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Contos-->A vítima ainda goza -- 03/10/2002 - 23:25 (Renato Essenfelder) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tuas unhas de destino rasgam-me o corpo, a carne à altura do sentimento. Penetram veias, vasos e artérias, uma saga de atravessar tanto mar. Destaca-me costelas como frutos em cacho, perpassas o medo da solidão à profundidade dos ossos. Que será que buscas?

Aproxima transtornada teu faro de metros, busca, rebusca-se, percorre nada sensual nada alvissareira meu corpo. Que queres? Nada vejo, meus olhos vidrados de desejo viram-te avessas vestes. Nem importo com a chacina. Com meu punhado de costelas pendentes faço ninho, lar para maiores carentes e chamo: podes morar comigo.

Sou presa, mas tu, aqui, estás longe. Predadora, assim convém, não vai se deixar emocionar com meus prantos. Nem nada, escava-me a carne por algo – calor? Parece máquina mas não és, fosse eu comprava. Não sentes mesmo nada? Nem prazer dá rasgar outrem? Monopólio de todo gozo tuas articulações assim nuinhas a bel prazer, pintadas de vermelho rubijuteria. Ai, vendia a alma mas comprava-te.

Não tens suor nem pesar, nem prazer nem nada. Apenas ranger de molas e dentes. Rasga-me. Amor também pode ser ócio, até no rasgar há rotina. Eis o caso. É sobre os pés que nos cravamos desnudos no horizonte praiano, deitados seria impossível – não temos intimidade para tanto. Eu sou inteiro gravidade, mas e tu, que te moves?

Nem única expressão, teus olhos vagos de confundir a polícia, tua boca retilínea militar.
Vez por outra esbarras face à face, acidente calculado. Provocas? Até penso ouvir-te ronronar, mas nada, soturna imaginação. Tudo único meu despedaçado, punhado de órgãos e veias e vasos de flores mortas desprezados ao chão. Que fizeste comigo? Sou pescoço-cabeça, perna-pés, o recheio todo vazado. Nada escapa às tuas unhas de destino.

Não sei qual teu ouro, mas em mim nada achaste. Então depois da matança partes sem remorso ou piedade. Partes ainda sem memória, e depois de destruir-me nem um único sorriso brota da boca geométrica. Terminas e limpas as mãos nos lençóis, a face contraída de espaço, esse teu ar de ar. Tão nada... Até vazia eu te amava. E com o sorriso envergonhado dos desabrigados quis doer mais tempo ao teu lado, mas tua partida se dá sem volver olhar. Tristeza. Que buscavas?

Nada encontraste nos campos dos sonhos passados – eu sou isto aqui e apenas. Nada te incomoda nem abala, o despertador ainda jovem, a lua cheia que mal deitou no céu. É chegada a hora de partires e eu estou ao meio. Se ficasses, ajudava-te a encontrar os filhos, talvez juntos fôssemos algo. Tu és. Apenas uma noite e nada de mim restou, caçadora. Como é triste a partida. Desvalida tu vais, sem prazer mínimo no sorriso cortês. Sem reação ou olhar mistura-se ao horizonte, ao frio que faz em todas as estações atravessadas por ti. Eu, ainda que morto, tenho consolo. Abandonado, todo o prazer restou a mim.
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