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Artigos-->Meninas:Flores+Espinhos -- 04/10/2010 - 08:59 (Arlindo de Melo Freire) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meninas:Flores+Espinhos





Arlindo Freire



No meio civilizado de épocas diferentes - as coisas também acontecem de forma inesperada, com relação direta, mesmo quando se apresentam sob fortes contradições culturais desafiando os valores sociais com suas dimensões complexas e intrigantes.

Nas vidas de três meninas, infelizmente encontramos a comprovação histórica do cenário para o conhecimento do público, no qual, por acaso temos a presença do indígena, sem qualquer fantasia, indicando que este faz parte, naturalmente da humanidade, apesar de sua exclusão da sociedade.

As três meninas são de períodos e datas que não se combinam, o mesmo acontecendo com os locais em que viveram sob o abandono, desprezo, angústia, dor e sofrimento, além da perseguição e morte, depois de muita resistência, sem condições de obter proteção e defesa até mesmo do incêndio na guerra.

- Quem são essas meninas?!!!

1825 – Após ter visto o assassinato de sua avó Cantofa – com o punhal no peito, no sopé de uma serra em Santana do Matos – RN, porque havia apanhado alguns cajus

em sítio de outra pessoa – a cunhãten = menina Jandí saiu correndo, desesperada e chorando pelas matas, sem deixar rastros ou marcas no tempo e espaço por onde passou.

Naquele ano, Cantofa e Jandí eram duas sobreviventes da matança sistemática feita aos indígenas, iniciada pela colonização portuguesa – mais de 300 anos atrás, visando explorar e dominar as terras em que os índios viviam, sem causar prejuízos

ou expulsão de outros, pois aí eles nasceram e deixaram suas raízes profundas.

No momento em que foi assassinada, Cantofa abraçou a sua neta, ao mesmo tempo em que rezava o Ofício de Nossa Senhora pedindo a proteção para que não fosse morta, quando estava chupando os cajus apanhados do chão para matar a fome, naquele mesmo local.

Jandí conseguiu fugir da presença dos assassinos – gritando como uma louca, em busca de paz, carinho, proteção e segurança, sem destino certo, nem qualquer apoio

de alguém, a exemplo de muitos outros desaparecidos e perseguidos pelos brancos civilizados que estavam na guerra prolongada contra os nativos, desde os anos de 1500 e 1640 em períodos variados.

A história verdadeira e comprovada sobre Jandi+Cantofa deixou de ser escrita, passando a uma lenda conhecida e admirada pela memória popular, para somente depois disso, ficar em livro de crônicas e lendas do prof. Rômulo Wanderley, quando morava com sua família, na rua principal na Feira do Alecrim, da capital potiguar.

1972 – Foi durante a guerra do Vietnam – Ásia que a menina Phan Thi Kim Phuc, no dia 6 de junho-1972, aos 9 anos de idade, saiu queimada, correndo nua, chorando e gritando por socorro, após ter visto a sua família incendiada em casa – pela bomba de Napalm, jogada de avião por soldados dos Estados Unidos, para a destruição da cidade Trang Brang – Vietnam, negada pelo então governo norte-americano.

Hoje em dia,Thi Kim vive no Canadá, 2 filhos – como Embaixadora da Boa Vontade, na companhia de seu marido, sofrendo ainda com as dores que ficaram no seu organismo, por efeito das queimaduras de 65 por cento do corpo, depois de haver passado por 17 cirurgias plásticas e feito o curso de Medicina em Cuba.

Nas suas declarações ao jornal O Estado de S. Paulo – 13.12.2009, a Embaixadora Thi Khim afirmou: “Estive no inferno e percebi que se mantivesse o ódio, nunca sairia dele.”

Na rua principal daquela cidade vietnamita, o fotógrafo Huyung Cong Ut, ao ver e fotografar a cena – foi quem prestou o primeiro socorro, levando a vitima para o hospital em que as enfermeiras disseram não ser possível a sobrevivência, motivo pelo qual foram realizadas 17 cirurgias no espaço de 14 meses, seguidas de outras na Alemanha Oriental.

Com essa foto, Cong Ut ganhou fama internacional – o mesmo ocorrendo com Thi Khim, naquela época e após mais de 30 anos daquela ocorrência em que a Menina Queimada tornou-se o símbolo da guerra em que até mesmo os Estados Unidos, com todo o seu poder – foram derrotados em 1975.

Símbolo da guerra no Vietnam – Menina Nua Queimada chorando, gritando, correndo pelas ruas, de braços levantados, pedindo socorro com toda a sua inocência feminina, sendo vítima do absolutismo norte-americano, sem considerar a dignidade humana, tampouco o direito à vida das crianças e adultos vivendo no seu território!!!

A foto-sena em questão Jamais será esquecida pela humanidade – para que desse modo o direito à vida seja mantido com justiça, dignidade, amor e solidariedade, apesar de tudo e todos que não conseguem reconhecer a grandeza do ser humano de qualquer parte do mundo.

1996 – A terceira Menina estava em Recife – fevereiro de 1996, vivia pelas ruas, como tantas outras, sem condições de sobrevivência, aos 9 anos de idade, dormindo fora de casa, nas calçadas, no meio dos viciados em drogas, recebendo maconha e craque para revenda, pois dessa maneira conseguia algum dinheiro para comer e atender às suas necessidades básicas.

Foi nessas condições que a educadora social Ivanise Machado teve um encontro com Cleyse Maria de Souza, naquele mês-ano, numa das ruas de Recife com a finalidade de proteger a Menina de Rua em questão que estava sob a perseguição de alguém, certamente o fornecedor das drogas esperando receber o valor em dinheiro.

Naquele momento, esse homem apareceu com o revólver apontando para Cleyse, dizendo que estava ali para matá-la de bala, motivo pelo qual Ivanise chorando, enquanto a menina tremia – pediu implorando que ele “não fizesse aquilo, pelo amor de Deus e Nossa Senhora, para que assim as duas não fossem mortas, naquele instante.”

Quando o mesmo marginal ou traficante de drogas percebeu que Ivanise Machado havia posto a menina Cleyse atrás do corpo dela – como medida de amparo e proteção sob o crime que estava em andamento, então o ameaçador guardou a sua arma de fogo e saiu ou foi para outro local, sem executar o assassinato a que estava disposto.

Hoje em dia, Cleyse está com 22 anos de idade, ainda vivendo em Recife, fora das drogas, casada e lutando para melhorar de vida, enquanto a professora Ivanise – 62 anos, dos quais cerca de 40 no trabalho voluntário com os Meninos e Meninas de Rua, continua fazendo o mesmo, desde os anos 60, mediante o apoio de Dom Hélder Câmara – até quando faleceu.

No mistério do silêncio em que vivemos, desde o início da humanidade, AINDA temos as flores e espinhos caracterizados pelas meninas=pessoas que vivem sorrindo e chorando na expectativa da alegria e felicidade, em qualquer circunstância, buscando amor e justiça indispensáveis à vida do ser humano.

Jandí – além de haver perdido a única companhia de sua vida, desapareceu do mundo, sem deixar qualquer referência, a exemplo de inúmeros indígenas que tiveram caminhos semelhantes na “terra dos homens” brancos e civilizados, ricos e poderosos, pelo simples fato de ser indígena.

Os exemplos de Thi Kim, Jandí e Cleyse, bem como de Cantofa e Ivanise asseguram a certeza de que a condição humana foi criada para realizar o seu destino de amor, justiça e paz na linha do tempo Infinito.Fim-01.10.2010.

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