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Artigos-->SÓ EXISTE CRIME ORGANIZADO EM SOCIEDADE DESORGANIZADA -- 05/02/2002 - 03:02 (EDMILSON SANCHES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




CRIME ORGANIZADO,

SOCIEDADE DESORGANIZADA



EDMILSON SANCHES (*)



Só existe crime organizado em sociedades desorganizadas.



É isso mesmo. Não são os bandidos que são organizados: a sociedade é que ainda não se organizou para combater os bandidos.



Ora, se gente safada, se pessoas bandidas, se indivíduos assassinos, se mentes corruptas, mesmo tendo contra si todas as estruturas físicas, todo o aparato logístico possível, todos as normas legais, todos os princípios éticos, todos os preceitos morais, todos os fundamentos religiosos e todas as práticas comunitárias, se, com tudo isso contra eles, os criminosos se “organizam”, fazem e acontecem, deitam e rolam, pintam e bordam, por que não se organiza, faz e acontece melhormente, maiormente, permanentemente, a grande maioria da comunidade, constituída de cidadãos pacíficos, organizações respeitáveis e autoridades responsáveis? Por quê?



Por que falam alto os bandidos e a comunidade emudece ou, quando muito, balbucia, gagueja, tartamudeia? Por que arrotam arrogância e onipotência os facínoras e celerados e se acachapa e se humilha o povo? Por que parecem tão cheios de si os corruptos e tão vazios de tudo os carentes? Por que são tão seguros os que vivem à margem da lei e por que são tão inseguros os que a respeitamos? Enfim, por que reina o crime e a sociedade se avassala?



O problema, repito, não é que o crime seja organizado: a sociedade é que se foi desorganizando ao correr dos tempos e ao cometer dos crimes. Somos nós, os que não matamos, não roubamos, não (nos) corrompemos, somos nós os “bonzinhos” e “honestos” que, de alguma forma, colaboramos para que o mal se instale, a impunidade se instaure. Não há nada de ruim que aconteça a uma sociedade que não seja com permissão dela (muitas das vezes pela omissão dela e, até, com o aval, o voto dela).



Como nós, os “certinhos”, frouxos, não ocupamos a maior parte das fatias de poder, o bolo político, o butim financeiro, essa verdadeira pilhagem social que advém do banditismo político (ou do politiquismo bandido) é repartida entre os “cargas-tortas” — que, auxiliados por uma rede de pessoas bem-postas e por um tremendo cinismo, uma imensurável hipocrisia e uma baita cara-de-pau, vão atropelando tudo e todos que estão no caminho que leva ao dinheiro do Poder e ao poder do dinheiro.



Enquanto isso, ficamos aqui embaixo, rezando o catecismo do “bom senso” que é, em verdade, omissão; da esperança que é, verdadeiramente, passividade; da fé que, ao final, é comodismo, é covardia disfarçada de virtude. Ficamos confiando em Deus e nos confinando egoística e covardemente quando, aqui na Terra, no mínimo a responsabilidade deveria com Ele ser dividida.



Não “entramos” na “tal de política” porque “lá é tudo sacanagem”, e não devemos associar nosso sacrossanto nome a ela e ao que a ela se ligue. “Administração Pública — disse um político menor, na presença de testemunhas — é para ladrões”. (A premissa, claro, é mais do que falsa, embora, infelizmente, ateste o nível de percepção a que chegou a gestão pública como corolário da Política).



A instituição “Política” não foi criada por Deus, como os Dez Mandamentos. A Política é coisa do homem e, em termos políticos, o que o ser humano faz, pode desfazer. Portanto, política ruim só pode vir de gente ruim, ou da parte ruim dessa gente — gente que quer ganhar Poder esquecendo-se do Dever, aumentar o patrimônio diminuindo a personalidade (a sua e a dos outros). Por conta disso, cultivam-se intrigas, comerciam-se cargos, industriam-se mentiras, trocam-se favores, geram-se leis, favorecem-se trocas, acomodam-se situações, aceitam-se imposições, engolem-se frustrações, vende-se a alma, enfim, tudo o que, em termos éticos, causa repulsa, asco, nojo — embora, ao final, o sodomizado continue sendo o povo.



