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Contos-->O SELVAGEM -- 02/10/2002 - 22:59 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, como sempre, fui trepar. Dizem que sou ninfomaníaca, a modéstia me impede o auto-elogio. Reconheço ser afeita ao esporte sexual, uma gulosa e insaciável devoradora de “espadas”. Prefiro consumir homens altos e fortes, idade não é problema desde que haja ereção, imprescindível é terem cara de mau, de cafajeste, de filho da puta.
Saí lá pelas 13 horas, soberana num vestido justo de alças, branco, decotadíssimo, o contraponto ideal para minha pele dourada e o longo cabelo escuro. Calçava sandálias brancas, saltos finos e altos debruados em ouro e, óbvio, não usava calcinha. Messalina incorporada ao século XXI.

Quando cheguei à esquina procurando táxi, destino ignorado, fui surpreendida pela Mercedes esporte, cor chumbo. Na direção um homem grisalho, olhos insondáveis, protótipo de fera mal contida. Sem dizer palavra abriu a porta; não era um convite, interpretei como ordem. Reparei de pronto nas mãos bonitas, dedos finos e longos – mãos de artista. Após um minuto de silêncio, falamos ao mesmo tempo. Gentil, cedeu-me a palavra.
- Você é músico?
- Sim, respondeu sorrindo de forma indefinida, como se recordando de alguma piada. Fui violinista quando jovem, agora prefiro tocar outros instrumentos mais encorpados e sinuosos.
Isso foi dito olho no olho e levou-me àquele estágio conhecido, prenúncio da moleza que me invade os sentidos, letreiro luminoso em contínuo pisca-pisca: você vai se entregar. Semicerrei os olhos antevendo o prazer da aventura; meu vestido molhado roçava no banco, delícia.
- Tão rápido, pensei. Preciso disso.
Como que adivinhando meus pensamentos, o motorista deslizou os dedos sobre minha coxa afagando-a docemente. Não opus o menor obstáculo quando alcançaram a umidade, ao contrário, ajudei. A cabeça inclinada no encosto do banco, pernas afastadas, ele me bolinando. Um sonho. Numa reação em cadeia voltei-me e abri sua braguilha acariciando-lhe o membro rígido. Estive perto de elogiá-lo pelo autocontrole, a fisionomia grave e severa, enquanto eu, pequeno universo de lábios entreabertos (ambos) e clitóris, vibrava impulsionada pela sinfonia transmitida por seus dedos habilidosos.
- Vou te levar pra lá, apontou-me um conhecido motel.
Não disse nada, estava gozando.

Despi-me rápida, nestes momentos dispenso ajuda e, assim, apanhei-o irônico a avaliar meu gesto. Não me importei. Esta sou eu: livre e ousada.
Tirou a roupa lentamente, devia ser de propósito, nessa altura eu o esperava arregaçada na cama, o rosto rubro de tesão, mamilos rijos, lábios vulvares afastados e convidativos. Ele caiu da pose ao observar o último detalhe.
- Olha só, você está pronta pra mim.
Sorri, alongando-me toda e cerrando por instantes aquela flor túmida. Achegou-se quase tímido, o grande homem. Ao invés de me beijar na boca como os outros - a rotina para se iniciar os trabalhos - procurou mais embaixo, minha vulva, um ímã a atraí-lo. Ficou cheirando-a, lambendo-a devagarzinho, procurava mantê-la cerrada. Divertida, resolvi estimulá-lo erguendo o objeto do desejo a fim de facilitar suas investidas. De repente, suas mãos, agora tenazes, imobilizaram-me na cama. Com insuspeita avidez passou a esfregar o nariz contra aquele talo de carne pulsátil que, em resposta, enrijeceu expondo-se todo. Maná dos deuses. Jamais provei prazer tão intenso. Gozei de imediato e fiquei por alguns momentos prostrada, sem me mover. Ajoelhado na cama enfiou a mão entre minhas coxas e arrastou-me como um naco de carne, um objeto a ser usado e talvez destruído. Sem pronunciar palavra, levantou minhas pernas na altura dos ombros penetrando-me com violência. A princípio senti medo ao ver-lhe o rosto transfigurado. Acontece que não sou mulher de voltar atrás. Segurei as pontas dos pés e mantive as pernas estendidas recebendo seus golpes com maior profundidade, verdadeiras tacadas, eu reles campo de golfe. Não o temia e demonstrava isso. Rugiu ao atingir o orgasmo, seu corpo tremendo e balançando como se fosse cair. As mãos de violinista apertaram minha cabeça e seus dedos finos invadiram os orifícios de minhas orelhas. Diabos, estaria disposto a me perfurar os tímpanos? Fico devendo a resposta pois dominada pelo medo sofri uma convulsão orgástica passando de espectadora a protagonista desta cena de terror erótico.

