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Cartas-->Estação das Perdas -- 20/09/2002 - 13:48 (Lilian Ferracioli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Este é um texto que li e gostei muito. Quero poder dividi-lo com outras pessoas... espero que gostem.


" Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido.
Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: as perdas do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos...
Começamos a vida em perda e nela continuamos. Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói.
E continuamos a perder... e seguimos a ganhar.
Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair...
E, ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê? Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.
Estamos crescendo... Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer...
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres.
Assim, se nossa tia às vezes nos parece gorda tememos dizer-lhe isso. Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda ridícula do vizinho ou puxar as pelanquinhas do braço da vó com a maior naturalidade do mundo, e ainda falar bem alto sobre o assunto.
Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos.
E vamos adolescendo... ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pêlos, ganhamos altura, ganhamos o mundo.
Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos...
Ah, os sonhos!!! Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.
Aí, de repente, caímos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima dos outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo lógico e racionalmente planejado?
E continuamos amadurecendo... ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma. E, desgraçadamente, perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem querer.
Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamo-lhes aquele beijo estalado... Mas apertamos as mãos de todos, ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade.
E, assim, vamos ganhando tempo enquanto envelhecemos.
De repente, percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso, e perdemos cabelos.
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir. Perdemos a esperança.
Estamos envelhecendo...
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo. Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte? Mas que, apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente
chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede.
...Que a gente cresça e não envelheça simplesmente, que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie, que tenhamos rugas e boas lembranças, que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia, que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos... E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos. Sintam-se amados mais do que saibam-se amados.
Afinal, o que é o tempo? Não é nada em relação a nossa grande missão. E que missão! "


Fique em Paz!
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