Com um “clima” desse na Política, com a extrema percepção negativa que tem o povo dos políticos e da Política — onde, reforce-se, aprioristicamente “todos são ladrões” e “tudo não presta”—, em um ambiente assim bandidos só podem é se sentir em casa e se sentarem à mesa posta, que a comida é farta.



Podem até os marginais da Política ser minoria (e de fato o são), mas o poder de sedução do mal é tão grande no imaginário coletivo (e as últimas pesquisas científicas reconfirmam isso) que não tem adiantado muito mostrar a parede branca de virtudes da Política (e as há), pois que só será visto o ponto negro, pequeno, do vício que a enodoa e contamina, macula e fere, fere e fede.



É nesse lodaçal de vícios, é nessa lama amoral e imoral, é nesse charco pútrido e fétido (que ocupa pouca área do terreno político mas que o compromete), é aí o espaço onde crescem os descarados, o pântano onde vicejam os sem-escrúpulos, que se organizam em “societas sceleris” (sociedade de bandidos), desenhando uma árvore “criminológica” cujos galhos e ramos vão-se estendendo rumo a outras instituições públicas e privadas (Poder Judiciário, empresas, organizações classistas e comunitárias). E acontecem os desvios de influência, o tráfico de posições, os roubos, as mortes, a receptação, o acobertamento. Daí para a instauração, como regra, da estreiteza ética, da precariedade moral, da devassidão política, da obscenidade administrativa, pode ser um passo.



Portanto, contra o crime organizado, só uma sociedade mais do que organizada. E esta se faz com pessoas conscientes de seus vários e cada vez mais múltiplos papéis (no trabalho, na igreja, na organização comunitária, no sindicato da categoria, na associação de classe, no clube de serviço, nos momentos de ócio etc.). Faz-se, cumulativamente, com a participação político-social e político-partidária, com a ocupação de certos espaços de Poder hoje desgraçadamente apropriados por quem, como ser sociopolítico, não vale o que o gato enterra.



Contra o crime organizado, só uma sociedade mais do que organizada, quase perfeita — e esta não existe só na cabeça de idealistas: reside também na simples vontade da maioria simples do povo, a ser reforçada e tangida por seres indutores que, além de conhecimento de causa e honestidade de propósitos, tenham verdade na voz, alma nos olhos, sensibilidade no coração... e vergonha na cara.



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(*) EDMILSON SANCHES, jornalista, pós-graduado em Administração e Negócios, Administração Pública e Comunicação para o Desenvolvimento Regional (Cátedra UNESCO/Universidade Metodista de São Paulo). E-mail: edmilsonsanches@uol.com.br / esanches@jupiter.com.br





POLÍTICOS E CACHORROS

EDMILSON SANCHES



Não se preocupem com o título, nobres senhores políticos. O de que aqui se fala é dos políticos que não prestam e dos cachorros que prestam. Logo, não é dos senhores que se fala. O próprio povo não sabe porque ainda elege políticos que não prestam, mas sabe o que realmente pensa deles. Vejam só um resumo do que a grande, a grandíssima maioria do povo brasileiro pensa de políticos que não prestam, segundo pesquisa nacional publicada em encarte especial da revista “Época”: 82% do povo acham que os políticos brasileiros são preguiçosos, 71% acreditam que os políticos são incompetentes, 88% crêem que os políticos são injustos, 91% julgam que os políticos não são de confiança, 82% têm os políticos como irresponsáveis, 87% consideram que os políticos são egoístas, 70% os acham autoritários, 64% intolerantes, 54% avaliam os políticos como despreparados para o mundo moderno, 86% da população também acham que os políticos são insensíveis com as outras pessoas. E, numa só palavra e em dois algarismos, 91% do povo qualificam os políticos brasileiros como desonestos.



BARRO E BARALHO - Está faltando alma, está faltando coração, está faltando honestidade de propósitos para com o eleitor. Enquanto isso, está sobrando esperteza, safadeza, corrupção, arrogância... Quem os políticos que não prestam pensam que são (além de serem imprestáveis)? A maneira como agem, o teatro que fazem dão a idéia de que vocês, por estarem vivos, e por serem “vivos”, são imortais, inatingíveis, impuníveis. Não. O mesmo barro de que é feito João é feito José. Como é que, na tela da televisão, nas ondas do rádio e nas páginas dos jornais a cara é de santo e, nos, bastidores, o chifre é de cão, o bafo é de demônio, o rabo é de Lúcifer? Chega de serem dois-em-um. Ou três. Ou mais. Isso é para baralho e seres bifrontes da mitologia.



