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Artigos-->A derrota parlamentar de Chávez -- 11/10/2010 - 09:51 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A DERROTA PARLAMENTAR DE CHÁVEZ



As últimas eleições parlamentares venezuelanas mostraram a crescente impopularidade de Hugo Chávez Frías, um líder populista e demagogo, e um vislumbre de um futuro promissor para o país, repleto de dificuldades, mas também mais perto de uma democracia mais genuína.



Por: Mario Vargas Llosa – Prêmio Nobel de Literatura 2010 – para o jornal espanhol ‘El País’ – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA





Domingo, 10 de outubro de 2010



Caricatura de Nuno



A evidente derrota de Chávez nas eleições parlamentares de domingo, 26 de setembro, é muito mais significativa do que os números eleitorais indicam, pois, ao mesmo tempo em que mostram a crescente impopularidade do líder venezuelano e seu regime comunista, traz ao conhecimento público a manipulação grotesca do voto popular exercitada a priori pelo chavezismo com o fim de transformar em vitória para Chávez aquilo que se esperava ser uma rejeição contundente de suas políticas e pretensões.



E foi sem atenuantes. O comandante Chávez colocou a eleição como se fosse um plebiscito pelo qual o povo da Venezuela legitimaria por sua maioria absoluta o seu "socialismo do século XXI" – que em nada difere da praga comunista de sempre – e seu marqueteiro, Aristóbulo Istúriz, chegou a profetizar, com arrogância: "Podemos perder ganhando, caso não consigamos os dois terços no Congresso Nacional". Pois bem, o resultado menos fraudulento das eleições, a votação nos 12 representantes para o ‘Parlamento Latino-Americano’, deu às forças unificadas da oposição a maioria dos cerca de 400.000 votos.



Esta diferença consistiu, na votação para O Congresso Nacional, em 242.553 votos, pelos “resultados oficiais: de 5.642.553 para 5.399.574", porque lá a engenharia eleitoreira de Chávez, com a cumplicidade de sua força parlamentar e de um Conselho Eleitoral aparelhado, tinha alterado a lei, para dar uma representação gigantesca às circunscrições rurais, onde o caudilho tem forte influência, e diminuir essa representação nas áreas urbanas, onde a oposição é a maioria. Calculou-se que com essa desproporção fajuta o regime comunista de Hugo Chávez necessitaria de apenas 30.000 votos para obter um deputado, portanto, era o que a ‘Mesa de Unidade Democrática’ exige, ou seja, 140.000 votos.



Isso explica por que a oposição, tendo conquistado 52% dos votos, tem apenas 65 deputados, e Chávez, com 98, apesar atingindo apenas 48%. Estes são os milagres matemáticos produzidos pelo ‘socialismo do século XXI’. Não admira que, para divulgar esses dados, o Conselho Nacional Eleitoral tenha levado oito horas a mais que o esperado para fazê-lo e que Chávez, como sempre, tão verborrágico, tenha emudecido por quase 24 horas antes de sair para enfrentar a imprensa. Desta vez, ele não se atreveu a dizer – como disse em dezembro de 2007 (quando o povo venezuelano rejeitou sua reforma constitucional) – que a vitória da oposição foi "uma vitória de merda". Ao invés de receber com alarde o resultado, escondeu seu semblante mal humorado, e mal agradeceu ao "povo revolucionário" pela "vitória" a ele concedida.



Um aspecto interessante da consulta é que os estados mais castigados pelo líder (por terem anteriormente eleito governadores e prefeitos hostis ao regime) pelo corte de recursos orçamentários, por cancelamento de programas sociais, pela cassação – por vezes encarceramento – de suas autoridades, em vez de se sentirem intimidados, intensificaram e redobraram sua oposição a Chávez e suas medidas comunistas. Isso aconteceu em Miranda, Táchira e Zulia, e até na própria Caracas, em cujo distrito da capital a oposição derrotou o partido do governo, pela primeira vez em 12 anos de votos forçados pelo sistema eleitoral imposto pelo regime.



Com 65 deputados na Assembléia Nacional, a oposição terá força suficiente para travar as reformas constitucionais que Chávez prepara para impor um estado comunista de ‘direito’, porque para tal são necessários os dois terços de maioria mais um que o mandatário ambicionava, mas que o povo não lhe concedeu pelo voto. Se o tivesse conseguido, de certo aceleraria a completa estatização da economia, e acabaria de vez com a imprensa e a mídia de rádio e TV privada e independente, fechando assim os espaços e limitando as críticas remanescentes, tanto nas áreas política, sindical, social e cultural.



O avanço do regime rumo ao modelo cubano de ditadura total marxista-leninista, terá muito mais muitos mais obstáculos a vencer, agora que o povo da Venezuela descobriu que, com o simples ato civilizado de votar, pode levar uma séria advertência a um governo em cujo prontuário consta haver convertido a Venezuela no país com a maior inflação da América Latina, com a maior taxa de criminalidade, com um estado dos mais corruptos e ineficientes do planeta e onde o colapso dos padrões de vida de setores da classe média e popular é mais rapidamente sentido. Com todo o seu petróleo, este ano, a Venezuela será o único país latino-americano com crescimento negativo.



