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Artigos-->A formação da Personalidade segundo a Psicanálise, o Behavio -- 05/04/2007 - 05:12 (ALZENIR M. A. RABELO MENDES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A formação da Personalidade segundo a Psicanálise, o Behaviorismo e o Humanismo



Por Maria Alzenir Alves Rabelo Mendes



Especialista em Didática e Docência do Ensino Superior



A posição conciliadora vem mostrar o ser humano como se formando e se construindo à medida que interage com o mundo, exerce e recebe influências em sua constituição física, mental e sócio-emocional e ao mesmo tempo interpreta, modifica, reforma o ambiente em seus próprios termos e de acordo com suas intenções.

(GUENTHER, 1997)





O homem difere dos animais porque não é regido unicamente por seu biologismo. Seus atos ordenam-se pelo raciocínio que está vinculado às experiências acumuladas no decorrer do processo histórico-social. Essa distinção, para as teorias sociais e ambientalistas, é o resultado de um processo evolutivo e da influência do meio. Logo, a formação da personalidade processa-se nas relações estabelecidas com outros seres humanos. Embora seja verdadeiro que os motivos biológicos incidem sobre a personalidade, estes não são determinantes daquela. Uma vez que os fatores externos influenciam o comportamento humano, distinguindo-o dos demais seres vivos. Dentre outros, citamos o aprimoramento das aptidões intelectuais, a acumulação de experiências na interação com seus semelhantes, o que implica em interferir e receber interferências do meio social no modo de ser.

Se tomarmos como ponto de partida os estudos de Sigmund Freud sobre como se estrutura a personalidade, veremos que ela ocorre, primeiramente, no nível fisiológico. Pois, segundo Freud, o corpo é a fonte das experiências mentais. No entanto, o postulado encontra-se em discordância com os criacionistas, que vêem o corpo apenas como o receptáculo do sopro divino da vida. E esta, como uma dádiva de um Deus amoroso, de quem o homem herda sua face espiritual ou sua “essência”, que pode ser equiparada ao “self”, formulado pela teoria humanista, de Abraham Maslow. Tais conceitos não são contemplados na teoria psicanalítica (FADIMAN & FRAGER, 1986).

É fato de largo conhecimento que o cérebro absorve e reage aos estímulos externos desde a fase uterina, e que no decorrer da vida tais reações podem ser alteradas ou modificadas. Dado este que serve como base para alguns dos argumentos das Teorias Ambientalistas, que enfatizam a influência do meio na constituição da personalidade. Dentre os que advogam esses postulados têm destaque o Behaviorismo, de Skinner, para quem o homem é uma “caixa vazia”. A partir dessa assertiva, ele desenvolve a proposição de que todo o comportamento é programável e controlável, desde que receba reforços para realizar alguma coisa positiva. Esquecem, porém, os apregoadores dessa teoria que cada indivíduo tem algo que lhe é intrínseco, peculiar, e que o faz único em sua vivência.

Quanto à dinâmica de crescimento psicológico, é evidente que o meio exerce influências sobre o ser. Mas como vincular as ações positivas apenas mediante o recebimento de recompensas externas? Como não considerar as motivações internas, como o amor que move a ação humana para o bem?

Carl Rogers e Abraham Maslow, em atitude contrária às teorias vigentes na primeira metade do século XX, propunham que, mesmo diante de pressões negativas, o ser é capaz de auto-atualização, e de motivar a ações positivas para si e para os outros. A auto-atualização é definida por Maslow como sendo o uso e a exploração plenos de talentos, capacidades e potencialidades . Nas palavras dele:

Eu penso no homem que se auto-atualiza não como um homem comum a quem alguma coisa foi acrescentada, mas sim como o homem comum de quem nada foi tirado. O homem comum é um ser humano completo com poderes e capacidades amortecidos e inibidos. (Maslow em Lowry, 1973. p. 91. apud FADIMAN & FRAGER, 1986. p. 262.)