Mais tarde, relaxados e saboreando vinho branco gelado, contou-me sempre gozar dessa forma selvagem assustando suas acompanhantes. Ri para provocá-lo, gosto de zombar dos homens. Perguntou-me, a fisionomia grave, se queria mais.
- Claro que sim, respondi sorrindo.
Desta feita eu o cavalguei, ou melhor, ele se deixou cavalgar. Encarei aqueles olhos frios e me indaguei o motivo de não termos ainda nos beijado. Procurei sua boca, mas fui contida pelo pescoço.
- A beleza do seu pescoço me afronta, murmurou.
Não entendi nem apreciei a piada, tampouco insisti no beijo, decidi aproveitar a competência do seu instrumental. Enquanto subia e descia naquele pênis portentoso, meu amante acariciava-me os seios apertando os mamilos com força. Súbito, mantendo-me firme pela cintura mudou de posição, adeus corcel bem-vindo jóquei. Ficou um tempo enorme sobre mim, entrando e saindo, aumentando e diminuindo o ritmo a seu bel prazer. Abraçada à sua grande figura sentia-me possuída por uma sensação de bem estar nunca dantes provada. Numa cena cinematográfica pegou-me de surpresa beijando-me a boca. Seu beijo, verdadeira mordida, quase me sufocou. A língua voraz lambia meus dentes, o céu da boca, cheguei a senti-la na garganta como gigantesca serpente pronta para me devorar. Debati-me, lutei contra aqueles olhos diabólicos que me envolviam como vórtices arrastando-me a um mundo desconhecido e perigoso. Transformei-me numa vagina ardente, sou prazer, sou delírio e me extravaso através de múltiplos orgasmos encadeados.

Quando saltei do carro já era noite. Pela primeira vez, em anos, saciada. Quis convidá-lo para outro encontro, todavia meu companheiro se encerrara num silêncio constrangedor. Em nenhum momento, desde que saímos do motel, trocamos qualquer carícia. Beijou-me na boca pela segunda e última vez ao nos despedimos, na saída da suíte. Um beijo suave e apaixonado, em nada semelhante ao anterior.
No trajeto de volta repousei a mão em sua coxa retirando-a o mais rápido possível pois senti toda musculatura contraída, rejeitando meu carinho. Tremendo paradoxo. Pareceu-me que se controlava com muito esforço, lembrando a corda tensa de um violino. Fiquei intimamente magoada, logo agora que havia encontrado um homem à minha altura o perdia qual jóia recém-adquirida que é roubada e nem acabamos de pagar.

Deixou-me no ponto onde me encontrara, sem esboçar a menor curiosidade sobre meu endereço. Antes de saltar voltei-me e, descontrolada, perguntei:
- Por que esta mudança? Eu sei que você gostou.
- É melhor desse jeito, minha cara. Acredite.
Segurou minhas mãos entre as suas e com os olhos pela primeira vez humanizados, disse:
- Jamais te esquecerei. Foste especial para mim. Sei que não entendes, mas tem que ser desse modo.
Inclinei-me para beijá-lo; um menear de cabeça e entendi. Levou minhas mãos aos lábios e beijou-as com doçura.
- Vai-te, mulher.

Nunca mais o vi. Tentei controlar meu furor uterino. Impossível. A cada dia tornava-me mais insaciável e sabia o porquê. Procurava, inutilmente, em todos aqueles com quem deitava alguma coisa em comum com ele – meu homem. Comecei a chamá-lo assim visto ignorarmos o nome um do outro. Tinha certeza que para ele eu era sua mulher.

Ao voltar para casa após uma orgia, era noite de inverno quase ninguém na rua, bateu-me no rosto uma folha de jornal que rodopiava ao sabor do vento. Antes de amassá-la dei uma olhada no noticiário, só havia reportagens sobre desastres e crimes passionais. No fundo, discreta nota comentava uma série de assassinatos ocorridos no sul do País. Pequeno detalhe fez-me voltar aos homicídios. As vítimas eram todas mulheres curiosamente asfixiadas pelas próprias línguas durante o ato sexual.

Continuo meu périplo amoroso. Relaciono-me, promíscua, com vários homens num mesmo dia. Volto para casa muito cansada, jamais saciada.
Ainda mantenho a esperança de reencontrar meu homem. Preciso provar daquele êxtase supremo, nem que para isso pague com a vida.


02/09/02
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