As forças da oposição a Chávez não devem cantar vitória nem se deixarem iludir por este excelente resultado nas urnas. Nem voltar a cometer erros como o de 2005, quando, ao se absterem de participar do processo eleitoral, deram a Chávez um Congresso servil e autômato (a ‘Casa da Focas’) durante todos estes anos, não passando de um poder legislativo dócil e eficiente para dar aspecto de lei aos ultrajes constitucionais do comandante.



É imperativo que a união dos partidos, movimentos e pessoas da oposição, que é a Mesa de Unidade Democrática, se mantenha e se afiance, pois, desta forma, continuará a ganhar terreno e a acrescentar às suas fileiras os venezuelanos que, oprimidos ou assustados com as represálias por parte do Estado, deixaram de participar do processo eleitoral. Para muitos desses abstencionistas céticos abstêmios, a vitória eleitoral da resistência tem que tê-los de algum modo sacudido e mostrado que ainda há razões para se ter esperança.



Quando o que está em jogo é a liberdade de um povo, o risco de que o obscurantismo de uma ditadura comunista se abater sobre ele e sem poder dela sair, quem sabe, por quarenta, cinqüenta anos ou mais – os cubanos sofrem com esse tipo de ditadura marxista há mais de meio século e a Rússia permaneceu no atraso soviético por mais de setenta anos – deve fazer com que as pequenas rivalidades de doutrina, ou de matiz individual desapareçam de modo a não enfraquecer a primeira das prioridades: resistir ao projeto autoritário de um líder e demagogo que afundou a Venezuela na pobreza, na violência e no caos e que poderá prosseguir com sua ideologia destrutiva a desenvolver novas formas infames de loucuras ideológicas.



Critica-se a oposição venezuelana por carecer de líderes, não ter à frente figuras carismáticas que arrebatem as massas. Mas, como se pode ainda acreditar em caudilhos populistas e demagogos? Por acaso não têm sido eles um bando de palhaços horrorosos com suas mãos manchadas de sangue, inflados de vaidade pelo servilismo e adulação que os rodeiam, senão a relação dos piores desastres na América Latina e no mundo?



A simples existência de um caudilho carismático e autoritário pressupõe sempre a abdicação da vontade, do livre arbítrio, do espírito criativo e da racionalidade de todo um povo em prol de um indivíduo a quem reconhecem como um superior, mais bem dotado para decidir o que é bom e o que é ruim para todo o país em matéria econômica, política, cultural, social, científica, e assim por diante. Será isso que se quer? Deverá vir então um novo Chávez para livrar a Venezuela do Chávez de hoje?



Eu discordo. Estou convencido de que a América Latina só será verdadeiramente democrática, sem reversão possível, quando a grande maioria dos latino-americanos estiver vacinada e imunizada contra a idéia sempre irracional, primitiva, em desacordo com a cultura da liberdade, de que só um super-homem pode governar de forma eficaz e com acerto sobre as mediocridades que todos nós somos, o resto dos seres humanos, os rebanhos que precisam de bons pastores que os conduzam pelo caminho devido.



Os venezuelanos acreditaram nisso e quando apareceu o comandante de outrora, com a voz tonitruante de seus desplantes bolivarianos e seus monólogos mirabolantes, o povo votou maciçamente nele, descrente da democracia. E assim seguiu, e pagaram muito caro pela ingenuidade e credulidade sem fundamento. Agora eles aprenderam a lição e uma das coisas boas que estão fazendo, enquanto corajosamente enfrentam a semi-ditadura chavezista fantasiada de democracia, é ter renunciado de vez aos caudilhos populistas e demagogos. Eles agora têm dirigentes que merecem respeito, não adoração ou culto religioso, pois trabalham em equipe, buscam consensos, e fazem arranjos e acordos através do diálogo e da persuasão, ou seja, começam a praticar a ‘cultura democrática’ que se tornará forte na terra de Bolívar, quando o Comandante Chávez não for mais do que uma daquelas figuras sombrias e indistintas de uma tradição de vergonha e de atraso.



Os próximos meses e anos que a Venezuela tem pela frente não serão fáceis. O regime já foi longe demais na construção de estruturas ditatoriais e muita gente já prospera dentro delas, para que Chávez, acatando a vontade do povo, retifique sua política e se mostre disposto sair do poder se assim as urnas decidirem. O perigo maior é o de que, após esta sova legal e pacífica das urnas, ele se enraiveça e tente obter através de manobras e intimidação repressiva, aquilo que não foi capaz de obter através das urnas. E venha instalar a censura, à força, assim como a liquidação da imprensa não alinhada com o regime, a abolição de todas as formas de oposição política e a nacionalização generalizada da economia. Não vai ser fácil para ele, é claro. Já perdeu o estado de graça de líder messiânico que gozava de alguns anos para agora e não só ele, mas, também, o povo venezuelano já sabe que é falível e vulnerável. Avizinha-se um período tenso, durante o qual, novamente, como há dois séculos, será decidido em solo venezuelano o futuro da liberdade em toda a América Latina.



© Mario Vargas Llosa, 2010. © Direitos mundiais de imprensa em todas as línguas reservados a Edições ‘EL PAIS’, SL, 2010.





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