A teoria humanista hierarquiza as necessidades básicas (fisiológicas e sociais) em uma escala progressiva até atingir o ápice – a auto-atualização - , que corresponde ao que os cristãos denominam com “personificação do amor divino”. Os mentores dessa corrente não aceitavam que o comportamento fosse determinado pelas forças conscientes, subconscientes e inconscientes. Não coadunavam com a premissa de que o ser humano é passivo ou reativo, dominado pelos impulsos biológicos primários, cujo comportamento reage aos estímulos através das operações do reforço e da punição.

Para os humanistas, o desenvolvimento da personalidade saudável sustenta-se na segurança psicológica. Esta é estabelecida na aceitação do indivíduo como de valor incondicional. E da existência de um clima em que a avaliação externa esteja ausente, onde exista compreensão empática e liberdade psicológica, que significa permitir ao indivíduo liberdade de expressão simbólica, favorecendo a abertura e o jogo espontâneo de percepções, conceitos e significados (ALENCAR, 2001).

Maslow põe em relevo os aspectos positivos a serem explorados e estimulados durante o desenvolvimento da personalidade. Freud, em atitude oposta, põe em relevo “sexo e agressão” como sendo os instintos básicos que regem o ser humano e determinam suas ações. Tais instintos, no entanto, mesmo sendo básicos, podem ser negativos se não forem bem trabalhados.

Os conceitos explicitados por Freud não são totalmente invalidados. Porém, como ocorre a conceitos de outras teorias, não podem ser tomados como verdade absoluta e perene. Pois, além de apresentar a personalidade como uma estrutura estática, colocam o homem no mesmo nível dos animais inferiores. O desenvolvimento da personalidade, por outro lado, é mutável e flexível à ação do meio (geográfico, cultural, social) que exerce influência sobre a pessoa. Porém, se a influência externa for negativa é necessário que haja um investimento contínuo no ser humano a fim de reverter os possíveis danos, principalmente, quando se tratar de adolescentes, cujas potencialidades e qualidades devem ser desenvolvidas de modo a distingui-los sempre dos animais irracionais.

Esse investimento deve ser feito, em primeiro lugar, pela família, fonte maior de amparo físico, psíquico e moral, e mantenedora das necessidades básicas das crianças e dos adolescentes. Em segundo lugar, pela escola que não deve se limitar à transmissão de conteúdos ou à reprodução de modelos e de concepções sobre o mundo. O ambiente escolar, em uma perspectiva tradicional, porém positiva, deve fornecer ao aluno um quadro referencial - de conhecimentos e valores, destinado a “guiá-lo e a transformar-se em alegria, em elevação num desabrochar da sua própria personalidade” (SNYDERS, apud SILVA, 1995, p. 16). É por meio da autoridade conferida à escola, aos professores e pedagogos que a sociedade espera o aprimoramento psicológico e intelectual das crianças e dos jovens, mesmo daqueles oriundos de famílias problemáticas ou extremamente pobres.

Em tais circunstâncias, torna-se difícil a aquisição do conhecimento especializado, principalmente nas áreas mais concorridas, o que delimita universo intelectual do jovem. Com suas potencialidades limitadas, vivendo como uma máquina, produzindo apenas para se reabastecer e continuar a trabalhar, pode ocorrer, ao ser em formação, o esfacelamento dos seus objetivos maiores e o começo de um processo “corrosivo” na estrutura de sua personalidade.

Mesmo assim, se houver uma família e uma escola atenta que lhe preste apoio, ele terá condições de continuar a lutar para o alcance de metas e para permanecer íntegro aos seus princípios. Infelizmente, para muitos, além de não existir condições adequadas de trabalho, não existe família, nem instituições preocupadas com a formação do ser humano. Muitas delas têm visado mais a preparação de mão-de-obra, a “formação de profissionais qualificados para o mercado” do que seres plenos de si para o mundo.