ALVARÁ E PATENTE - Com que autoridade os senhores dizem que “isso é política, política é assim”? Mostrem o alvará de licença que lhes deu essa pretensão de se considerarem reis da cocada preta em termos de fazer política com baixaria. Exibam a patente onde vocês que não prestam registraram que o único modo de fazer política é demonstrando santidade na mídia e nas missas, nas missas e nas massas, nos palanques e nos palcos e escondendo, por trás dos panos, quem realmente são.



PODER E REVELAÇÃO - Alguém já disse que, se quisermos conhecer realmente uma pessoa, devemos dar-lhe poder. Entretanto, o poder não transforma a pessoa, apenas revela quem na verdade ela é: uma pessoa escondida sob anos de carências e ódios reprimidos, disfarçados de virtudes que são fumaça, pois, no íntimo, o verdadeiro incêndio está queimando, como fogo de monturo.



ARMAS E ARMAÇÕES - As histórias de jornais e os relatos de bastidores mostram a verdadeira natureza, a quantas chegam os defeitos de caráter dos políticos que não prestam, devidamente assessorados por profissionais que, não se sabendo santos, explodem em malignidade. Esses mesmos profissionais, fora do calor das campanhas, fazem um “mea culpa” e, com uma ponta de satisfação, revelam as farsas que elaboraram, os roteiros que escreveram, no sentido da destruição. São especialistas em fezes do espírito humano. Engendram e preparam e estocam “armas” e “armações” que vão desde a denúncia de que candidatos se prostituem, cometem adultério, espancam familiares, traficam órgãos humanos, seduzem no ambiente de trabalho, compram pessoas fracas de consciência, negociam a mãe, vendem a alma, roubam coisas, matam gente. Mais: ex-colaboradores são procurados para abrirem o porta-malas do carro e mostrarem pilhas e quilos de documentos, cópias que, asseguram, comprovariam desvios de toda sorte, empregos-fantasmas, nomeações fraudulentas, apropriações indébitas, prevaricação administrativa, infrações criminosas e criminais.



FARSAS E FRAUDES - Que mundo é esse que chamam de “política”? De que matéria são feitas gentes assim (inclusive os tais “apoiadores”) e que sociedade elas acham que representam? Se jogam tão sujo, então essas gentes não representam sociedade nenhuma. Representam somente os próprios interesses e a “societas sceleris”, a sociedade de bandidos, de oportunistas e aproveitadores que as rodeiam, igualmente interessados em não ver expostas suas farsas e fraudes, fundos e fundilhos.



PERDER E PERDER-SE - A quem essas gentes pretendem enganar? A derrota não é perder, é perder-se. Acham que é filosofia? Todos os dias a Imprensa que não está comprometida com os que não prestam divulga, estampa, mostra gentes do mesmo naipe que tentam sair de debaixo dos escombros da vergonha, da desonra e do crime, pois a casa que construíram não tinha bases sólidas e, finalmente, desabou. Ruiu. Desmoronou. Caiu. As pesquisas em todo o mundo confirmam: onde a Imprensa não pode falar a verdade, políticos são quase santos e a corrupção não existe (embora seja sentida na pele pelo povo). Confiram-se os dados da International Transparency.



ALGUNS E TODOS - Como é que se diz mesmo? Pode-se enganar alguns durante algum tempo, mas não todos todo tempo. Cai. Um dia a casa cai. Cai e afunda, até chegar ao nível do esgoto, aliás, o lugar certo por onde haverão de escorrer a lama da corrupção, o lodo dos relacionamentos visguentos, o fedor dos arrotos de arrogância, os respingos de podres perdigotos e o mau-cheiro da halitose verbal, das “conversinhas” nojentas, vazias de substância e sentido e cheias de interesses personalistas, que vão do fingimento sem freio até a roubalheira desenfreada. Para os que não prestam e ainda não caíram do cavalo, espera-se que, um dia, as mãos dos que clamam justiça e qualidade de vida puxem a cordão que dará a descarga e despejará, entrando pelos canos da latrina política e chegando à cela dos presídios, essa corja de fingidores que fazem da política um circo, e do povo, palhaço.



