Vou voltar para casa. É tarde agora e sempre foi. Olhos tristonhos de bicho gordo, perdido no marizonte. Quando não se sabe o que esperar tudo demora mais. A casa vem a mim diferente do que é, que não sei de talvez nunca. Pequeno serão noturno e primavera, primeira estação. A casa vem à memória cifrada, em pauta de música que de memória parece muito igual ao que recordo. Ocaso da casa o caso. Na memória já se esvai, caracol. Preciso voltar.
É tarde. Tarde demais, retirante avessado? Vai. Veste asa, faz outra mala e saca, retorna. O mesmo caminho ao contrário se acelera. Parte, parto, vou. É tarde para voltar, ó mar? Para o mar nunca é tarde. Em ondas tudo se propaga, até a vida da casa.
A casa ou cova. Rasa. Chega de mar, quanto mar. O eterno... Que me embale balé de baile fúnebre. O mar navega em braile, tateia a terra que não domina. Quando do teu cal não são cinzas de funeral? Responde ou engole, traga com tuas vagas as chagas que me admiram como aqueles grandes olhos redondos em casa. A casa ou cova. Por tua terra ou mar remoto eu devagar, de mar e onda assim vou chegando. Ao lar ilhado, minado nos espelhos com retratos passados do que sou.
Mas não posso voltar. Eu sonho porque me embalam águas de um funeral. Não posso, oscilante sepulcro, casa. O lar me zanga, contamina, lar oficina terror. Xinga-me e chuta, morada astuta que míngua seu senhor. Eu perdi, casa. Todo o direito que me reste vá nesta prece, não mereço-te! Queria te desposar em paz, como pude jamais, e te fazer filhos nas tebas do litoral. Mas me expulsas, odeia, e não te posso suportar. Não a ti, casa, que me espia de adaga nas trevas do meu próprio lar!
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