Em circunstâncias adversas, o ser humano pode parecer, ou ficar semelhante à “caixa vazia” de que falam os Behavioristas. Neste caso, não ao nascer, mas ao se deparar com o mundo e suas influências negativas. O jovem, a aparente “caixa vazia”, poderá sofrer desestruturação em sua personalidade, absorvendo as negatividades, como a ganância, o egoísmo e a insensibilidade diante dos problemas alheios.

Em uma perspectiva espiritualista, acima de orientação religiosa, a integridade do ser é mantida pela fé em algo superior que o sustenta. A fé move-o para longe das práticas destrutivas, evitando a degeneração de sua personalidade e contribuindo para o processo contínuo do crescimento psicológico.

Nesse ponto, o espiritualismo, não dogmático, e a teoria humanista aproximam-se quanto ao reconhecimento dos motivos internos que promovem o crescimento e o desenvolvimento de uma personalidade saudável.

Quanto aos obstáculos ao crescimento, o Behaviorismo propõe que o medo não nos permite arriscar a fazer algo que talvez tenhamos condições de realizar. Vale lembrar que o medo não surge repentinamente, sua manifestação ocorre ainda em fases bem anteriores a nossa capacidade de compreendê-lo. E quando o compreendemos, muitas vezes, já estamos condicionados a ele, e não conseguimos nos libertar. É como se fosse um carcereiro muito perverso, reduzindo-nos a nada, fazendo-nos pensar que precisamos de alguém mais forte que nos proteja, mesmo que esse alguém nos faça sofrer.

Freud aponta, como sendo um dos obstáculos ao crescimento, a ansiedade. E como mecanismos de defesa, a repressão, a negação, a racionalizaçao, a formação reativa, o isolamento, a projeção e regressão. Mas como negar que o medo nos leva a esse estado ansioso e a lançar mão de meios, ou “mecanismos de defesa” para lidar ou fugir de situações difíceis.

Outro fator que exerce efeito negativo para o crescimento psicológico é o que os Behavioristas denominam de “punidores físicos”, que disfarçados em “disciplina” causam transtornos emocionais às crianças sob o domínio de pais violentos. A violência, disfarçada ou declarada, as ensina a mentir, a criar situações indesejadas por medo de serem severamente castigadas, além de instalar nelas o medo que, aos poucos, se estende para outras áreas, deixando-as com pouca auto confiança, ou mesmo sem possuí-la.

Já a teoria humanista prefere apontar os fatores que contribuem para o crescimento individual, como por exemplo, o amor incondicional, que queremos para nós, mas que damos sob condições. Queremos o melhor para nós, mas nem sempre estamos dispostos a dar o melhor de nós para os outros, seja do nosso tempo, seja do nosso afeto. E muitas vezes agimos assim, por medo, originado nas mais diversas razões: medo de sermos explorados além dos nossos limites; medo de sermos chamados de bobos, ou de nos apegar demasiadamente a alguém.

Rogers afirma que o indivíduo saudável toma consciência de suas emoções e as manifesta equilibradamente, como: alegria, tristeza, raiva, piedade, revolta, resignação e, especialmente, o amor, que pode e deve ser por si e pelos outros. No entanto, o fato de uma pessoa não estar sempre consciente de suas emoções não implica em doença. Pode ocorrer, em determinados momentos da vida, de uma pessoa está tão sobrecarregada por suas obrigações cotidianas, “automatizada” cada vez mais pela “vida moderna”, que não lhe ocorre se auto-analisar, refletir sobre seus sentimentos e emoções inconscientes, como advoga a teoria psicanalítica de Freud.

Como então definir a natureza da personalidade de pessoas “sadias”? O conceito “é muito relativo. Uma pessoa pode ser temperamental e ser mentalmente sadia. Outra pode ser aparentemente calma e sofrer distúrbios mentais que não a deixam ter reações, nem mesmo quando são agredidas fisicamente.

À primeira vista, parece ser mais fácil identificar um comportamento doentio, anormal ou uma psicopatologia. Termo forte demais para ser aplicado a alguém que apresenta uma discrepância entre o self e o auto-conceito. Não pode ser caracterizada como anormal uma pessoa que é intelectualmente capaz, mas que não se sente segura quanto às suas potencialidades. Ela, a “anormal”, apenas não despertou, ainda, para si mesma.