COFRE E SACO - Quanto mais precisam roubar? É verdade que o cofre do dinheiro é sem tampa e o saco de quem furta é sem fundos? Nos municípios, nos Estados e no País, o desperdício e a corrupção sem fim já consumiam, no mínimo, 46 bilhões de dólares em 1994. Pelo menos 18 formas de corrupção foram mapeadas, numa tipologia que vai dos desvios diretos ao superfaturamento de obras, passando por uma extensa nomenclatura de crime e vergonha, um abecedário que forma um verdadeiro dicionário de mau-caratismo e sem-vergonhice: acertos; comissões por pagamentos feitos; intermediações; emendas; desapropriações simuladas; reajustes de obras e serviços; influências; eliminação ou redução de multas e taxas, mediante pagamentos; medições de obras públicas; conhecimento prévio de resultado de licitações; cartas-convites cujo “endereço de destino” é estranhamente freqüente; constituição de empresas para mascarar compras; “aluguel” de testas-de-ferro; concessão de quotas de emprego para “apoiadores”; facilitação de pagamentos; simulação de serviços prestados; terceirização fraudulenta de serviços (cooperativas e internações hospitalares, entre outros)...



PAÍS E POVO - Há muito que se sabe porque, no Brasil, certos Estados e incertos municípios não vão pra frente com a velocidade e com a qualidade devidas. Não é porque o País seja ruim; como diz a piada, é a natureza do seu povo, na verdade, neste caso, o caráter dos representantes do povo que não prestam. Será que não há limites para a ganância e o peculato, para a sanha criminosa desses devoradores do dinheiro público? Por que eles riem, afinal? De quem?



DICIONÁRIO E PENITENCIÁRIA - A definição de peculato é triste: “Delito praticado pelo funcionário público que, tendo, em razão do cargo, a posse de dinheiro, valor, ou qualquer outro móvel, público ou particular, deles se apropria, ou os desvia, em proveito próprio ou alheio, ou que, embora não tenha posse desses bens, os subtrai ou concorre para que sejam subtraídos, usando das facilidades que seu cargo proporciona”. Só falta é sair do dicionário para a penitenciária.



BANDIDOS POLÍTICOS E POLÍTICOS BANDIDOS - Será que vai chegar o tempo em que, na expressão de José Duarte Ramalho Ortigão, jornalista e escritor português (1836—1915), no seu livro “Últimas Farpas”, se poderá contemplar “a ilibada e inconcussa pureza de cada um”? Espera-se que, nesse dia (quando, afora a memória, não restarem nem os miasmas nem os ossos dos bandidos políticos e dos políticos bandidos), possam as gerações que hão de vir testemunhar o que contém as palavras de Ramalho Ortigão, onde declara-se estar “definitivamente rasgado o antigo véu da hipocrisia que, sob o nefando regímen extinto, encobria os peculatos, os subornos, as depredações e as tranquibérnias do governo (...)”.



IMPRENSA E DINHEIRO - É bom, quanto a isso, não alimentar falsas expectativas nem exageradas angústias. Neste e nos demais anos, os políticos (e seus assessores) que não prestam continuarão fazendo o que eles rotulam de “política” (com “p” minúsculo mesmo): espalhando intrigas, disseminando falsidades, destilando venenos, armando situações, forjando atores, falsificando autores, faturando mentiras, mentindo com fatos, ante o beneplácito de uma Imprensa que, piormente no interior do País, é vilmente atada e manietada por necessidades financeiras (embora, no fundo, e nas conversas reservadas, jornalistas exponham o real conceito que têm daquelas personagens e personalidades feitas apenas de celulose e tinta).



CÃES E POLÍTICOS - É por essas e outras, leitor, que não é de estranhar a opção: entre certos cães e incertos políticos, muitos preferem os primeiros. Os cachorros, afinal, até dão a vida para salvar seu dono. Os políticos, ao contrário, chegam a tirar a vida (dos outros) para salvarem a si mesmos.



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(edmilsonsanches@uol.com.br)



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