados por causa do pânico). Saltaria de pára-quedas inaugurando vida nova. Se eu tivesse sucesso voltaria e pagaria a ele todo o seu trabalho.

Dito e feito.

Saltei com o pára-quedas. O filho da (perdão pelas más palavras) meretriz, quase não abriu. E quando cheguei ao solo vi-me enroscado numa árvore seca com aqueles galhos pontiagudos eriçados.

Livrei-me do equipamento e achando uma vereda pus-me a caminhar até a povoação. Na praça aquela gente toda, que folgava ao mormaço do meio-dia, olhou-me boquiaberta.

Limpando a poeira da calça aproximei-me do matuto cogitabundo e puxei prosa. Fiquei sabendo onde situava a pensão. E para lá me dirigí.

Ao entrar por aquela passagem estreita a ansiedade travou-me o peito. Como pagaria minha permanência? Bem, entreguei a Deus meus problemas. Que tudo fosse do jeito que ele quisesse.

Depois dos primeiros contatos e acertos com a dona,ví um velhinho barbado, vestido com seu paletó surrado e boina inusitada sobre a cabeça. Com o copo de vinho tinto olhou-me demonstrando curiosidade.Percebí que seríamos bons amigos. Dona Maria ofereceu-me café. Enquando ela foi busca-lo sentei-me ao lado da provecta pessoa.

Depois de mais ou menos quarenta e cinco minutos de conversa eu fiquei sabendo quem detinha o poder na cidade. Eram os fabricantes de pinga. O vovô dizia-me que o preço baixo do produto favorecia o consumo por quase toda a população. Soube também que houvera um tempo em que por decorrência das altas taxas do alcoolismo, o absenteísmo acentuou-se de tal forma que os políticos reuniram-se num conclave de emergência. Decidiram que a população precisava de um hospital psiquiátrico onde se promoveria a destoxificação em série.

Em paralelo com a desintoxicação medicamentosa usariam as técnicas do cafuné.

Então, segundo o vovô, os espertos ganhavam o dinheiro que lhes sustentava a vida, vendendo a pinga e curando, por outro lado, os males que ela propiciava. E quem sempre pagava as contas, imagine, era o INSS.

Disse-me o vovô também que as autoridades eram sensíveis aos mitos prevalecentes. E que a força do governo dependia da ratificação das utopias, sem as quais era impossível governar.

Compungido pelas palavras do avô, achei que deveria abortar aquela minha aventura. Por isso, afetuoso, agradecí à dona Maria pelo café quente, forte e encorpado.

Saindo então, em marcha forçada pela estrada afora, rumo ao meu lar, minha terra, lugar sacrossanto onde havia nascido, roguei a Deus que tivesse piedade de nós.
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