O chamado comportamento anormal tem sido definido por uma série de sintomas que a pessoa manifesta, como: incapacidade de desenvolver atividades criativas; desordem mental e motora; distanciamento da realidade; incapacidade de administrar a própria vida; ausência de sentimentos afetivos; agressividade excessiva e atitude incoerente para com o meio e para com o momento vivido.

Esse comportamento pode ser modificado, principalmente, se for detectado na infância. Sua mudança acontecerá, ou não, dependendo do tratamento que lhe for dispensado. Além da assistência de profissionais qualificados para o caso é necessário que lhe seja dado amor incondicional. O “doente” precisa ter a certeza da presença constante (mesmo nos momentos de ausência física) da mãe ou da pessoa responsável por ele. Isso fará com que a estrutura psíquica e física se organize e desenvolva de maneira saudável.

São muitos os fatores que contribuem para o desencadeamento de anormalidades. O problema pode ser genético ou apenas de ordem emocional, causado por fatores externos como a perda de entes queridos, traumas vividos na infância, ou conseqüência de acidentes que tenham danificado alguma parte do cérebro. A “anormalidade” pode ser também resultante da rejeição da família ou da sociedade, por causa de algum ato repreensível que a pessoa tenha praticado e que a tenha banido do seu meio social.

Uma pessoa com dificuldades psicológicas não é necessariamente um doente mental, podendo ser ajudada por meio de terapias de grupos, onde em contato com outros que enfrentam problemas semelhantes aos seus, verá que a sua “anormalidade” é transitória e que assim como os outros também se recuperará.

Nesse particular é interessante que a abordagem para o tratamento não se restrinja ao presente, que busque também no passado individual e coletivo os possíveis fatores que estejam vinculados ao problema. Pois o presente, em muitos casos, é apenas o reflexo dos problemas vividos e não resolvidos que, numa seqüência somatória, se avultam em um dado momento de crise. Torna-se de vital importância fazer uma retomada dos eventos passados, para que o presente possa ser compreendido.

Todas as teorias que se pautam pela compreensão da formação e da estrutura da personalidade apresentam proposições e métodos válidos, mas que isoladamente não produzem resultados satisfatórios. É necessário que haja a disposição em ajudar, motivada pelo amor ao ser humano. O crescimento psicológico não se dará por recompensas externas, e sim pela motivação interna que resultará em recompensa, também interna, e que se exteriorizará através das ações concretas. Isto sim é o que produzirá efeito positivo para as pessoas, no plano individual e, conseqüentemente, para a vida em sociedade.

Em suma, o que se infere desse estudo sobre a formação da personalidade é que a Psicanálise, o Behaviorismo e o Humanismo exploram a natureza do ser humano, realisticamente. A primeira teoria pauta-se pela sondagem dos aspectos recônditos da mente, sem negar o nível fisiológico e os instintos como parte da estrutura da personalidade; a segunda considera a mutabilidade da personalidade e a influência do meio sobre a mesma; e a terceira teoria apresenta o ser tal como ele é, com virtudes e defeitos, e com potencialidades a serem continuamente exploradas durante o processo de auto-atualização e construção do self.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ALENCAR, Eunice Soriano. Educação criadora: necessidade e desafio In: Criatividade e educação dos superdotados. Petrópolis – RJ., Vozes, 2001. Cap. 2.

FADIMAN & FRAGER. Teorias de Personalidade. (Trad. Camila de Godoy Pinheiro; Sybil Safdié), São Paulo, Harbra,1986.

GUENTHER, ZENITA C., Educando o ser humano - Uma abordagem da Psicologia Humanista. Mercado das Letras, Campinas, São Paulo, 1997, pp. 141 a 160. Cap. 6.

SILVA, Sônia A. I. Valores em Educação. 3. ed. Petropólis, vozes, 1995.













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